São Paulo, terça-feira, 26 de março de 2002

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SAÚDE

Para Sucen, clima frio e baixa densidade demográfica entre Sorocaba e o Vale do Ribeira dificultam chegada da epidemia

Dengue não atinge região sul de São Paulo

ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

Apesar de já haver mais de 5.500 casos de dengue em São Paulo neste ano, a região sul do Estado continua livre da epidemia. A área que vai de Sorocaba até o Vale do Ribeira, na divisa com o Paraná, ainda não foi atingida pela doença -nunca houve casos na história praticamente em toda a região.
A exceção é Itariri (150 km a sudoeste de São Paulo). Em 1998, surgiram dois casos no município. Como era apenas um foco localizado, foi possível eliminar o mosquito da cidade.
De acordo com o superintendente da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), Luís Jacinto da Silva, isso ocorre por causa da menor densidade demográfica e do clima mais frio.
"As condições da região sul do Estado não favorecem a propagação da doença. É uma área mais fria, com inverno mais rigoroso. Também é uma região predominantemente rural, com cidades menores, mais distantes umas das outras e com menor interação entre elas, o que torna menos provável que as pessoas levem o vírus de um lugar para outro."
O tempo frio dificulta a proliferação da dengue, pois aumenta o ciclo na água do Aedes aegypti, transmissor da doença, e também o tempo de multiplicação do vírus dentro do mosquito. Além disso, no calor ele vive mais e pica com mais frequência.
Atualmente, os municípios da região não estão infestados pelo mosquito. A Sucen considera que há infestação quando não há perspectiva de reduzir a propagação do mosquito a curto prazo, seja por controle químico ou por campanhas de prevenção.
Só neste ano Sorocaba começou a ser considerada infestada. Até a semana passada, não havia sido registrado nenhum caso autóctone (contraído no próprio município) -os 34 casos confirmados na cidade são importados.
Mais de 30 municípios da região estão promovendo intensas campanhas para evitar o começo de uma epidemia, que pode chegar a qualquer momento. "O mosquito não obedece fronteiras municipais", diz o prefeito de Sorocaba, Renato Amary (PSDB), que aumentou de 60 para cem o número de funcionários envolvidos no combate à doença e está utilizando até um helicóptero para identificar possíveis criadouros.
De acordo com a diretora do Departamento de Controle de Vetores da Sucen, Carmen Moreno Glasser, os meses mais propícios para que haja uma explosão da doença são março e abril. "Podemos ter em março uma explosão muito maior do que no ano passado." O agravante neste ano é que já há casos no Estado provocados pelo tipo 3, o mais grave no Brasil. Foram registrados casos em Campinas, Cordeirópolis, Penápolis, Araçatuba e Guarulhos.
A presença do vírus tipo 3 aumenta a possibilidade de que haja dengue hemorrágica, segundo alguns especialistas. Existem quatro sorotipos -o 4 ainda não foi detectado no país.
Até ontem, havia quatro casos de dengue hemorrágica confirmados no Estado: três em Campinas e um em Santos. Ainda não há nenhuma morte registrada.
No ano passado, São Paulo enfrentou a maior epidemia de sua história, com mais de 50 mil casos. Neste ano, já são 5.518 casos autóctones confirmados, segundo relatório da Sucen do dia 18. Mas, segundo a diretora da Sucen, para cada caso confirmado há pelo menos mais dez que não são notificados, porque muitas pessoas confundem os sintomas com os de uma gripe forte e não procuram um médico.
A dengue provoca febre, dores fortes na cabeça, no fundo dos olhos, nas articulações, além de enjôos, vômitos e manchas avermelhadas pelo corpo.
Os únicos Estados em que não há dengue são Santa Catarina e Rio Grande do Sul.


Colaboraram ADRIANA CHAVES, FERNANDA KRAKOVICS e KÁTIA BRASIL, da Agência Folha

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