São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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SEGURANÇA

Vinte e dois garotos abusaram sexualmente de jovem; agressores marcaram em seu corpo a sigla do Comando Vermelho

Adolescente é violentado em abrigo no Rio

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Um jovem de 16 anos foi violentado por outros adolescentes dentro do Instituto Padre Severino, abrigo para menores infratores na Ilha do Governador (zona norte do Rio). Com uma faca artesanal, os agressores marcaram o corpo dele com a sigla CV (Comando Vermelho).
F. C. S. contou que foi castigado porque não pagou uma dívida: ele pediu seis cigarros a um dos garotos e prometeu pagar no dia da visita familiar. A mãe, porém, não sabia que ele havia sido detido no dia 3 e não apareceu no instituto no dia 8, quando as visitas ocorreram. À noite, enquanto dormia, F. foi amarrado e amordaçado.
F. foi violentado por oito internos e obrigado a praticar sexo oral em outros 14. Ao final, eles apanharam uma escova de dentes, que havia sido afiada com estilete, e marcaram a sigla CV nas nádegas e no pulso esquerdo do jovem.
"Eles diziam que, como eu não tinha pago com dinheiro, teria que pagar com a vida", contou.
F. disse que os maus-tratos ocorreram das 23h30 do dia 8 até as 5h30 do dia seguinte. De manhã, F. relatou o ocorrido a um agente. Ele fez exame de corpo de delito e foi levado a um hospital.
F. disse que não integra nenhuma facção criminosa. O instituto é dominado pelo CV. Segundo ele, os menores que "comandam" a instituição são, normalmente, gerentes de bocas-de-fumo.
A mãe de F., D., 40, só soube da prisão -feita em flagrante por tentativa de furto a um restaurante- e dos maus-tratos sofridos pelo filho no dia 12, quando recebeu um telegrama pedindo que fosse ao Padre Severino.
A partir do dia 9, F. passou a ocupar uma cela com internos que não participaram das agressões, ficando dia e noite trancado, pois corria o risco de ser morto.
Ontem, D. procurou o Ministério Público para pedir a retirada do filho do Padre Severino. O promotor Márcio Mothé ficou indignado com a história e mandou a retirada de F. da instituição.
"Não sabíamos de nada. Nem a direção do Padre Severino nem o Degase [Departamento Geral de Ações Sócio Educativas" nos avisaram", disse. Ele redigiu uma ação contra o Estado por omissão e pediu que, se não forem tomadas medidas que solucionem o problema no instituto, o Padre Severino seja interditado.
F. seria encaminhado na noite de ontem para uma outra instituição de menores infratores. Até as 19h o Degase e a Secretaria Estadual de Direitos Humanos não tinham comentado o episódio.



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