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depoimento
Em SP, crianças brincavam de contar corpos
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Já vi meninas de dez anos
oferecendo o corpo por R$ 5
no Acre, já vi meninos de
quatro anos trabalhando
num garimpo de Rondônia,
mas a coisa mais violenta que
já vi crianças fazendo ocorreu no Jardim Ângela, no extremo da zona sul.
Chamavam de brincadeira. Acordavam bem cedo e
saíam à procura de cadáveres
à beira da represa de Guarapiranga -um menino de 12
anos se dizia o recordista: encontrara três numa manhã.
O episódio ocorreu no final
dos anos 90, quando São
Paulo batia recordes de mortes violentas e o Jardim Ângela era o pior dos mundos.
Tão ou mais impressionante do que o jogo infantil
era a ausência de reação de
pais e vizinhos. Só o convívio
diário com a violência pode
explicar essa indiferença.
Em 1999, o Estado de São
Paulo bateu o recorde histórico de homicídios intencionais. Foram 12.818 mortes
nessa categoria -em 2008, o
número recuou para 4.426.
Naquele ano, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no Jardim Ângela foi
de 116, similar à de Cali, na
Colômbia, onde o narcotráfico instaurou uma guerra civil. No Jardim Ângela, também havia traficantes, mas o
maior número de mortes era
relacionado a vinganças banais ou encomendas de comerciantes contra ladrões.
Com a melhora econômica
e ação da polícia e de ONGs, a
taxa caiu -em 2007, foram
26,6 mortos por 100 mil.
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