São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2005

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CAOS PAULISTANO

Marginal só foi interditada após alagamento

Técnicos afirmam que seria impossível evitar a inundação das marginais, mas admitem que equipamentos do CGE são antiquados

DA REPORTAGEM LOCAL

Reunidos no Centro de Gerenciamento de Emergências durante a madrugada do temporal e boa parte do dia de ontem, secretários e técnicos da administração José Serra afirmaram que seria impossível evitar a inundação das marginais por causa do grande volume de água e que a prefeitura fez tudo o que estava a seu alcance para minimizar seus efeitos.
Mas uma das medidas que poderia ter salvado alguns motoristas da inundação -a interdição preventiva dos acessos à marginal Tietê- só foi tomada quando a situação já era incontornável.
O Estado de Atenção, que indica às autoridades que o evento meteorológico inspira cuidados, foi declarado pelo CGE às 16h35 de terça-feira. À noite, já com o início da chuva e um congestionamento grande (194 km), a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) pediu aos funcionários que dobrassem o turno. O nível da água no rio Tietê subia a olhos vistos, aumentando o temor dos que ainda trafegavam pela via.
Foi somente às 23h29, mesmo momento em que o rio transbordou pela primeira vez (sob a ponte Atílio Fontana, junto à rodovia Anhangüera), que a CET interditou alguns acessos à marginal.
"Se houvesse uma barreira, eu teria evitado a marginal. E meu carro não teria alagado", reclama a estudante Gisella Amado.
O presidente da CET, Roberto Scaringella, defendeu a operação como "oportuna".

Tecnologia atrasada
O radar meteorológico utilizado pelo CGE fica em Salesópolis, na cabeceira do rio Tietê, e tem um raio de 270 km de alcance de imagens. Pertence à Fundação Centro Tecnológica de Hidráulica da USP (Universidade de São Paulo).
Os meteorologistas do CGE notaram o avanço de uma frente fria vinda da região Sul. Por volta das 16h de terça-feira, já previam a possibilidade de ocorrer chuvas fortes na região metropolitana de São Paulo. "Só não esperávamos esse dilúvio", diz Marcos Massari, meteorologista do CGE.
Nos últimos dez anos, a precipitação durante todo o mês de maio teve uma média de 54 mm e nunca ultrapassou os 106 mm.
Na chuva que causou caos na cidade, em apenas 24 horas, entre as 7h de terça-feira e as 7h de ontem, foram registrados 113,7 mm.
Segundo Massari, a frente fria encontrou uma massa quente proveniente do oceano Atlântico. "Foi como alimentar as nuvens que estavam sobre a cidade. Era impossível prever o dilúvio."
Massari admite, no entanto, que o equipamento utilizado pela prefeitura é de uma tecnologia de mais de 20 anos. Nos Estados Unidos e na Europa, conta ele, os meteorologistas usam o "dopler", que custa cerca de US$ 10 milhões e permite uma precisão maior da localização dos pontos onde a chuva será mais forte e onde haverá granizo e ventanias fortes.
"Mas, mesmo com os equipamentos mais modernos do mundo, seria impossível prever o volume da chuva, pois os modelos matemáticos ainda pecam na quantidade", diz Massari.
Localizado na rua Bela Cintra, no centro da cidade, o CGE se transformou numa sucursal da prefeitura. Desde a noite de terça-feira, dezenas de técnicos iniciaram um plantão no local, onde há monitores que recebem ininterruptamente imagens de câmeras de vídeo instaladas nas ruas.
Foi de lá que o secretário dos Transportes, Frederico Bussinger, acompanhou as 177 linhas de ônibus (de um total de 1.300) paralisadas, e que o secretário das Subprefeituras, Walter Feldman, despachou 253 caminhões e 20 pás-carregadeiras para os locais mais atingidos. (FS)


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