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MASSACRE DO CARANDIRU
Testemunha afirma, ao depor, que levou tiros quando pediu ajuda a policiais
PM desprezou feridos, diz ex-preso
DA REPORTAGEM LOCAL
Das sete testemunhas da acusação que prestaram depoimento
ontem até as 21h, Aparecido Donizete Domingues, um dos sobreviventes do massacre, foi quem
fez as afirmações mais contundentes. Disse à juíza que, em sua
cela, viu sete detentos que tinham
sido atingidos por disparos de PM
agonizarem até morrer.
Em seu depoimento, Donizete
disse que na cela, quando já tinha
levado três tiros, passou no rosto
sangue de seus companheiros para fingir que estava morto.
Disse que pediu socorro a dois
policiais militares, mas estes, em
resposta, segundo ele, deram em
direção à cela uma rajada de tiros
de metralhadora, dos quais dois
lhe atingiram. Um dos policiais
teria dito que estava ali não para
socorrer, mas para matar, conforme disse a testemunha.
A juíza lhe perguntou por que
ele tinha conseguido sobreviver.
"É o que me pergunto até hoje",
foi a resposta.
Donizete e as demais testemunhas que prestaram depoimento
na tarde de ontem -Paulo Roberto de Oliveira Bororó, Luiz
Alexandre de Freitas, Genivaldo
Araújo dos Santos- afirmaram
que não houve por parte dos detentos a intenção de entrar em
confronto com a policia e que
ninguém, dos presos do Pavilhão
9, estava com arma de fogo.
O advogado da defesa, Vicente
Cascione, disse, em entrevista,
que as testemunhas "mentiram
muito". O promotor Felipe Cavalcanti disse que ficou satisfeitos
com os depoimentos.
Ameaça
O detento Paulo Roberto de Oliveira Bororó disse que, na carceragem do Fórum da Barra Funda,
foi ameaçado de morte por um
suposto policial militar à paisana.
"Ele [o suposto policial" disse
que ia dar tiro na gente", afirmou
Bororó à juíza Maria Cristina Cotrofe, que preside o julgamento
do coronel Ubiratan Guimarães,
acusado de ser o responsável das
111 mortes do caso.
Bororó é um dos quatro presos
que estavam no fórum sob a guarda da polícia civil desde quarta-feira, primeiro dia do julgamento,
para depor como testemunhas.
A juíza Maria Cristina disse que,
para apurar o "incidente", abriu
uma sindicância, arquivando-a
em seguida porque, conforme
constatou, as testemunhas não se
sentiram intimidadas para prestar o depoimento.
"Algum engraçadinho tentou
atrapalhar o julgamento", afirmou o promotor Felipe Locke Cavalcanti, que é um dos responsáveis pela acusação.
Julia Rochester, representante
da Anistia Internacional, disse
que "estranhou" a ameaça de
morte, porque, disse, as informações que ela tem de autoridades
brasileiras são de que as testemunhas "iam ter toda a proteção".
Hoje, a partir das 9h, vão depor
as três últimas testemunhas da
acusação e as quatro da defesa. Os
debates devem começar amanhã,
quando a acusação e a defesa afirmaram que haverá "surpresas".
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