São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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TALENTO EM RISCO
Para técnicos, ninguém tem capacidade para todas as áreas
Reconhecer os pequenos "gênios" é difícil para pais

da Reportagem Local

A dificuldade de reconhecer crianças superdotados e talentosas não é exclusiva de famílias menos escolarizadas.
"O conceito de superdotado mais comum entre os pais é o ultrapassado, que costumava avaliar, por meio de testes, apenas o Q.I. (quoeficiente de inteligência) da criança", diz Cláudio Guimarães, professor da pós-graduação em psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Maria Clara Gama, doutora em educação de superdotados pela Universidade de Columbia, em Nova York, afirma que é muito comum os pais acharem que superdotados têm facilidade para aprender qualquer assunto.
"Ninguém pode ser talentoso em todas as áreas. Há alunos que podem ser excepcionais em matemática, mas que apresentam sérias dificuldades em português. O importante é o pai não cobrar do aluno com algum talento que ele seja um gênio em todas as matérias", avalia Maria Clara.
A presidente da Associação Brasileira para Superdotados, Marsyl Bulkool Mettrau, afirma que nenhum teste para detectar talentos ou superdotados pode ser feito sem levar em consideração o meio em que as crianças vivem.
"Um indivíduo com 13 anos que nasceu em uma família que lhe deu todo o apoio e incentivo pode ser muito inteligente e ler bastante. No entanto, quando essas características aparecem em indivíduos com uma realidade extremamente desfavorável ao desenvolvimento dessas potencialidades, isso passa a ser um indicador de superdotado", explica.
A professora afirma também que há uma diferença entre gênios, superdotados e talentos. "Os indivíduos talentosos apresentam uma características de indivíduos superdotados. Esses, por sua vez, são aqueles que apresentam mais de uma característica e tiveram suas habilidades medidas."
Gênio, para ela, é alguém bem diferente. "São apenas aquelas pessoas que mudam a concepção vigente sobre algum assunto."
Apesar do dom quase natural, mesmo as crianças mais inteligentes precisam de incentivo do meio para desenvolver suas potencialidades. "Em qualquer população, entre 1% e 3% de seus integrantes apresentam características de superdotados. Há estudos, no entanto, que mostram que em países desenvolvidos, que estimulam seus talentos, esse percentual pode chegar a 10%", diz o professor Guimarães.
Segundo ele, as potencialidades de uma pessoa superdotada nem sempre são aparentes na infância, principalmente no caso de indivíduos extremamente talentosos na área de linguagens.
Entender o funcionamento do cérebro desses pequenos "gênios" ainda é um desafio colocado para os cientistas.
"Praticamente não há dúvidas de que o cérebro de pessoas com extrema facilidade para aprender uma disciplina apresenta algumas particularidades em relação ao das demais. Essa é uma área, no entanto, onde a ciência ainda precisa avançar para entender melhor como funciona a mente dessas pessoas", afirma Guimarães.





















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