|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA URBANA
Advogado do PCC é detido em sessão da CPI
"A gente aprende rápido aqui", disse Sérgio Weslei da Cunha, na Câmara, ao ser indagado sobre aprendizado com a malandragem
Acareação não eliminou as dúvidas sobre a acusação de técnico de som da Casa de que vendeu cópia do áudio de sessão secreta à facção
FÁBIO ZANINI
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma resposta atravessada,
com a insinuação de que a Câmara dos Deputados é uma espécie de escola de malandros,
levou o advogado Sérgio Weslei
da Cunha a ser preso, algemado
e xingado por parlamentares da
CPI do Tráfico de Armas.
A acareação entre ele, outra
advogada que tem como cliente
membros da facção PCC, Maria
Cristina Rachado, e Arthur Vinicius Silva, técnico de som da
Câmara, manteve dúvidas sobre a acusação do servidor de
que vendeu áudio de sessão secreta para os dois por R$ 200.
A sessão teve vários instantes
teatrais. Os advogados mantiveram os figurinos dos depoimentos de terça: ela chorou;
Cunha se irritou com as perguntas, muitas delas agressivas.
Foi numa dessas provocações que ele acabou preso. Após
repetir incontáveis vezes que
ficaria calado, ouviu uma pergunta debochada do deputado
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).
"Você aprendeu bem com a
malandragem, hein?". A resposta foi no mesmo tom: "A
gente aprende rápido aqui".
A reação foi imediata. Laura
Carneiro (PFL-RJ) chamou os
delegados que acompanhavam
a sessão. O advogado recuou,
dizendo que o "aqui" não era
referência à Câmara, mas ao
Brasil. Mas já era tarde.
Após os deputados ouvirem a
fita da sessão, o presidente da
CPI, Moroni Torgan (PFL-CE),
deu voz de prisão com base no
Código Penal (desacato a funcionário público, com pena de
até dois anos de prisão).
Cunha aplaudiu em sinal de
ironia ao ser algemado. Foi levado pela polícia da Câmara a
uma sala ao lado da CPI, onde
ficou quase três horas. "Reagi à
injusta provocação. Houve
abuso de autoridade", disse, ao
deixar a Câmara em liberdade.
O depoimento continuou
com Maria Cristina, sentada de
frente para Arthur. "Você me
faz uma acusação grave, que
envolve vidas", disse ela ao técnico, que usava colete à prova
de balas e era vigiado por dois
policiais federais armados. "Ela
está mentindo", rebateu ele.
A advogada, aparentando
nervosismo, deu nova versão
para a conversa que teve com
Arthur no dia em que as gravações foram feitas, insinuando
que o servidor teria pedido dinheiro. "Ele me perguntou qual
seria o valor do cafezinho." O
técnico repetiu que era mentira
e que ela na verdade havia colocado quatro notas de R$ 50 no
bolso do seu paletó na loja em
que as cópias foram feitas.
Mais tarde, ela disse: "Ele
[Arthur] não queria receber o
dinheiro lá dentro". "Mas então
houve uma oferta?", perguntou
Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Maria Cristina se corrigiu:
"Não, não houve nada". Como
afirmara na terça, disse que tinha medo do PCC, embora tivesse negado elo com a organização. "A gente vê que é uma
organização perigosa."
Após as seis horas de depoimento, os deputados se diziam
convencidos de que os advogados mentiram. "Fiquei com a
certeza de que compraram a
gravação a mando do PCC", disse Torgan. No final da tarde,
houve uma ameaça anônima,
por telefone, contra o presidente da CPI. A PF foi acionada.
Devido à acusação de compra
da gravação, a CPI pediu à Justiça paulista, na semana passada, a prisão dos advogados. Nenhuma decisão havia sido tomada até a noite de ontem.
Texto Anterior: Greve de agentes afeta 34 presídios, segundo o governo Próximo Texto: Frases Índice
|