São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2001

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TRANSPORTE

Juízes do Trabalho julgam abusiva paralisação que afetou 2,5 milhões de usuários e multam em R$ 100 mil

Metroviários decidem manter a greve

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) ter julgado, ontem à tarde, a greve dos metroviários abusiva, os funcionários do metrô decidiram, por volta das 21h, manter a paralisação hoje.
Cerca de mil trabalhadores, segundo a direção do Sindicato dos Metroviários, presentes à assembléia de ontem aprovaram por unanimidade a proposta da direção do sindicato, que reduziu as reivindicações mas manteve a greve por tempo indeterminado.
À tarde, os juízes do TRT haviam julgado por 11 votos a 0 a greve abusiva. E, por 10 votos a 1, determinaram que os funcionários voltassem ao trabalho no turno das 22h, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.
O Metrô ameaça começar a demitir os grevistas. "Foi declarada abusividade da greve, e não ilegalidade. São coisas diferentes, e a empresa não pode demitir por justa causa", disse o advogado do sindicato Magnus Farkatt.
A paralisação, iniciada à 0h de ontem, afetou 2,5 milhões de usuários em São Paulo, segundo a companhia, e 2,7 milhões, pela estimativa dos grevistas.
O trânsito chegou a registrar 129 quilômetros de congestionamento, às 9h. No mesmo horário da segunda-feira passada, o congestionamento foi de 97 quilômetros.
Logo após o julgamento do TRT, o presidente do Sindicato do Metroviários, Onofre Gonçalves de Jesus, já antecipara que a greve deveria continuar.
Os 7.300 metroviários decidiram entrar em greve anteontem, reivindicando 7,74% de reajuste salarial, 4,14% de produtividade e 7,86% de reposição da inflação no período de 1999 a 2000.
O TRT havia concedido reajuste de 7% e produtividade de 4% aos metroviários, mas o Metrô recorreu ao TST (Tribunal Superior do Trabalho) e conseguiu, na sexta-feira, derrubar a decisão do TRT.
O presidente do TST, ministro Almir Pazzianotto, manteve os 7% de reajuste e indeferiu o percentual de produtividade. Ele também acabou com o anuênio dos metroviários -uma gratificação de 1% por ano de serviço- e reduziu o adicional noturno de 50% para 20% e as horas-extras de 100% para 50% sobre o valor da hora comum.
Depois das derrotas judiciais, os metroviários votaram por manter a greve, apesar da multa diária de R$ 100 mil, mas abrandaram as reivindicações. "Prova de que queremos negociar", afirmou o presidente do sindicato.
Na nova proposta, aprovada ontem à noite, os trabalhadores pedem 7% de reajuste, manutenção do adicional noturno de 50% e do anuênio para todos os contratados até 30 de abril, 70% para as horas-extras, que a empresa pague um ponto percentual dos 2% descontados dos salários para o plano de saúde e que os dias de greve não sejam descontados.
Durante a assembléia, o presidente do sindicato ainda conversou por telefone com o presidente do Metrô, Caetano Jannini Neto, mas não houve acordo.
Jannini Neto propôs uma reunião com os sindicalistas hoje às 14h, desde que voltassem imediatamente ao trabalho ainda no turno das 22h de ontem. Segundo a assessoria de imprensa, o Metrô vai seguir as decisões do TST e não negocia durante a greve.
Os metroviários querem uma reunião sem suspender a paralisação. "Sair agora [da greve", com todas as perdas, seria um equívoco", disse Jesus.
A média salarial dos metroviários, segundo o sindicato, é de R$ 1.100. O piso é o salário de um ajudante de manutenção: R$ 539. De acordo com o Metrô, o salário médio é de R$ 1.900, e o piso é de R$ 711. Na carreira dos engenheiros estão os maiores salários, que variam de R$ 2.200 a R$ 3.500.
Na manhã de ontem, nenhum trem do metrô circulou em São Paulo, apesar da liminar obtida na sexta-feira pelo Ministério Público, que determinou a circulação de 100% dos trens no horário de pico e 50% no horário normal.
Muitos usuários foram surpreendidos com a greve.
A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) aumentou em 30% a circulação de composições na linha leste das 6h às 8h30. O intervalo entre as composições caiu de oito minutos para seis minutos.
A SPTrans, que administra o transporte de ônibus, orientou as empresas a colocar todos os 10,3 mil ônibus da frota nas ruas e a estender até o centro as 127 linhas de integração com o metrô. Ontem, a prefeitura liberou a zona azul e suspendeu o rodízio. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) vai monitorar hoje a greve e, às 6h, anuncia as novas decisões. (ESTANISLAU MARIA E MELISSA DINIZ)


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