|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Oportunidade para a cidade
REGINA MEYER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Saber que o município de São
Paulo possui hoje 93 milhões
de metros quadrados classificados na categoria técnica de
"terrenos vagos" é uma informação surpreendente e
auspiciosa.
A urbanização contínua e generalizada da imensa mancha
metropolitana é um fato verificável e qualquer dado que ainda
aponte para possíveis negociações na forma como o território
está sendo transformado é
alentadora.
Uma avaliação rápida do número de "terrenos vagos" oferece nova dimensão para o dado: os no seu conjunto, que é
heterogêneo e precisa ser tratado nas suas especificidades,
correspondem a 60 parques
com as dimensões do parque
Ibirapuera.
Representa, se ocupados por
áreas verdes, só para dar um
exemplo entre outras funções,
uma mudança profunda na vida cotidiana de seus habitantes.
Seria uma oportunidade de
ver nascer praças, pequenos
parques, áreas de recreação,
equipamentos públicos, de todos os portes em todos os bairros, centrais e periféricos da
cidade.
Porém, estes preciosos 93
km2 não estão disponíveis, pois
possuem proprietários legítimos que darão a eles o destino
que mais satisfizer seus interesses. Portanto, a possibilidade de aumentar a relação entre
o número de metros quadrados
de área verde por habitante,
que organismos internacionais
fixam em 12 m2, não se mostra,
aparentemente, muito viável.
Avaliações da década de 80 já
indicavam que contávamos
com pouco mais de 3 m2 por
habitante. Voltando à realidade
do número, seria necessário saber quantos destes 93 km2 pertencem ao município, ou poderiam ser por ele adquiridos
apoiado no Estatuto da Cidade
de 2001 quando estabelece o
princípio do valor social da
propriedade.
A evolução urbana das cidades brasileiras mostra que em
outros estágios utilizamos para
designar o mesmo objeto o termo "espaço baldio".
O que distinguiria o "terreno
baldio" e o "terreno vago"? Arriscando uma distinção simples penso que o "terreno baldio" remetia à uma ausência de utilidade imediata e, o "terreno
vago" à promessa de uma incorporação e ocupação ditada
pela cidade enquanto estrutura
produtiva. Em ambos a questão da especulação imobiliária
está implícita.
São Paulo fecha seu ciclo de
metrópole industrial com possibilidade de rever seu espaço
intra-urbano. Para isso é indispensável aperfeiçoar os instrumentos de uso do solo urbano
capazes de garantir uma trégua
no processo irracional de ocupação, sobretudo para as estratégicas propriedades localizadas nos bairros centrais de origem industrial. Quem sabe se a
proposição de projetos urbanísticos, mesmo que pareçam
utópicos à primeira vista, não
seja uma contribuição indispensável para abordar essas reservas urbanas que são os "terrenos vagos"?
REGINA MEYER , arquiteta e professora titular
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
USP, coordena o Laboratório de Urbanismo da
Metrópole (LUME)
Texto Anterior: Artigo: Parceiros na revitalização Próximo Texto: Mortes Índice
|