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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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CLIMA

Em Copacabana, foi a maior chuva dos últimos dez anos; carros foram arrastados e bairros nobres ficaram sem luz

Temporal pára o Rio e deixa dois mortos

PEDRO SOARES
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Um forte temporal parou o Rio de Janeiro na madrugada de ontem. Em Copacabana, segundo a Defesa Civil, foi registrada a maior chuva dos últimos dez anos. Um homem e uma mulher morreram eletrocutados na Lapa, bairro boêmio da região central. Veículos tombaram ou foram arrastados pela correnteza. Faltou luz em diversos bairros nobres.
Quem estava nas ruas viveu momentos de apreensão: teve de dirigir no escuro, sem semáforos, e atravessar vários pontos alagamento com a água chegando a bater no capô do carro. Foram 35 trechos alagados só na zona sul, área mais afetada. A água inundou subsolos de lojas e garagens.
"Estava indo para uma festa no Jardim Botânico [zona sul" e a impressão que dava era que se a gente tivesse uma prancha, podia pegar onda na rua. Os ônibus passavam, e a gente via que a pista, que estava alagada, havia sido transformada em mar", disse o comerciário Márcio Orsini, 29.
Segundo a Polícia Militar, a queda de uma fiação numa rua alagada causou a morte das duas pessoas. Eletrocutados, os dois foram levados pelos bombeiros ao Hospital Souza Aguiar já mortos. Eles foram encontrados juntos e tinham ido à Lapa assistir ao show em comemoração dos dez anos do grupo Afroreggae.
O rapaz foi identificado como Luciano de Jesus dos Santos, 20. Trabalhava em uma empreiteira que prestava serviços para a Petrobras. Inicialmente, a Polícia Militar divulgou que a mulher, identificada como Karla Passos Vassinon, 23, estava grávida. Sua família, no entanto, negou essa versão. Ela era moradora da Lapa.
Por causa de uma falha na subestação Frei Caneca (centro) da Light, boa parte dos bairros da zona sul e o centro ficaram às escuras. Faltou eletricidade no Leme, Flamengo, Laranjeiras, Botafogo, Glória (todos na zona sul), Tijuca e Rio Comprido (zona norte), além da região central. A Light informou que ainda apura as causas da pane elétrica que interrompeu o fornecimento das 22h30 de anteontem à 0h30 de ontem.
Houve queda de barreiras e deslizamentos de terra em três pontos da cidade: na estrada da Grota Funda (zona oeste) e nos morros do Vidigal e Rocinha (zona Sul).
O bairro mais atingido foi Copacabana. A chuva chegou a 170 mm (cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado). Foi o recorde dos últimos anos. O volume superou em mais de três vezes o que a Defesa Civil do município considera como uma chuva forte -40 mm. Várias ruas do bairro ficaram alagadas. Na avenida Atlântica, à beira-mar, motoristas subiram as calçadas para escapar do alagamento.
"Foi a primeira vez que alagou o subsolo da minha loja. Perdi mais de 50 fitas de desenhos raros", disse Luís Carlos Mendes, dono de uma locadora de vídeos na rua Figueiredo de Magalhães.
Segundo informações não confirmadas pela polícia, um grupo tentou, em um arrastão, assaltar motoristas que estavam parados no trânsito na rua da locadora.
Mendes foi um dos muitos comerciantes da região que passaram a manhã de ontem tirando lama de suas lojas. A poucos metros da locadora, a garagem de um prédio foi inundada por mais de um metro de água.
O túnel Rebouças, principal ligação entre as zonas sul e norte, ficou fechado a madrugada toda em razão de vários carros quebrados e de pontos de alagamento.
Segundo o coordenador da Defesa Civil municipal, coronel João Carlos Mariano, a chuva também atingiu a Barra da Tijuca, São Conrado, Guaratiba e Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste.
Em São Conrado, dezenas de garrafas de refrigerante, pedaços de madeira e lixo encalharam no canal que desemboca na praia. Segundo o diretor da Companhia Municipal de Limpeza Urbana, Edson Rufino, apenas amanhã será encerrada a limpeza no bairro, bastante afetado pela lama que desceu da favela da Rocinha.


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