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TALENTO EM RISCO
Falta de estrutura especial faz crianças superdotadas serem tratadas como estudantes regulares
Escola despreparada afugenta alunos
da Reportagem Local
A falta de preparo dos professores para lidar com crianças talentosas ou superdotadas faz com
que, muitas vezes, esses alunos se
desinteressem pela escola, na avaliação de especialistas. Segundo o
MEC, apenas nove Estados possuem projetos para preparar os
profissionais a lidar com essas
crianças.
Os Estados que têm programas
são Pará, Rio Grande do Sul,
Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Ceará e Piauí.
Na escola onde, por exemplo,
Pedro dos Santos, o menino que
faz complexas contas matemáticas, estuda, em São João D'Aliança (GO), seu atendimento é igual
ao dos demais.
"O Pedro faz contas que nem eu
consigo fazer de cabeça, mas não
temos condições de dar um atendimento especial a ele. É uma pena que aqui ele não tenha mais
condições de desenvolver todo
seu potencial", afirma a professora de Pedro, Andréa Coelho.
Segundo a presidente da Associação Brasileira para Superdotados, Marsyl Mettrau, os professores brasileiros, em sua maioria,
não estão preparados para lidar
com alunos talentosos ou superdotados. "O aluno é tratado como
número. O professor precisa reconhecer as necessidades e capacidades individuais de cada um
para melhor aproveitá-las", diz.
No caso de alunos superdotados, a presidente afirma que é
muito comum eles serem encarados como "encrenqueiros" por
desafiar os professores. "Alguns
desses estudantes são extremamente irônicos e não se adaptam
ao sistema escolar", diz.
Zenita Guenther, secretária da
Educação de Lavras (MG), também é especialista em educação
de superdotados e afirma que o
problema da falta de atenção especial não é exclusividade das escolas públicas.
"O problema é que, quando a
criança é pobre, nem sempre os
pais entendem e sabem desenvolver aquela potencialidade. Dependendo do contexto, o tráfico
de drogas, o crime ou a delinquência são mais estimulantes do
que o trabalho na escola, que traz
resultados a longo prazo", afirma
a secretária.
Apesar das dificuldades, a coordenadora-geral de desenvolvimento da educação especial do
MEC, Luzimar Camões Peixoto,
afirma que o país está avançando.
"O Brasil é o único país do mundo que já aprovou diretrizes específicas para o atendimento de alunos portadores de altas habilidades", afirma Luzimar.
A coordenadora diz que o esforço para conscientizar os Estados
da importância de atender de forma especial esses alunos ganhou
impulso em 1996, quando o MEC
realizou um evento com secretários e conselheiros de educação
para mostrar que o conceito de
superdotado havia mudado.
"Nós debatemos com esses educadores o novo conceito de superdotado, que não leva em consideração apenas o teste de Q.I., mas
uma série de fatores que podem
indicar um talento especial no
aluno", afirma.
"Ainda há muito a fazer, mas já
conseguimos conscientizar os Estados da importância de um atendimento especial", diz.
(AG)
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