São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009

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depoimento

Em SP, crianças brincavam de contar corpos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Já vi meninas de dez anos oferecendo o corpo por R$ 5 no Acre, já vi meninos de quatro anos trabalhando num garimpo de Rondônia, mas a coisa mais violenta que já vi crianças fazendo ocorreu no Jardim Ângela, no extremo da zona sul.
Chamavam de brincadeira. Acordavam bem cedo e saíam à procura de cadáveres à beira da represa de Guarapiranga -um menino de 12 anos se dizia o recordista: encontrara três numa manhã. O episódio ocorreu no final dos anos 90, quando São Paulo batia recordes de mortes violentas e o Jardim Ângela era o pior dos mundos.
Tão ou mais impressionante do que o jogo infantil era a ausência de reação de pais e vizinhos. Só o convívio diário com a violência pode explicar essa indiferença. Em 1999, o Estado de São Paulo bateu o recorde histórico de homicídios intencionais. Foram 12.818 mortes nessa categoria -em 2008, o número recuou para 4.426.
Naquele ano, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no Jardim Ângela foi de 116, similar à de Cali, na Colômbia, onde o narcotráfico instaurou uma guerra civil. No Jardim Ângela, também havia traficantes, mas o maior número de mortes era relacionado a vinganças banais ou encomendas de comerciantes contra ladrões.
Com a melhora econômica e ação da polícia e de ONGs, a taxa caiu -em 2007, foram 26,6 mortos por 100 mil.


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