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Falta de controlador agora atinge o Cindacta-2
Esse centro é responsável pelo tráfego aéreo no Sul e em metade de São Paulo
Na madrugada do último sábado, o Cindacta-2, em Curitiba, tinha apenas nove controladores, quando o mínimo necessário são 16
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Inocentado de culpa no episódio mais grave e recente do
apagão aéreo, o controle de tráfego aéreo esconde surpresas
desagradáveis que podem deflagrar uma nova crise no setor.
Com os esforços voltados para
conter a insubordinação no
Cindacta-1, em Brasília, a Aeronáutica ignorou as pressões e
carências que se acumulam no
Cindacta-2, em Curitiba, que
agravou o caos do final de semana nos aeroportos.
Nesse centro, responsável
por todo tráfego aéreo da região
Sul e metade de São Paulo, há
falta de controladores. No auge
do caos, na noite da última sexta-feira, o centro operou com
12 controladores. Na madrugada de sábado, ficou com apenas
nove. O mínimo para operar
dentro do "normal" são 16 controladores, dois para cada um
dos oito "setores" do espaço
monitorado.
O resultado foi o controle de
fluxo durante a madrugada, especialmente em Guarulhos,
Congonhas e Porto Alegre.
Nos dias anteriores, a escala
também estava limitada, com
14 ou 15 profissionais. Isso causou, em alguns momentos, o
agrupamento de setores aéreos, o que reduz pela metade a
capacidade de monitorar
aviões em determinada região.
Fora isso, o caos ligado às
chuvas e à TAM dificultou trabalhos e alguns setores ficaram
com até cinco aviões "em órbita", fazendo voltas até obter autorização para seguir adiante.
Na quarta, o vôo TAM 3052,
que fazia o trecho de Porto Alegre para Congonhas, se recusou
a fazer essa órbita e ameaçou a
segurança de outros aviões
quando teve de realizar voltas
em outro local do espaço aéreo.
A Folha teve acesso a registros
que documentam esses dados.
A Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) confirmou apenas uma hora de controle de
fluxo nesse período.
Além disso, crescem as queixas de equipamento precário e
pressões psicológicas que podem colocar a segurança aérea
em risco.
O aperto na escala, segundo
profissionais de Curitiba, não
permite os descansos regulamentares e afeta a concentração. O Comando da Aeronáutica nega dificuldades estruturais no Cindacta-2.
Curitiba também já adotou a
operação-padrão, no qual o fluxo de aviões é limitado de acordo com as normas de segurança internacionais. O movimento começou em Brasília, após o
acidente do vôo 1907, que deixou 154 mortos em 29 de setembro, e foi sentido nos aeroportos no feriado de Finados.
Depois de dois aquartelamentos, queda de comando,
ameaças, panes de equipamento e inquéritos, a Aeronáutica
anunciou a normalização do
Cindacta-1.
Além do endurecimento interno, o governo finalmente
transferiu dezenas de controladores de outros Estados para
Brasília. E já estuda transferir
partes do espaço aéreo controlado na capital para outros centros: Cindacta-2 (Curitiba), Cindacta-3 (Recife) e Cindacta-4 (Manaus).
Segundo controladores, negociações sobre uma gratificação salarial estão em curso, mas não serão aceitas sem o
compromisso da desmilitarização da carreira. A Aeronáutica
nega as negociações e avalia
que o problema "já passou".
"Em Brasília, já conseguimos
todos os controladores que
precisamos. Temos até stand-by. O que aconteceu foi um
problema emocional, que já foi
ultrapassado como tempo. O
grupo está homogêneo e cooperativo", disse à Folha o comandante de Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, na
semana passada.
A assessoria de imprensa da
TAM informou que a empresa
não tinha até a tarde de ontem
registro sobre incidentes com
seu vôo 3052 na última quarta-feira. Ela disse que a informação só poderia ser confirmada pelo piloto da aeronave, com
quem ela não havia conseguido
contato até a conclusão desta
edição.
Colaborou ALENCAR IZIDORO , da Reportagem
Local
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