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GUERRA URBANA
Governo entrega dados parciais de mortos
Estado encaminhou, pouco antes de terminar o prazo, 130 laudos de necropsia, mas sem a relação de nomes nem os BOs
Número supera os 79 que a Secretaria da Segurança Pública havia listado como casos de vítimas ligadas ao PCC mortas em confronto
DA REPORTAGEM LOCAL
Faltando poucas horas para
esgotar o prazo dado pelo Ministério Público Estadual, o governo de São Paulo entregou
ontem, no início da noite, somente uma parte das informações que a Promotoria solicitou
sobre os suspeitos mortos pela
polícia em conseqüência dos
atentados coordenados pela
facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Às 20h, o Gecep (Grupo de
Atuação Especial e Controle
Externo da Atividade Policial)
recebeu 130 laudos necroscópicos do IML (Instituto Médico
Legal) Central. O secretário da
Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho,
havia dito na manhã de ontem
que incluiria no material informações sobre as mortes dos 79
suspeitos na reação imediata
da polícia aos ataques do PCC.
Não se sabe, no entanto, se os
outros laudos são de vítimas
dos confrontos com a polícia ou
de pessoas que morreram em
São Paulo por outros motivos
nesse mesmo período.
Até terça-feira, o governo divulgava que 109 pessoas ligadas
ao PCC tinham sido mortas pela polícia em confrontos. Nesse
dia, um novo balanço da secretaria apontou outro número:
seriam 79 mortos envolvidos
com a facção criminosa e 31 vítimas em ocorrências sem relação com o crime organizado.
A diferença numérica é importante nas apurações do Ministério Público e de entidades
de direitos humanos, que investigam se ocorreram execuções pela polícia ou a morte de
inocentes entre os suspeitos de
participarem das ações do PCC.
Rascunhos de laudos feitos
pelo IML Central de São Paulo,
que estão sendo analisados pela
Defensoria Pública, apontam
indícios de abuso policial em
confrontos com civis. Os documentos relatam que houve tiros de cima para baixo e pelas
costas (leia texto na pág. C3).
Não se sabe se esses laudos são
os mesmos entregues pelo governo à Promotoria ontem.
Na última segunda-feira, a
Promotoria havia dado 72 horas para que o governo estadual
fornecesse a lista com a relação
dos mortos durante o período
dos ataques e cópias dos boletins de ocorrência, pelos quais
se poderia ter mais clareza das
circunstâncias em que as mortes ocorreram. Os laudos necroscópicos tinham um prazo
maior, de cinco dias. Mas ontem só foram entregues os laudos -e ainda assim sem o devido esclarecimento.
Segundo o Ministério Público, o não-cumprimento da "ordem" incorre em crime de desobediência, sujeito a pena de
15 dias a seis meses de detenção. A punição está prevista no
artigo 330 do Código Penal.
Mas ontem, após o recebimento parcial do material solicitado, o procurador-geral de
Justiça de São Paulo, Rodrigo
César Rebello Pinho, disse que
só falaria sobre o caso hoje.
Em entrevista coletiva ontem, o secretário da Segurança
Pública não informou quantos
nomes teria a lista nem quantos laudos periciais seriam encaminhados. Quando questionado pela quinta vez se iria entregar o material ainda ontem,
Saulo irritou-se. "Meu Deus,
mas que dificuldade você tem
de compreensão. É a distância
ou é o cérebro?"
A Folha solicita essa listagem desde o domingo retrasado. Mas a pasta da Segurança
reteve o material para "não
atrapalhar as investigações".
(AFRA BALAZINA, FABIANE LEITE, FABIO SCHIVARTCHE E GILMAR PENTEADO)
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