São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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TALENTO EM RISCO
Falta de estrutura especial faz crianças superdotadas serem tratadas como estudantes regulares
Escola despreparada afugenta alunos

da Reportagem Local

A falta de preparo dos professores para lidar com crianças talentosas ou superdotadas faz com que, muitas vezes, esses alunos se desinteressem pela escola, na avaliação de especialistas. Segundo o MEC, apenas nove Estados possuem projetos para preparar os profissionais a lidar com essas crianças.
Os Estados que têm programas são Pará, Rio Grande do Sul, Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará e Piauí.
Na escola onde, por exemplo, Pedro dos Santos, o menino que faz complexas contas matemáticas, estuda, em São João D'Aliança (GO), seu atendimento é igual ao dos demais.
"O Pedro faz contas que nem eu consigo fazer de cabeça, mas não temos condições de dar um atendimento especial a ele. É uma pena que aqui ele não tenha mais condições de desenvolver todo seu potencial", afirma a professora de Pedro, Andréa Coelho.
Segundo a presidente da Associação Brasileira para Superdotados, Marsyl Mettrau, os professores brasileiros, em sua maioria, não estão preparados para lidar com alunos talentosos ou superdotados. "O aluno é tratado como número. O professor precisa reconhecer as necessidades e capacidades individuais de cada um para melhor aproveitá-las", diz.
No caso de alunos superdotados, a presidente afirma que é muito comum eles serem encarados como "encrenqueiros" por desafiar os professores. "Alguns desses estudantes são extremamente irônicos e não se adaptam ao sistema escolar", diz.
Zenita Guenther, secretária da Educação de Lavras (MG), também é especialista em educação de superdotados e afirma que o problema da falta de atenção especial não é exclusividade das escolas públicas.
"O problema é que, quando a criança é pobre, nem sempre os pais entendem e sabem desenvolver aquela potencialidade. Dependendo do contexto, o tráfico de drogas, o crime ou a delinquência são mais estimulantes do que o trabalho na escola, que traz resultados a longo prazo", afirma a secretária.
Apesar das dificuldades, a coordenadora-geral de desenvolvimento da educação especial do MEC, Luzimar Camões Peixoto, afirma que o país está avançando.
"O Brasil é o único país do mundo que já aprovou diretrizes específicas para o atendimento de alunos portadores de altas habilidades", afirma Luzimar.
A coordenadora diz que o esforço para conscientizar os Estados da importância de atender de forma especial esses alunos ganhou impulso em 1996, quando o MEC realizou um evento com secretários e conselheiros de educação para mostrar que o conceito de superdotado havia mudado.
"Nós debatemos com esses educadores o novo conceito de superdotado, que não leva em consideração apenas o teste de Q.I., mas uma série de fatores que podem indicar um talento especial no aluno", afirma.
"Ainda há muito a fazer, mas já conseguimos conscientizar os Estados da importância de um atendimento especial", diz. (AG)


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