São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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TRANSPORTES

Motoristas suspendem paralisação, que durou dois dias, após aprovar proposta que já havia sido feita na sexta-feira

Sindicato aceita acordo antigo e greve acaba

ALENCAR IZIDORO
PALOMA COTES

DA REPORTAGEM LOCAL

Os motoristas de ônibus de São Paulo suspenderam ontem à noite a greve que já durava dois dias depois de aceitar uma proposta de reajuste salarial que já havia sido oferecida à categoria.
A paralisação, que prejudicou 3,7 milhões de passageiros no segundo dia consecutivo, foi a maior já enfrentada pela administração Marta Suplicy (PT).
O acordo entre patrões e empregados foi definido durante a tarde no TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Ele prevê um reajuste de 6% sobre os salários de maio de 2001, elevação do vale-refeição de R$ 6,80 para R$ 7,00, R$ 50 de convênio médico e manutenção da jornada de trabalho de sete horas, com 30 minutos de refeição.
A proposta é praticamente igual à que havia sido feita na última sexta-feira pelo secretário dos Transportes, Carlos Zarattini, e recusada pela categoria. O secretário de assuntos jurídicos do sindicato dos motoristas, Geraldo Diniz da Costa, disse ontem que ela não havia sido aceita anteriormente pela direção da entidade, que é ligada à Força Sindical, porque não tinha sido formalizada.
"Não tínhamos nada oficial, nada por escrito. Se a proposta fosse feita com responsabilidade, a greve não teria acontecido", afirmou.
A sugestão de Zarattini embutia as duas principais reivindicações que foram acordadas ontem: manutenção da jornada de trabalho de sete horas, alta de 6% dos salários e convênio médico de R$ 50. Os motoristas não abriam mão de um reajuste de 8% sobre os salários de maio deste ano.
Zarattini disse que a aceitação da proposta ontem no TRT comprova a conotação política da greve. O ex-presidente da Força Sindical Paulo Pereira da Silva será candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes (PPS) e acompanhou as negociações. "Está demonstrado que a intenção da greve era política, para prejudicar a administração do PT."
O presidente em exercício da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, negou a manipulação política da paralisação e aproveitou para fazer críticas ao PT. "Não temos culpa se o PT está tendo problemas em Santo André, no Rio e se o Lula está caindo nas pesquisas. Não temos culpa da incompetência dessa administração."
A prefeita Marta Suplicy já tinha previsto pela manhã a possibilidade de os motoristas aceitarem um acordo parecido com aquele que havia sido proposto antes.
O candidato a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes divulgou uma nota dizendo que "a prefeita não consegue resolver os problemas de São Paulo" e "tenta jogar a culpa em quem nada tem a ver com sua incapacidade".
O diretor-jurídico do Transurb (sindicato patronal), Antonio Sampaio Amaral Filho, reconheceu que a proposta aceita ontem era igual à que já havia sido feita na sexta, mas não criticou os trabalhadores. "O momento é diferente, a conjuntura é diferente. A greve amadurece todo mundo."
O acordo fechado no TRT também é semelhante ao que foi proposto no TST (Tribunal Superior do Trabalho) na semana passada. A diferença é que a idéia sugerida no TST contemplava uma jornada dez minutos superior.

Números
Em cada dia da greve, segundo a SPTrans (órgão responsável pelo transporte coletivo), 3,7 milhões de pessoas foram prejudicadas. A adesão foi praticamente total por parte dos 50 mil motoristas.
Além do sofrimento dos passageiros, nos dois dias de paralisação houve depredação de ônibus que "furaram" o movimento. Ontem, nove veículos foram apedrejados e motoristas, agredidos.
Com o acordo de ontem, o julgamento da greve pelo TRT ficou suspenso e poderá ser realizado em 48 horas.



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