São Paulo, quarta, 26 de março de 1997.

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TEMOR
Dois funcionários abandonaram as aulas
Professor afirma que máfia domina escola

da Reportagem Local

Por um salário mensal de R$ 400, o professor M., 55, diz se arriscar diariamente para dar aulas na escola Celestino Bourroul.
``A escola está dominada por uma máfia e até os alunos mais novos ficam aterrorizados de ir às aulas'', afirma.
Desempregado aos 50 anos, decidiu ingressar na rede estadual de ensino ``para fazer alguma coisa e não ficar parado''.
Segundo M., que prefere não se identificar por temer represálias, todos os professores estão assustados, mas não falam abertamente por medo.
``Ninguém mais quer vir trabalhar aqui. Se continuar assim, vão ter de fechar o curso supletivo'', diz.
Na semana passada, dois professores abandonaram as salas de aula e pediram para ser transferidos de colégio.
A Folha apurou que uma professora da Celestino Bourroul estuda solicitar seu desligamento da rede, nos próximos dias, também por temer as ameaças.
``É uma covardia o que essas pessoas estão fazendo. No anonimato, elas ameaçam e podem te violentar e até mesmo matar, porque a periferia é o descaso completo'', afirma M.
Para ele, o problema está apenas concentrado na escola Celestino Bourroul, mas é um mal de toda a rede nacional de ensino.
``A referência ética, agora, está no bandido. Como pode uma molecada estar ditando as normas em uma escola, assumindo o papel do Estado?'', diz M., que dá aulas à tarde em outra escola para completar o salário que ganha na rede estadual.
Falta de material
M. também critica as instalações e, principalmente, o material disponível para os professores na escola. ``A falta de material desestimula nosso trabalho.''
Segundo M., as grades no pátio principal da Celestino Bourroul fazem com que a escola se assemelhe a uma jaula. ``Essa não é uma instalação adequada para uma escola.''
O diretor da escola não quis falar com a Folha sobre a falta de material disponível. (PL e FS)

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