São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA URBANA

Advogado do PCC é detido em sessão da CPI

"A gente aprende rápido aqui", disse Sérgio Weslei da Cunha, na Câmara, ao ser indagado sobre aprendizado com a malandragem

Acareação não eliminou as dúvidas sobre a acusação de técnico de som da Casa de que vendeu cópia do áudio de sessão secreta à facção

FÁBIO ZANINI
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma resposta atravessada, com a insinuação de que a Câmara dos Deputados é uma espécie de escola de malandros, levou o advogado Sérgio Weslei da Cunha a ser preso, algemado e xingado por parlamentares da CPI do Tráfico de Armas.
A acareação entre ele, outra advogada que tem como cliente membros da facção PCC, Maria Cristina Rachado, e Arthur Vinicius Silva, técnico de som da Câmara, manteve dúvidas sobre a acusação do servidor de que vendeu áudio de sessão secreta para os dois por R$ 200.
A sessão teve vários instantes teatrais. Os advogados mantiveram os figurinos dos depoimentos de terça: ela chorou; Cunha se irritou com as perguntas, muitas delas agressivas.
Foi numa dessas provocações que ele acabou preso. Após repetir incontáveis vezes que ficaria calado, ouviu uma pergunta debochada do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). "Você aprendeu bem com a malandragem, hein?". A resposta foi no mesmo tom: "A gente aprende rápido aqui".
A reação foi imediata. Laura Carneiro (PFL-RJ) chamou os delegados que acompanhavam a sessão. O advogado recuou, dizendo que o "aqui" não era referência à Câmara, mas ao Brasil. Mas já era tarde.
Após os deputados ouvirem a fita da sessão, o presidente da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), deu voz de prisão com base no Código Penal (desacato a funcionário público, com pena de até dois anos de prisão).
Cunha aplaudiu em sinal de ironia ao ser algemado. Foi levado pela polícia da Câmara a uma sala ao lado da CPI, onde ficou quase três horas. "Reagi à injusta provocação. Houve abuso de autoridade", disse, ao deixar a Câmara em liberdade.
O depoimento continuou com Maria Cristina, sentada de frente para Arthur. "Você me faz uma acusação grave, que envolve vidas", disse ela ao técnico, que usava colete à prova de balas e era vigiado por dois policiais federais armados. "Ela está mentindo", rebateu ele.
A advogada, aparentando nervosismo, deu nova versão para a conversa que teve com Arthur no dia em que as gravações foram feitas, insinuando que o servidor teria pedido dinheiro. "Ele me perguntou qual seria o valor do cafezinho." O técnico repetiu que era mentira e que ela na verdade havia colocado quatro notas de R$ 50 no bolso do seu paletó na loja em que as cópias foram feitas.
Mais tarde, ela disse: "Ele [Arthur] não queria receber o dinheiro lá dentro". "Mas então houve uma oferta?", perguntou Carlos Sampaio (PSDB-SP). Maria Cristina se corrigiu: "Não, não houve nada". Como afirmara na terça, disse que tinha medo do PCC, embora tivesse negado elo com a organização. "A gente vê que é uma organização perigosa."
Após as seis horas de depoimento, os deputados se diziam convencidos de que os advogados mentiram. "Fiquei com a certeza de que compraram a gravação a mando do PCC", disse Torgan. No final da tarde, houve uma ameaça anônima, por telefone, contra o presidente da CPI. A PF foi acionada.
Devido à acusação de compra da gravação, a CPI pediu à Justiça paulista, na semana passada, a prisão dos advogados. Nenhuma decisão havia sido tomada até a noite de ontem.


Texto Anterior: Greve de agentes afeta 34 presídios, segundo o governo
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.