São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008

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País reduz repetência, mas continua entre os piores, diz Unesco

Relatório mostra que, de 1999 a 2005, índice de reprovação no ensino fundamental caiu de 24% para 19%; média mundial é de 3%

Entre 150 nações comparadas no estudo, apenas Nepal, Suriname e 12 países africanos têm repetência maior que a brasileira

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil conseguiu reduzir a reprovação no ensino fundamental entre 1999 e 2005, mas a melhoria não tirou o país de uma situação incômoda: entre 150 nações comparadas num estudo que será divulgado pela Unesco hoje, apenas Nepal, Suriname e 12 países africanos têm repetência maior.
Segundo o relatório anual da entidade que monitora o grau de cumprimento das metas traçadas em 2000 na Conferência Mundial de Educação, o Brasil conseguiu reduzir sua repetência de 24% para 19%.
O patamar é elevado quando confrontado com a média mundial (3%) ou mesmo com a África subsaariana (13%), região mais pobre do mundo.
Taxas altas de repetência não resultaram, no caso do Brasil, em melhoria do aprendizado.
O relatório lembra que mais de 60% dos alunos brasileiros não conseguiram passar do nível básico de aprendizado na escala da prova de ciências do Pisa (exame que compara os estudantes em 57 países).
"Nossa taxa de repetência ainda é alta", diz a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar.
A representante do governo Lula afirma que a situação melhorará devido ao Ideb (índice criado pelo governo para monitorar o desempenho das redes, que alia resultados dos exames dos alunos da Prova Brasil e as taxas de aprovação desses estudantes).
"O MEC provocou a reflexão na rede, de conjugar aprendizagem com fluxo interessante."

Desgaste
Professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), Ocimar Munhoz Alavarse diz que a taxa de reprovação é "alarmante". "Com a repetência, a criança perde o convívio com os colegas e fica com a pecha de repetente. Isso só prejudica", afirma.
"Após ser reprovado, o aluno tem de refazer o mesmo ano, no mesmo formato. A chance de ele aprender é pequena", diz o coordenador-geral da ONG Ação Educativa, Sérgio Haddad.
A professora da Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília) Regina Vinhaes Gracindo afirma que "em muitos países do mundo, como o Japão, nem existe repetência. A criança entra na turma da sua idade, e a escola precisa oferecer a aprendizagem".
Para Gracindo, que é do Conselho Nacional de Educação, a repetência cairá com a melhora do ensino. "Isso requer docentes bem remunerados e melhores condições materiais."
A alta repetência é o maior entrave para a melhoria do Brasil no Índice de Desenvolvimento da Educação, que faz um ranking de países segundo o cumprimento das metas estipuladas em 2000. O país ficou na 80ª posição entre 129 para os quais foi possível calculá-lo. Há quatro anos, a posição brasileira era a 72ª em 127 nações.
O índice é composto de quatro dimensões: acesso à escola, desigualdade de gênero, analfabetismo adulto e qualidade.
Esse último fator é avaliado pelo percentual de alunos que completam ao menos quatro anos de educação formal. Nesse aspecto, o Brasil cai da 80ª para a 99ª posição. Já quando se trata apenas de acesso à escola, sobe para 59ª.
As metas estipuladas são: ampliar a educação e a assistência à primeira infância; garantir o ensino primário gratuito e obrigatório; promover aprendizagem e habilidades para a vida; aumentar em 50% a alfabetização de adultos; alcançar a igualdade de gêneros; e assegurar a qualidade em todos os níveis de ensino.


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