São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Projeto de casas para fiéis começa a ruir

Condomínio no ES começou a ser construído em 2008, após 160 famílias venderem seus bens, e nunca foi concluído

Chuvas em dezembro destruíram um muro e um pequeno prédio; apenas 33 casas, de um total de 250, foram erguidas


CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

No início do ano passado, 160 famílias venderam seus bens, deixaram parentes em suas cidades e seguiram um pastor de uma igreja evangélica que prometia uma vida comunitária dentro de um condomínio em formato de águia, em Ecoporanga (328 km de Vitória).
Um ano depois, dezenas de famílias voltaram para suas casas, ex-fiéis querem indenização na Justiça e o MPF (Ministério Público Federal) instaurou procedimento administrativo para investigar se os direitos dos cidadãos estão sendo infringidos pela igreja.
Após denúncias, o MPF quer confirmar se as crianças da Igreja Tabernáculo Vitória (de orientação pentecostal) estão indo à escola, se há trabalho infantil, lazer vedado e se os idosos são privados de remédios e dos benefícios do INSS, entre outras irregularidades.
Do projeto do condomínio dos fiéis da igreja, visitado pela Folha em abril do ano passado, cercado por um muro que, com o alicerce, atingia 22 metros de altura, muito pouco foi construído ou ficou de pé.
O local, chamado de "Recanto das Águias", que deveria ter 250 chalés de 58 m2 cada um, tem apenas 33 "casinhas" de alvenaria, que abrigam 400 pessoas -cem crianças-, segundo a Defesa Civil Estadual.
Roney Nascimento, engenheiro do órgão que vistoriou o condomínio no último dia 31, afirmou que a obra foi "mal feita" e que vai pedir a interdição do local.
"Nas chuvas de dezembro, o muro de contenção veio abaixo e um pequeno prédio foi destruído. Os 33 blocos são de alvenaria, sem colunas. E eles ainda querem construir um pavimento superior sem que a estrutura sustente."
"Foram eles mesmo que construíram, com pessoal próprio e sem profissional habilitado. Há risco para as pessoas que vivem lá", disse.
Alguns fiéis ainda moram em alojamentos de compensado. Já o pastor mora em uma casa com varanda.

Indenização
Um casal de ex-fiéis da igreja conseguiu uma ação cautelar que o permite permanecer em uma casa no terreno doado pelos filhos à Tabernáculo.
Agora, eles entraram com uma ação de indenização por danos morais e materiais para reaver o valor da lavoura de café, o gado e duas casas que foram doadas e destruídas para a construção do "Recanto das Águias".
Há mais de uma semana que a reportagem tenta falar com os advogados do pastor Inereu Lopes e com o próprio religioso, por meio de celulares, nos quais foram deixados recados na caixa postal. Mas ninguém atendeu ou ligou de volta.


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