São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2002

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VIOLÊNCIA

Francisco José Lins do Rego Santos, que investigava a máfia dos combustíveis, foi morto na tarde de ontem no centro de Belo Horizonte

Promotor é assassinado a tiros em Minas

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O promotor de Justiça da Vara de Defesa do Consumidor de Belo Horizonte Francisco José Lins do Rego Santos, 43, foi assassinado a tiros no início da tarde de ontem, momentos depois de parar seu carro no sinal de trânsito de uma movimentada rua da região sul da capital mineira.
De acordo com testemunhas, uma motocicleta branca que transportava dois homens -a placa estaria coberta com fita adesiva- emparelhou com o carro de Santos, um Golf verde, ano 1996, momento em que o ocupante da garupa teria sacado uma arma e disparado vários tiros.
O crime ocorreu em um dos cruzamentos do bairro Cidade Jardim, área nobre da cidade. A moto saiu em disparada em direção ao centro da cidade e, até a conclusão desta edição, não havia pistas sobre os assassinos.
A principal suspeita levantada ontem é a de que o promotor teria sido morto devido à sua atuação na apuração da existência de uma suposta máfia que estaria adulterando combustível em Minas.
O assassinato mobilizou as polícias Civil e Militar, que cercaram as saídas da cidade e fizeram operações em algumas favelas.
No local do crime, foram encontradas 16 cápsulas, provavelmente disparadas de uma pistola automática. No corpo do promotor havia pelo menos cinco perfurações visíveis, no rosto, pescoço, peito e braços.
O governador Itamar Franco (PMDB), que estava ontem em São Paulo, antecipou sua volta à cidade e se reuniria durante a noite com o comando das polícias e com representantes do Ministério Público. Por determinação do superintendente da Polícia Federal, Agílio Monteiro, a PF também vai investigar o caso.
Devido à atuação do Ministério Público, mais de 20 postos de gasolina foram fechados no ano passado na Grande Belo Horizonte. No início do mês, oito pessoas que fariam parte da quadrilha tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça, mas não foram presas -ou por estarem foragidas ou por terem conseguido o relaxamento da prisão.
Segundo a promotoria, a principal suspeita sobre o que teria motivado o crime recai sobre a atuação do promotor nessa investigação: "Essa deve ser a linha de apuração para que possamos identificar os autores desse crime", disse o procurador-geral do Estado, Nedens Ulisses Freire Vieira.
Segundo ele, já foi garantida proteção policial aos outros sete promotores que fazem parte do grupo que investiga os combustíveis adulterados. A promotoria designou também vários promotores e procuradores para acompanhar e participar das investigações policiais.
Santos também trabalhava em casos de falsificação de remédios, de propaganda enganosa, e fez parte do grupo de promotores que investiga uma possível facilitação na fuga do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, de uma das carceragens da Polícia Civil em Belo Horizonte, fato ocorrido em 1997.
O promotor era casado -estaria indo se encontrar com a mulher- e tinha dois filhos. Ele era parente do escritor paraibano José Lins do Rego (1901-1957) e trabalhava no Ministério Público de Minas havia 15 anos.
Tinha passado por comarcas do interior e por uma das varas criminais de BH. Seu velório seria iniciado ainda na noite de ontem, no prédio do Ministério Público.


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