|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Promotor público vive sob ameaça e medo
Lincoln Gakiya só vai e volta do trabalho escoltado pela PM; "com muito medo de morrer", ele anda o tempo todo armado
Alvo dos criminosos do PCC, Gakiya mantém álbum com fotos deles no carro. "Para poder reconhecê-los na rua e também reagir", explica
DO ENVIADO ESPECIAL A PRESIDENTE
VENCESLAU
Amigo pessoal do juiz-corregedor Antonio José Machado
Dias, morto a tiros aos 47 anos e
a mando do PCC (Primeiro Comando da Capital), em março
de 2003, pouco depois de deixar o fórum de Presidente Prudente (565 km de SP), onde era
responsável pelos presídios da
região oeste do Estado, o promotor público Lincoln Gakiya,
39, luta hoje para escapar do
mesmo destino do magistrado.
Revoltados com o estilo "linha-dura" do promotor, responsável por algumas investigações contra o grupo criminoso e as conseqüentes denúncias
dos seus integrantes à Justiça,
o que quase sempre implica em
acréscimo de condenação, os líderes do PCC decretaram, em
2005, a morte de Gakiya.
"Com muito medo de morrer", como frisa quando fala da
tensa rotina que enfrenta por
causa das ameaças do PCC, o
promotor só faz o trajeto casa-trabalho sob uma forte escolta
da PM. Aos sábados, domingos
e feriados, quando o fórum de
Presidente Bernardes (589 km
de SP) não abre e a escolta não o
acompanha, a segurança do
promotor, da mulher e dos filhos é carregada na cintura.
"Nunca imaginaria que o
exercício regular da minha função iria causar isso na minha vida", diz Gakiya, que entrou para o Ministério Público com 24
anos e que, hoje, com 400 líderes da facção confinados na Penitenciária 2 de Venceslau, não
descarta ser obrigado a tirar o
quarto pedido de licença médica por estresse.
"Como sei quem são alguns
dos líderes do PCC que querem
a minha morte, ando com as fotos de alguns deles no meu carro o tempo todo. Um deles é
Tim [Jailton Ferreira dos Santos, que fugiu da prisão de Valparaíso no mês passado e foi recapturado pela polícia do Paraná semana passada]", afirma
Gakiya, defensor dos benefícios
das videoconferências, que evitariam que presos de alta periculosidade fossem removidos
das prisões para ir ao fórum para audiências.
"Eu ainda tenho a proteção
do pessoal da PM. E os agentes
que trabalham diretamente
com esses presos, quem é que
cuida deles e de suas famílias?
Ninguém. Por isso a cidade vive
esse clima de tensão hoje.
Quando a turma vê alguém de
fora, a suspeita é grande, não
tem jeito", explica o promotor,
que, desconfiado, só aceitou
abrir a porta de sua sala para receber a Folha após constatar,
com direito a consulta de antecedentes criminais do repórter,
que não eram criminosos que o
procuravam no fórum.
"Para evitar que mais pessoas sejam mortas como o doutor Machado, precisamos criar
urgentemente as figuras dos
juízes e promotores sem rosto,
que não aparecem nas ações. A
turma do PCC é covarde, nunca
hesitaria em atentar contra a
nossos familiares", afirma Gakiya, depois de relembrar o pânico vivido durante o jogo entre Brasil e Austrália. "Uma
moto parou na porta da casa
onde estávamos e anotou a placa do meu carro. Ali acabou a
alegria, pois imagina o que se
passou na minha cabeça?".
Texto Anterior: Há 50 anos: URSS pede coexistência pacífica Próximo Texto: Hoje, criminoso com cargo de "sintonia" articula as ações do grupo em presídio Índice
|