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20 anos depois, equipe de resgate do césio é indenizada
Bombeiros, policiais e demais funcionários públicos receberão R$ 482 por mês do Estado de Goiás; pensão não é retroativa
199 pessoas terão direito ao benefício, segundo decreto publicado ontem pelo governo; outras vítimas ainda aguardam decisão
SEBASTIÃO MONTALVÃO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM GOIÂNIA
Vinte anos depois do acidente com o césio-137, ocorrido em
Goiânia (GO) em setembro de
1987, um grupo de 199 vítimas
finalmente teve seu direito a
indenização reconhecido pelo
poder público.
Os beneficiados são funcionários públicos (como policiais
e bombeiros) que trabalharam
durante a tragédia. Eles integram o chamado grupo 3, de
pessoas que tiveram contato direto ou indireto com outras
contaminadas.
Esses funcionários receberão pensão vitalícia -não retroativa- de R$ 482 do governo de Goiás.
Com o reconhecimento, chega a 397 o número de pessoas
que recebem pensão estatal em
virtude do acidente.
Em 13 de setembro de 1987,
catadores de sucata violaram
uma cápsula de material radioativo usada em aparelhos de
uma clínica de radiologia, na
época abandonada, e contaminaram parentes e vizinhos.
Quatro pessoas morreram nas
semanas seguintes e milhares
foram expostas à radiação.
O decreto publicado ontem
pelo governo goiano contempla
policiais militares, bombeiros,
funcionários da Vigilância Sanitária e do extinto Crisa (Consórcio Rodoviário Intermunicipal S.A.), órgão que cuidava da
infra-estrutura e que trabalhou
na demolição e acondicionamento dos rejeitos radioativos.
"Vinte anos depois, o Estado,
com justiça, lhes concede um
benefício que ele têm por direito", disse o governador Alcides
Rodrigues (PP).
Além do grupo beneficiado
ontem, há ainda outras 681 pessoas no grupo 3 esperando reconhecimento oficial como vítimas. São vizinhos da tragédia
ou pessoas que tiveram exposição em grau menor ao césio
-principalmente ao visitar locais contaminados.
"Com essa ação, o governo
está devolvendo a cidadania a
estas pessoas. É claro que existem mais pessoas que precisam
dessa pensão, mas acreditamos
que o governo vai tomar medidas para contemplar quem não
foi atendido agora", disse o presidente da Associação das Vítimas do Césio, Odesson Alves
Ferreira, 53.
Apesar de ter comemorado a
concessão das pensões, o representante das vítimas disse que
o reconhecimento veio tarde
para algumas pessoas. "Muitas
das vítimas faleceram antes [do
reconhecimento oficial] e agora nem seus familiares poderão
receber o benefício."
A concessão da pensão para
as vítimas do grupo 3 era reivindicada desde 2002, por 860
pessoas. O pedido de reconhecimento foi proposto pelo Ministério Público, mas só agora o
Estado decidiu atender parcialmente o que ficou definido em
um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).
As vítimas do acidente dos
chamados grupo 1 e grupo 2 já
recebem o benefício, no valor
de R$ 873, desde o final de 1988.
No grupo 1, estão 56 pessoas
que tiveram contato direto com
o césio-137, portadoras das
chamadas radiolesões, cicatrizes visíveis provocadas pela exposição à radiação.
O grupo 2 é composto por 44
pessoas que foram expostas à
radiação e apresentaram contaminação interna, mas não
têm lesões visíveis. Foram contaminadas em intensidade menor do que o primeiro grupo.
Outras 98 pessoas entraram
por conta própria na Justiça e
ganharam a indenização.
De acordo a associação das
vítimas, ao menos 65 pessoas já
morreram em decorrência direta do acidente ou por doenças
relacionadas à contaminação.
A associação atestou que vizinhos dos locais contaminados ainda sofrem conseqüências. Em um raio de cem metros
nos três pontos de contaminação, foram identificadas cerca
de 80 portadores de câncer.
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