São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

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Fernando Teixeira, a vida pelo samba

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Leite Teixeira não quis deixar o samba morrer, mas morreu de tanto fumar, nas três décadas que passou na quadra de sua escola de samba. Guerreiro como a águia símbolo da Balaku Blaku, ganhou só um título no carnaval. Mas deixou sua marca na folia manauara.
Nasceu na rua Izabel, no centro de Manaus, a 200 m do Rio Negro. A família pobre ganhou dinheiro com comércio de "estivas", alimentos vendidos por ele no atacado. Mas só fez o segundo grau o garoto festeiro.
Era 1976 e os amigos da esquina da rua Izabel batucavam no tédio da tarde. Com eles "Alemãozinho", deficiente mental que tamborilava uma tábua ao canta a interminável ladainha, "balaku blaku". O garoto morreu, fez falta, e a ladainha batizou a batucada -que virou bloco e depois escola, com Teixeira na presidência. O título veio só em 2001. E seria o único.
Em mais de 30 anos de samba, era um autor da história do carnaval. Foi dele o projeto pela construção do sambódromo, erigido em 1990, ao dirigir a associação de escolas. E tentou chegar à Câmara em 2000, mas teve 261 votos -foi o 317º mais votado. Não se elegeu.
Casado, quatro filhos e seis netos, não ficava um domingo sem missa ou um minuto sem cigarro -ascendia um atrás do outro, de seu maço vermelho de Hollywood. "Fumava tanto", dizem, "que aquilo o acabaria matando".
Há dois meses parara ao descobrir o câncer no pulmão. Morreu no domingo, aos 65 anos, deixando dois pedidos: que a escola não deixasse de entrar na avenida e que o corpo não fosse velado na quadra, "para não contaminar o ânimo".
No dia 2, a escola desfila com tarjas negras na camisa, e o último carro terá no "céu" seu rosto desenhado, com a frase: "eterno presidente". No enterro não houve festa, mas os versos da sua vida, cantados sem ânimo, enquanto o corpo descia. "Não deixe o samba morrer. Não deixe o samba acabar".


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