São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006

Próximo Texto | Índice

GUERRA URBANA

Governo entrega dados parciais de mortos

Estado encaminhou, pouco antes de terminar o prazo, 130 laudos de necropsia, mas sem a relação de nomes nem os BOs

Número supera os 79 que a Secretaria da Segurança Pública havia listado como casos de vítimas ligadas ao PCC mortas em confronto

DA REPORTAGEM LOCAL

Faltando poucas horas para esgotar o prazo dado pelo Ministério Público Estadual, o governo de São Paulo entregou ontem, no início da noite, somente uma parte das informações que a Promotoria solicitou sobre os suspeitos mortos pela polícia em conseqüência dos atentados coordenados pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Às 20h, o Gecep (Grupo de Atuação Especial e Controle Externo da Atividade Policial) recebeu 130 laudos necroscópicos do IML (Instituto Médico Legal) Central. O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, havia dito na manhã de ontem que incluiria no material informações sobre as mortes dos 79 suspeitos na reação imediata da polícia aos ataques do PCC.
Não se sabe, no entanto, se os outros laudos são de vítimas dos confrontos com a polícia ou de pessoas que morreram em São Paulo por outros motivos nesse mesmo período.
Até terça-feira, o governo divulgava que 109 pessoas ligadas ao PCC tinham sido mortas pela polícia em confrontos. Nesse dia, um novo balanço da secretaria apontou outro número: seriam 79 mortos envolvidos com a facção criminosa e 31 vítimas em ocorrências sem relação com o crime organizado.
A diferença numérica é importante nas apurações do Ministério Público e de entidades de direitos humanos, que investigam se ocorreram execuções pela polícia ou a morte de inocentes entre os suspeitos de participarem das ações do PCC.
Rascunhos de laudos feitos pelo IML Central de São Paulo, que estão sendo analisados pela Defensoria Pública, apontam indícios de abuso policial em confrontos com civis. Os documentos relatam que houve tiros de cima para baixo e pelas costas (leia texto na pág. C3). Não se sabe se esses laudos são os mesmos entregues pelo governo à Promotoria ontem.
Na última segunda-feira, a Promotoria havia dado 72 horas para que o governo estadual fornecesse a lista com a relação dos mortos durante o período dos ataques e cópias dos boletins de ocorrência, pelos quais se poderia ter mais clareza das circunstâncias em que as mortes ocorreram. Os laudos necroscópicos tinham um prazo maior, de cinco dias. Mas ontem só foram entregues os laudos -e ainda assim sem o devido esclarecimento.
Segundo o Ministério Público, o não-cumprimento da "ordem" incorre em crime de desobediência, sujeito a pena de 15 dias a seis meses de detenção. A punição está prevista no artigo 330 do Código Penal.
Mas ontem, após o recebimento parcial do material solicitado, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo César Rebello Pinho, disse que só falaria sobre o caso hoje.
Em entrevista coletiva ontem, o secretário da Segurança Pública não informou quantos nomes teria a lista nem quantos laudos periciais seriam encaminhados. Quando questionado pela quinta vez se iria entregar o material ainda ontem, Saulo irritou-se. "Meu Deus, mas que dificuldade você tem de compreensão. É a distância ou é o cérebro?"
A Folha solicita essa listagem desde o domingo retrasado. Mas a pasta da Segurança reteve o material para "não atrapalhar as investigações".
(AFRA BALAZINA, FABIANE LEITE, FABIO SCHIVARTCHE E GILMAR PENTEADO)


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.