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RUSH AÉREO
Prefeitura, Aeronáutica e associação de pilotos buscam soluções para diminuir incômodo; paulistanos se mobilizam
Sem regra, helicóptero tira o sono de morador
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
É melhor fechar as janelas no
fim de tarde das sextas-feiras.
Dormir até tarde no sábado nem
sempre é possível. Em bairros como o Itaim Bibi (zona oeste da cidade), nesse período -horário
do rush aéreo-, o pouso e decolagem de helicópteros não param
nos prédios da região. São empresários e executivos deixando São
Paulo rumo às casas de campo.
Com 450 aeronaves, a capital
paulista tem a terceira maior frota
de helicópteros do mundo, perdendo para Nova York e Tóquio,
mas não possui legislação específica para proteger moradores.
As poucas normas que existem
são descumpridas sem que haja
fiscalização eficiente por parte do
Departamento de Aviação Civil
(DAC). A situação só passou a ser
encarada a sério recentemente.
O departamento estuda reunir
as normas existentes em um código, e criar outras. A prefeitura,
por sua vez, propõe incluir restrições, na nova Lei de Zoneamento,
que será enviada à Câmara Municipal no segundo semestre. Enquanto isso, pilotos de São Paulo
resolveram, há um mês, fazer um
pacto para evitar a barulheira.
Profissional há 16 anos, Carlos
Alberto Artoni, 46, presidente da
Aphesp (Associação de Pilotos de
Helicópteros do Estado de São
Paulo), afirma que a situação na
cidade melhorou no período. Os
moradores dos bairros mais afetados dizem o contrário.
"O que existe hoje é uma barbaridade", afirma o arquiteto Roberto Saruê, da Sociedade Amigos
dos Jardins Europa e Paulistano
(Sajep), uma das mais antigas e
influentes associações da cidade.
No fim do ano passado, a Sajep finalizou um estudo de medição do
ruído e dos riscos que os helicópteros impõem à região.
A medição feita perto da esquina da avenida Brigadeiro Faria Lima com a alameda Gabriel Monteiro da Silva (zona oeste) apontou ruído de 94 dB (decibéis) provocado por um helicóptero,
quando o permitido, segundo a
lei municipal, dependendo do horário, varia de 55 dB a 60 dB. "Um
Boeing que passou ali gerou ruído
de 60 dB", afirma.
De posse do estudo, a Sajep encaminhou cópias para a prefeitura e DAC. Além do ruído, a sociedade acusa os helicópteros de
atrapalharem o tráfego de aviões
que passam por aquela esquina
-rota de aproximação do aeroporto de Congonhas (veja mapa).
O relatório propõe o fim do uso
dos helipontos, que ficaria restrito
a emergências. Pousos e decolagens deveriam ser feitos nos dois
heliportos da cidade. "Isso é um
absurdo", rebate o presidente da
Aphesp, que resolveu montar um
dossiê próprio, com medição dos
decibéis gerados por helicópteros.
Clandestinidade
A disposição dos helipontos
paulistanos, porém, poderá prejudicar a defesa dos pilotos. Somente 16,6% dos 156 registrados
no DAC são aprovados pela prefeitura. Isso quer dizer que a segurança nos procedimentos de vôo
está garantida, já o respeito a bairros e prédios residenciais ou espaços como hospitais foi ignorado.
O número de helipontos clandestinos para o município era
maior. Desde que assumiu, o secretário do Planejamento, Jorge
Wilheim, buscou diálogo com o
DAC para resolver a situação, sem
muito sucesso, e legalizou alguns
deles. "Propomos que o departamento só aprovasse o pedido de
funcionamento do heliponto,
após nós o termos aprovado. Esperamos resposta até hoje", diz.
O major Carlos Melchiori, do
Serac-4 (Serviço Regional de
Aviação Civil), responde que a
prefeitura demora na análise dos
pedidos. "Mesmo assim, não estamos parados. Neste ano, 47 helipontos foram vistoriados", diz.
O resultado da falta de entendimento são helipontos instalados
em prédios mais baixos que os
dos vizinhos, ou, pior: no quintal
da casa do proprietário da aeronave. O entorno da avenida Lineu
de Paula Machado (zona sul) é
um exemplo. Apesar de estritamente residencial, tem oito helipontos, quase todos clandestinos.
A mágica que faz surgir um heliponto no alto de um edifício cujo
projeto foi aprovado pela prefeitura é simples: ao invés de apresentar o espaço como local de
pouso e decolagem constante, esse é apresentado como "laje de
emergência". Mas a diferença entre um e outro está só no nome.
Há três anos, a Sociedade Amigos do Itaim Bibi entrou com ação
na Justiça contra vários helipontos do bairro. O resultado, conta
Marco Castelo Branco, presidente
da entidade, foram acordos que
reduziram o número de pousos e
decolagens. "Depois, surgiram
novos prédios comerciais, todos
com helipontos em cima", diz.
Em Nova York, são proibidos os
pousos e as decolagens de helicópteros particulares em Manhattan. Só podem ter acesso a três heliportos distribuídos pela ilha.
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