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TALENTO EM RISCO
Para técnicos, ninguém tem capacidade para todas as áreas
Reconhecer os pequenos
"gênios" é difícil para pais
da Reportagem Local
A dificuldade de reconhecer
crianças superdotados e talentosas não é exclusiva de famílias
menos escolarizadas.
"O conceito de superdotado
mais comum entre os pais é o ultrapassado, que costumava avaliar, por meio de testes, apenas o
Q.I. (quoeficiente de inteligência)
da criança", diz Cláudio Guimarães, professor da pós-graduação
em psiquiatria da Faculdade de
Medicina da USP (Universidade
de São Paulo).
Maria Clara Gama, doutora em
educação de superdotados pela
Universidade de Columbia, em
Nova York, afirma que é muito
comum os pais acharem que superdotados têm facilidade para
aprender qualquer assunto.
"Ninguém pode ser talentoso
em todas as áreas. Há alunos que
podem ser excepcionais em matemática, mas que apresentam sérias dificuldades em português. O
importante é o pai não cobrar do
aluno com algum talento que ele
seja um gênio em todas as matérias", avalia Maria Clara.
A presidente da Associação Brasileira para Superdotados, Marsyl
Bulkool Mettrau, afirma que nenhum teste para detectar talentos
ou superdotados pode ser feito
sem levar em consideração o
meio em que as crianças vivem.
"Um indivíduo com 13 anos que
nasceu em uma família que lhe
deu todo o apoio e incentivo pode
ser muito inteligente e ler bastante. No entanto, quando essas características aparecem em indivíduos com uma realidade extremamente desfavorável ao desenvolvimento dessas potencialidades, isso passa a ser um indicador
de superdotado", explica.
A professora afirma também
que há uma diferença entre gênios, superdotados e talentos. "Os
indivíduos talentosos apresentam
uma características de indivíduos
superdotados. Esses, por sua vez,
são aqueles que apresentam mais
de uma característica e tiveram
suas habilidades medidas."
Gênio, para ela, é alguém bem
diferente. "São apenas aquelas
pessoas que mudam a concepção
vigente sobre algum assunto."
Apesar do dom quase natural,
mesmo as crianças mais inteligentes precisam de incentivo do
meio para desenvolver suas potencialidades. "Em qualquer população, entre 1% e 3% de seus integrantes apresentam características de superdotados. Há estudos, no entanto, que mostram
que em países desenvolvidos, que
estimulam seus talentos, esse percentual pode chegar a 10%", diz o
professor Guimarães.
Segundo ele, as potencialidades
de uma pessoa superdotada nem
sempre são aparentes na infância,
principalmente no caso de indivíduos extremamente talentosos na
área de linguagens.
Entender o funcionamento do
cérebro desses pequenos "gênios"
ainda é um desafio colocado para
os cientistas.
"Praticamente não há dúvidas
de que o cérebro de pessoas com
extrema facilidade para aprender
uma disciplina apresenta algumas
particularidades em relação ao
das demais. Essa é uma área, no
entanto, onde a ciência ainda precisa avançar para entender melhor como funciona a mente dessas pessoas", afirma Guimarães.
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