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CRISE NO RIO
José Muiños Piñeiro disse que nunca ouviu falar de ações criminosas do delegado Rafik Louzada
Procurador defende chefe da polícia
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
O procurador-geral de Justiça
do Rio, José Muiños Piñeiro Filho, defendeu o chefe de Polícia
Civil do Rio, delegado Rafik Louzada, acusado de supostos enriquecimento ilícito e envolvimento com extorsões.
Piñeiro Filho, 43, disse à Folhaque, em quase duas décadas de
Ministério Público, nunca ouviu
falar da participação de Louzada
em ações criminosas.
"Seria uma decepção para
mim", afirmou o procurador-geral sobre a hipótese de ficar comprovada a culpa de Louzada.
As acusações contra o delegado
partiram do antropólogo Luiz
Eduardo Soares, ex-coordenador
de Segurança do Estado.
Em dossiê, Soares relaciona o
chefe de Polícia Civil à extorsão
que teria sido praticada contra o
traficante Lobão. Diz também
que Louzada, com dinheiro sujo,
teria comprado, por R$ 300 mil,
uma franquia do McDonald's.
Supervisor da comissão do Ministério Público, Polícia Civil e
Polícia Militar que investiga a corrupção policial, Piñeiro Filho
qualificou como "genéricas" e
"muito diluídas" as denúncias.
Leia a seguir a entrevista.
Folha - Há no Brasil muito descrédito em relação a comissões.
Como se pode ter a certeza de
que dessa vez é para valer?
José Muiños Piñeiro Filho - Para que passe uma idéia de credibilidade, a comissão deve começar
não criando falsas expectativas.
Não podemos colocá-la como solução para todos os problemas.
Seu trabalho de 60 dias não é definitivo, mas prévio. A comissão
pretende trabalhar por um ano.
Não ficaremos só nos policiais
citados pelo Luiz Eduardo (Soares, ex-coordenador de Segurança). Será um número bem maior.
Solicitaremos extratos bancários
e declarações de renda. Os que se
recusarem, a idéia da comissão é
solicitar à CPI do Narcotráfico.
Também acionaremos os Ministérios Públicos de outros Estados,
Banco Central, cartórios de notas
de todo o Brasil.
Folha - Em 60 dias vocês terão
como fechar a investigação?
Piñeiro Filho - Acredito que um
percentual pequeno de investigações poderá ser concretizado.
Folha - O governador Anthony
Garotinho afirmou que o senhor
lhe disse ser o chefe de Polícia
Civil um homem probo. O senhor o considera probo?
Piñeiro Filho - Fui procurado
pelo Luiz Eduardo em 2 de março.
Ele apresentou quatro denúncias,
algumas contra o chefe de Polícia
Civil (Rafik Louzada). Ele admitiu
que eram genéricas, que traria
mais dados. Disse a ele que, como
promotor, há 18 anos convivo
com autoridades policiais. Já me
decepcionei muito. Por isso tenho
que estar preparado para futuras
decepções. Como promotor,
atuei em casos com Rafik Louzada. Nunca nenhum colega me disse qualquer coisa, nem ouvi falar,
por outras fontes, de alguma incorreção, de ser corrupto, de praticar extorsões. Seria uma decepção para mim.
Luiz Eduardo não me procurou
mais. Depois de formada a comissão, o governador perguntou se
era possível sugerir o afastamento
de policiais citados. Disse a ele
que as denúncias, apesar da gravidade, são genéricas. Isso afirmo:
não há dado concreto. Não estou
dizendo que não sejam reais, mas
estão muito diluídas.
Com base nessas denúncias, a
comissão não poderia sugerir nenhum afastamento. Porém, disse,
há nomes que a comissão pode
pedir transferência ou afastamento por outros fatos. Não usei a palavra probo, mas poderia tê-la
usado genericamente.
Disse a ele (Garotinho) que, se
pretendia politizar a questão, fica
difícil uma orientação.
"Se o senhor quer uma apuração séria e quer evitar uma injustiça antecipada, vou lhe dizer o
que disse ao Luiz Eduardo: todas
as informações que me chegaram
durante 18 anos de Ministério Público são positivas, favoráveis, de
um homem correto (Louzada). A
exoneração agora, com base em
duas denúncias genéricas, apesar
de graves, é uma decisão política."
Folha - Soares já avisou que
não deporá à comissão. Em que
isso prejudica a apuração?
Piñeiro Filho - Prejudica no
sentido de que ele mesmo admite
a fragilidade (das denúncias). Todas elas são anônimas, algumas
até tiradas dos meios de comunicação. Mas há dados concretos, tipo o intermediário dos bicheiros
(teria reclamado do aumento do
valor da propina que seria paga à
cúpula policial). Ele ficou de me
dizer quem é. Se não me indicar,
fica muito difícil.
Folha - A comissão tem as 12
denúncias do Luiz Eduardo, as
101 da ouvidoria e agora a relação de todos os casos das duas
corregedorias policiais. Não é
muita coisa?
Piñeiro Filho - É. Digo que é trabalho para um ano. Vamos ampliar a comissão. Peço à sociedade
que não espere resultados imediatos. Talvez possamos romper a
idéia de que tudo acaba em pizza.
Espero não acabar em pizza.
Folha - A comissão já comprovou alguma das 12 denúncias?
Piñeiro Filho - A comissão não
tem nenhum dado concreto. Nenhuma das 12 tem, ao fim de uma
semana, um indício fortalecido.
Folha - Como cidadão, o sr. se
sente protegido pela polícia?
Piñeiro Filho - Acho que o aparelho policial civil e militar precisa
resgatar muito a sua credibilidade
para que o cidadão passe a se sentir um pouco mais seguro.
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