São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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MATERNIDADE

Para profissionais, mau atendimento na periferia causa distorções

Médicos afirmam que pesquisa é "equivocada"

DA SUCURSAL DO RIO

O obstetra e ginecologista Bartolomeu Penteado Coelho, diretor da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro), afirma não acreditar que haja preconceito contra as gestantes negras.
De acordo com ele, o que pode acontecer é as mulheres de classes sociais mais baixas e de pouca escolaridade sofrerem com atendimentos malfeitos devido à falta de instrução.
"Mulheres grávidas mais pobres e sem estudo não têm condições financeiras nem discernimento suficiente para procurar um bom posto de saúde ou hospital público e acabam sendo prejudicadas", disse Coelho.
Na opinião de Coelho, que já trabalhou na Maternidade Municipal Alexander Fleming e no Hospital Estadual Carlos Chagas, ambos em Marechal Hermes (zona norte do Rio), não existe diferença de atendimento em unidades da rede pública. "O tratamento é idêntico."
O médico afirmou que a pesquisa mostra uma conclusão equivocada.
"Em alguns lugares, como na Baixada Fluminense [periferia do Rio], o atendimento nos hospitais públicos é ruim, não importa a cor da pessoa. Acontece que nesses lugares a maioria dos pacientes é pobre e grande parte deles é composta por negros. Como as gestantes negras são maioria, a pesquisa acaba concluindo que elas recebem um atendimento pior, quando, na verdade, as brancas é que são poucas."
O médico afirma que, durante os 35 anos em que trabalhou em unidades públicas, nunca presenciou um ato de discriminação durante os atendimentos às mulheres grávidas.
"Nem mesmo hoje, que trabalho numa clínica particular, presencio coisas desse tipo. Um obstetra não se importa com a cor. A gestante é a nossa paciente", disse Coelho.
Rosana Benevides, ginecologista e obstetra, também não concorda com as conclusões apontadas pela pesquisa e culpa o serviço público pelo mau atendimento tanto das mulheres brancas quanto das negras.
"Isso é um problema crônico do serviço público de saúde. Num local onde o médico recebe baixos salários e trabalha sem condições ideais para atender às mulheres, ele vai atender mal, não importa a cor", alega.
Segundo ela, o preconceito também não existe nos hospitais e clínicas particulares, onde os profissionais são mais bem preparados e, portanto, não fariam distinção entre as pacientes.
Rosana trabalha numa clínica particular em Niterói (14 km do Rio) e dá plantões no Hospital Municipal Orêncio de Freitas e no Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense, ambos na cidade. (SP)


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