São Paulo, sábado, 26 de maio de 2007

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ENTREVISTA
ANTANAS MOCKUS


No futuro, grandes cidades terão pedágio

Para o ex-prefeito de Bogotá, não se deve usar dinheiro público para as caras obras que o tráfego de carros precisa

Pai da revolução urbana da capital colombiana defende imposto sobre combustível para financiar transporte público e manutenção de vias

Leonardo Wen/Folha Imagem
Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, no viaduto do Chá, centro de SP; para ele, prefeitura deveria explorar aspectos que mostrem o amor dos paulistanos à cidade

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O filósofo e matemático Antanas Mockus, 55, encontrou-se esta semana com o governador José Serra (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), secretários municipais e estaduais, além de líderes de ONGs. A agenda de reuniões do ex-prefeito (por duas vezes) de Bogotá são prova de seu prestígio.
Mockus é considerado o pai da revolução urbana que transformou a capital colombiana em exemplo de como fazer muito com pouco dinheiro.
Mesmo com um orçamento que representa um terço de São Paulo, a ainda pobre Bogotá, 8 milhões de habitantes, apresenta inovações em transporte público, educação no trânsito, habitação e cultura. A taxa de homicídios, que era de 80 por 100 mil habitantes em 1993, baixou para 18 no ano passado.
Em entrevista à Folha, Mockus falou que os impostos devem ser "redistributivos", priorizando habitação e transporte público e sugere um "pacto de cidadania" com os motoboys.
 


TRANSPARÊNCIA
Em Fortaleza, vi um estudo que fizeram com os presidiários, dizia que eles gostavam mais de assaltar casas com muros altos. O ladrão teme a transparência, que permite que os vizinhos, a polícia ou um pedestre possam ver o que acontece se houve uma invasão. A vigilância eletrônica e a vigilância social funcionam mais sem áreas escondidas.
A segurança melhorou em Bogotá com mais espaço público, que é sagrado. Discutimos muito para que as ciclovias passassem por dentro de condomínios fechados. Quanto mais ciclista na rua, mais seguro. Sempre teremos espaços mais seguros quando o povo ocupa a cidade à noite.

MOTOBOYS
Sei que há um culto à velocidade, muito risco, muitos acidentes. Mas eles também são entusiastas, cheios de energia, muito solidários entre si. Quando um cai, todos param para ajudar. E necessários, né? Por que não se criam duas ou três regras que premiaria os motoboys mais admiráveis e sensatos? Por que não fazer uma homenagem ao motoboy que não quebra espelhinhos, que respeita os colegas, que é bom exemplo? Eu faria um pacto de cidadania com eles.

FECHAR AVENIDAS
Nosso rodízio atinge 40% dos carros por dia. Quatro números não podem circular durante seis horas por dia. Aos domingos, fechamos as principais avenidas por várias horas e elas se tornam um grande parque. É um dia de mais exercício físico, as pessoas ficam de melhor humor, a poluição diminui.
Investimento prioritário é transporte público. Menos espaço e verbas para o transporte privado de carro, prioridade para faixas exclusivas de ônibus, melhorar as calçadas...
Criei um imposto sobre a gasolina de 25%. Metade do arrecadado vai para o sistema de ônibus, a outra para a manutenção viária, incluídas as calçadas. Todas as grandes cidades terão que seguir Cingapura e Londres no futuro e ter um pedágio eletrônico. Usar carro em certas horas é caro, não dá para tirar dinheiro público para fazer as obras caríssimas que demanda o tráfego de carros. Investir em transporte público é redistribuir renda.

EU AMO SP
Pergunte a um grande industrial se ele mudaria para uma cidade pequena ou se ele continuaria em São Paulo. O que faz São Paulo tão atraente? A prefeitura deveria pesquisar quais são as dez principais razões para se morar em São Paulo, perguntar ao munícipe o que ele deve à cidade e conectar as respostas com ações que fortaleçam e potencializem aspectos criativos de amor com a cidade.

COMO PARIS
Para fazer conjuntos habitacionais, o governo comprou terras e estipulava um plano diretor. As construtoras então competiam entre si, fazendo apartamentos de 45 m2, subsidiados. Os lotes tinham urbanismo básico, água, luz, calçadas antes das empreiteiras terminarem os edifícios, de cinco andares, ou casas que pudessem ser ampliadas. O ideal é fazer como os parisienses: morar em apartamentos pequeninos, mas ter uma cidade maravilhosa onde conviver. Temos que fazer a reforma urbana a tempo, coisa que não soubemos fazer no passado com a agrária

NA INTERNET - Leia a íntegra da entrevista www.folha.com.br/071451


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