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GREVE DE ESTUDANTES
Professores e alunos afirmam que FFLCH enfrenta problemas por rejeitar modelo adotado pela universidade
Debate critica mercantilização na USP
DA REPORTAGEM LOCAL
"A FFLCH tem resistido ao modelo de USP que vem sendo implantado há 10, 11 anos, o que leva à animosidade com a reitoria e à crise que enfrentamos. Estamos pagando o preço por nos considerarmos dignos de uma universidade pública de qualidade e, como isso nada vale na luta política do poder da burocracia universitária, estamos aqui."
As afirmações da professora de filosofia Marilena Chaui resumem o que docentes, alunos e a
direção da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo
(FFLCH/USP) apontam como
principal razão para a situação em
que a unidade se encontra, e que
motiva uma greve dos estudantes
que completa hoje 57 dias. Trata-se de uma questão ideológica.
Marilena foi uma das participantes do debate "Crise na USP",
promovido anteontem pela Folha, com mediação do jornalista
Gilberto Dimenstein. Os outros
integrantes da mesa de discussões
foram o diretor da FFLCH, Francis Henrik Aubert, e os estudantes
Gustavo Garcia, representando os
alunos da unidade, e Fábio Vannuchi, do DCE (Diretório Central
dos Estudantes) da USP.
Apesar de ter sido insistentemente convidada a comparecer, a
reitoria da USP informou que não
o faria por falta de tempo, mesmo
após a organização do evento ter
se mostrado disposta a remarcar a
data para atender à agenda da direção da universidade.
Muito aplaudida pelas cerca de
cem pessoas da platéia, Marilena
ressaltou que a FFLCH "disse
não" a pelo menos quatro medidas que vêm sendo adotadas em
quase toda a USP e que representam a sua "escolarização".
"Somos contra a terceirização e
privatização dos cursos, colocadas em prática pela criação das
fundações; a contratação de professores temporários, que ignora
a natureza de um curso universitário que depende de pesquisa,
planejamento e continuidade; a
massificação do ensino, que aumenta o número de vagas e diminui o de professores, propondo
que os cursos tenham a forma de
uma conferência; e os cursos sequenciais de curta duração."
"Curta duração, só se for a curta
inteligência da direção universitária", completou a professora, que
integra um grupo de notáveis da
FFLCH, responsável pelo acompanhamento das negociações
com a reitoria para o fim da greve.
A dimensão política da crise na
faculdade foi a tônica também da
exposição de Vannuchi. Para o estudante, é preciso resgatar esse aspecto nas discussões e avaliações.
"A instituição FFLCH está sendo
totalmente desqualificada. Dizem
que é um problema de administração da faculdade. É uma simplificação tamanha que a gente não pode ser ingênuo de aceitar."
Mais professores
A principal reivindicação dos
cerca de 13 mil alunos da FFLCH é
a contratação de 259 novos professores. "Somando aos 349 que já
existem, chegaríamos a uma média de 21 estudantes por professor, o que ainda está bastante acima da média da USP, que é de 14
para 1", afirmou Garcia.
Segundo ele, o cumprimento
dessa exigência representaria um
gasto de cerca de 1% do orçamento da USP para este ano, que é de
R$ 1,4 bilhão. Na avaliação dos
alunos, o investimento no corpo
docente é prioritário e factível.
"Existe verba, existe dinheiro. O
problema não é esse."
"Consideramos fundamental
que sejam mantidos os parâmetros históricos de qualidade na
graduação, na pós-graduação e na
extensão; o que obviamente não
pode ser feito com o número de
professores que temos", disse.
Desde 1990, o total de docentes
ativos da FFLCH vem diminuindo, principalmente em decorrência de aposentadorias. Passou de
442 para quase 350. Enquanto isso, no mesmo período, o número
de alunos cresceu cerca de 30%
por causa do aumento da oferta
nos cursos noturnos (o que obedece a uma determinação legal) e
da instituição do ciclo básico no
curso de letras, o que, segundo
Aubert, diminuiu a evasão.
Hoje a unidade tem 20% do total de alunos da USP e 7,2% do
corpo docente da universidade.
"Eu dou aula para duas turmas
de 150 alunos, com microfone. Eu
me considero a Hebe Camargo, e
não uma professora de filosofia.
Isso significa que ninguém aproveita nada", disse Marilena.
Desde abril de 98, a FFLCH pediu, segundo Aubert, um total de
165 professores, mas o saldo, depois de contratações e afastamentos, é de pouco mais de 40.
Agora a comunidade acadêmica
requisita 115 professores num primeiro momento e mais 40 por
ano, nos próximos quatro ou cinco anos -o que corresponderia a
cerca de 20% das contratações de
toda a universidade. Mas a reitoria só ofereceu 26 novas vagas.
"Eu entendo que a reitoria vai
ter de ceder porque vai perceber
que sem a FFLCH não há USP que
se sustente. Eu tenho a palavra do
presidente da Comissão de Planejamento e Patrimônio de que a
universidade poderia contratar
120 professores sem criar uma
grande revolução orçamentária",
sustentou Aubert no debate.
Onde mais?
Apesar de admitir os problemas, estudantes e professores defendem a FFLCH e a USP. "Onde mais teríamos a formação que
buscamos?", questionou Garcia.
"Apesar de os alunos chegarem
e não terem professor para dar
aula neste ano, eles têm pelo menos a expectativa de que, com
nosso movimento, ano que vem
eles conseguirão ter esse professor que em nenhum outro lugar
eles teriam", disse o estudante.
"É muito duro lidar com a miudeza da direção universitária, mas
a gente gosta da USP e da FFLCH, então nós estamos lá, para sempre", sintetizou Marilena.
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