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Apenas 9% das presas têm visita íntima
Levantamento feito em presídios femininos aponta que 62% das mulheres presas no país não recebem visitas sociais
Segundo o governo federal, quadro nos estabelecimentos penais masculinos é bem diferente: 20% dos presos
não recebem visitas sociais
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um raio-X nos estabelecimentos penais femininos do
país revela que 62% das mulheres presas não recebem visitas
sociais. O isolamento é ainda
mais nítido em visitas íntimas:
apenas 9% das presas recebem
esse tipo de visita. Segundo o
governo federal, o quadro nos
estabelecimentos penais masculinos é bem diferente. Neles,
o índice de presos que não recebem visitas sociais é de 20%
-uma diferença de quase 70%
em relação às mulheres presas.
Os dados sobre as mulheres
encarceradas constam de recente levantamento do Depen
(Departamento Penitenciário
Nacional), órgão vinculado ao
Ministério da Justiça e que reuniu os dados a partir de questionários respondidos pelos governos estaduais. Segundo o
documento "Mulheres Encarceradas - Diagnóstico da Realidade", hoje, 70% dos estabelecimentos penais (mistos ou exclusivos de mulheres) no país
permitem a visita íntima.
"A visita íntima ainda passa
pelo preconceito, por ainda termos uma sociedade muito machista. O homem talvez se sinta
envergonhado de visitar a mulher e ter com ela um relacionamento íntimo na prisão, enquanto as mulheres vão [aos
presídios] e se casam com os
homens", afirma a juíza Dora
Martins, presidente do conselho executivo da AJD (Associação Juízes para a Democracia).
"Quando a mulher entra no
presídio, é mais ou menos como assinar um divórcio. Os homens não são tão fiéis como as
mulheres", diz o padre Günter
Zgudic, coordenador da Pastoral Carcerária Nacional.
Há, hoje, cerca de 27 mil presas no Brasil, distribuídas em
508 estabelecimentos penais,
sendo 58 deles exclusivos para
as mulheres. Na maioria dos estabelecimentos, a situação é
precária: só 27% deles contam
com celas especiais para o isolamento da presa (o chamado
"seguro") -como o ocupado,
hoje, por Anna Carolina Jatobá
na penitenciária feminina de
Tremembé (interior de SP).
Ainda segundo o relatório do
Depen obtido pela Folha, 35%
dos estabelecimentos com mulheres têm médico de plantão;
25%, atividades educacionais;
19%, berçário; e 16%, creches.
"Lamentavelmente, não há a
observância da Lei de Execução Penal, e os Estados, parece,
fazem questão de ignorá-la. Os
estabelecimentos penais, como
regra, não são dotados dos requisitos contidos na lei", afirma o diretor do Depen, Maurício Kuehne. "O quadro, como
um todo, é triste. Chegamos a
um ponto em que o quadro
atual não pode persistir, precisa ser melhorado."
O que acontece muitas vezes,
segundo o governo, é que presídios construídos para homens
são desativados e, depois,
transformados em locais para
abrigar mulheres -ou seja,
sem a estrutura adequada às
necessidades femininas.
"O quadro é caótico. As mulheres [presas] são afastadas
dos filhos. A maioria das unidades prisionais aparta a criança
da mãe como um bicho da fêmea. Essa criança é colocada
num abrigo, e a mãe nem sabe
onde ela está", diz Elisabete
Pereira, diretora da Subsecretaria de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria Especial de Políticas
para as Mulheres. "Não há
tempo de preparar a separação
ou para que a mãe acione alguém da família para assumir
essa criança."
Para minimizar tal quadro, a
União passou a condicionar o
repasse de verbas aos Estados
às contrapartidas desses governos ao Plano Diretor do Sistema Penitenciário. Nele, há 22
metas para curto, médio e longo prazos -como assistência à
saúde e à educação e profissionalização de presos e presas.
O levantamento do Depen
também identificou um perfil
das mulheres presas semelhante ao dos presos: 60% delas são
negras (contra 55% dos homens e de 49% da população
total negra do país), 27% têm
entre 18 anos e 24 anos (contra
31% dos homens) e 44% possuem o ensino fundamental incompleto (40% dos homens).
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