|
Texto Anterior | Índice
Fernando Teixeira, a vida pelo samba
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Fernando Leite Teixeira
não quis deixar o samba
morrer, mas morreu de tanto
fumar, nas três décadas que
passou na quadra de sua escola de samba. Guerreiro como a águia símbolo da Balaku Blaku, ganhou só um título no carnaval. Mas deixou
sua marca na folia manauara.
Nasceu na rua Izabel, no
centro de Manaus, a 200 m
do Rio Negro. A família pobre ganhou dinheiro com comércio de "estivas", alimentos vendidos por ele no atacado. Mas só fez o segundo
grau o garoto festeiro.
Era 1976 e os amigos da esquina da rua Izabel batucavam no tédio da tarde. Com
eles "Alemãozinho", deficiente mental que tamborilava uma tábua ao canta a interminável ladainha, "balaku
blaku". O garoto morreu, fez
falta, e a ladainha batizou a
batucada -que virou bloco e
depois escola, com Teixeira
na presidência. O título veio
só em 2001. E seria o único.
Em mais de 30 anos de
samba, era um autor da história do carnaval. Foi dele o
projeto pela construção do
sambódromo, erigido em
1990, ao dirigir a associação
de escolas. E tentou chegar à
Câmara em 2000, mas teve
261 votos -foi o 317º mais
votado. Não se elegeu.
Casado, quatro filhos e seis
netos, não ficava um domingo sem missa ou um minuto
sem cigarro -ascendia um
atrás do outro, de seu maço
vermelho de Hollywood.
"Fumava tanto", dizem, "que
aquilo o acabaria matando".
Há dois meses parara ao
descobrir o câncer no pulmão. Morreu no domingo,
aos 65 anos, deixando dois
pedidos: que a escola não
deixasse de entrar na avenida e que o corpo não fosse velado na quadra, "para não
contaminar o ânimo".
No dia 2, a escola desfila
com tarjas negras na camisa,
e o último carro terá no "céu"
seu rosto desenhado, com a
frase: "eterno presidente".
No enterro não houve festa,
mas os versos da sua vida,
cantados sem ânimo, enquanto o corpo descia. "Não
deixe o samba morrer. Não
deixe o samba acabar".
Texto Anterior: Mortes Índice
|