São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2005

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SEGURANÇA

Integrantes da elite da polícia têm firma de segurança e são suspeitos de realizar investigações paralelas

Policiais são acusados de usar escuta clandestina para fazer espionagem

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas empresas de segurança privada, cujos sócios são policiais de departamentos de elite da Polícia Civil, são alvo de investigação pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Estadual e pela própria polícia paulista por suspeita de espionagem e investigação paralela por meio de escutas telefônicas sem autorização da Justiça.
As empresas Spy Cops (policiais espiões) e Marte Vigilância e Segurança Patrimonial, segundo as apurações, usam as escutas ilegais para atuar em investigações paralelas de crimes envolvendo seus clientes -como roubo e ameaça de seqüestro- e também em casos de espionagem.
As empresas também são suspeitas de fazer escutas, com minigravadores, usando espiões. Cada escuta telefônica custaria de R$ 3.500 a R$ 5.000 por semana.
Entre os clientes das duas empresas estão executivos de multinacionais, bancos, escritórios de advocacia, construtoras e juízes.
Em depoimento à Polícia Federal, o perito criminal Samuel Alves de Melo Neto, 39, e o papiloscopista João Charles Ferreira, 34, ambos do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), declararam que são sócios da Spy Cops, que seria responsável por elaborar laudo com as transcrições das gravações ilegais que seriam feitas pela Marte Vigilância e Segurança.
Segundo os depoimentos dos policiais, o responsável pela Marte é o investigador Cláudio da Silva Santos, que trabalha na Delegacia Geral de Polícia. Santos, porém, ainda não foi ouvido pela PF. À Folha, os três negaram as acusações (leia texto na pág. C3).

Investigação
Em março deste ano, o Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária) expediu mandado de busca e apreensão nas duas empresas após receber denúncia de que elas faziam escutas telefônicas ilegais.
Na Spy Cops, policiais federais apreenderam oito CDs com gravações telefônicas, uma pasta com extratos telefônicos de aparelhos fixos e celulares, relatório de cruzamento de ligações telefônicas, aparelho para escuta ambiental, entre outros.
Em uma das filiais da Marte, na zona sul, a PF encontrou 11 fitas cassetes, 16 CDs, dois gravadores, uma máquina fotográfica, além de um equipamento de escuta.
Segundo o delegado da PF Armando Rodrigues Coelho Neto, diversas irregularidades administrativas foram encontradas. A Marte foi autuada por mudar de endereço e de contrato social sem autorização da PF, além de estar com o certificado de segurança vencido. E a Spy Cops, por desvio de finalidade para fins ilícitos.
Ainda não foi concluída a perícia do material, mas, para a PF, há indícios fortes de que as empresas faziam as escutas ilegais.
A Polícia Federal instaurou procedimento para fechar definitivamente as duas empresas. A conclusão demora, em média, até seis meses. Enquanto isso, o Ministério Público e a polícia paulista investigam quem foram as vítimas das escutas ilegais e os responsáveis pela contratação do serviço.

Casos
No depoimento à PF, o perito e o papiloscopista afirmaram que a empresa fez escutas ilegais em pelo menos dois casos.
Alguns dos CDs apreendidos na sede da empresa pela PF são parte da investigação da Spy Cops sobre um assalto sofrido pelo diretor-superintendente de uma multinacional, no final de 2004.
A Spy Cops passou a investigar o caso a pedido da vítima, segundo o depoimento de Ferreira. Segundo ele, como algumas descobertas sobre os autores do crime poderiam comprometer a vida pessoal do executivo, este teria pedido a suspensão dos trabalhos.
O papiloscopista disse também que a Spy Cops foi contratada por um juiz de Campos do Jordão que pediu para investigar o seu filho.


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