São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Promotor público vive sob ameaça e medo

Lincoln Gakiya só vai e volta do trabalho escoltado pela PM; "com muito medo de morrer", ele anda o tempo todo armado

Alvo dos criminosos do PCC, Gakiya mantém álbum com fotos deles no carro. "Para poder reconhecê-los na rua e também reagir", explica

DO ENVIADO ESPECIAL A PRESIDENTE VENCESLAU

Amigo pessoal do juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, morto a tiros aos 47 anos e a mando do PCC (Primeiro Comando da Capital), em março de 2003, pouco depois de deixar o fórum de Presidente Prudente (565 km de SP), onde era responsável pelos presídios da região oeste do Estado, o promotor público Lincoln Gakiya, 39, luta hoje para escapar do mesmo destino do magistrado.
Revoltados com o estilo "linha-dura" do promotor, responsável por algumas investigações contra o grupo criminoso e as conseqüentes denúncias dos seus integrantes à Justiça, o que quase sempre implica em acréscimo de condenação, os líderes do PCC decretaram, em 2005, a morte de Gakiya.
"Com muito medo de morrer", como frisa quando fala da tensa rotina que enfrenta por causa das ameaças do PCC, o promotor só faz o trajeto casa-trabalho sob uma forte escolta da PM. Aos sábados, domingos e feriados, quando o fórum de Presidente Bernardes (589 km de SP) não abre e a escolta não o acompanha, a segurança do promotor, da mulher e dos filhos é carregada na cintura.
"Nunca imaginaria que o exercício regular da minha função iria causar isso na minha vida", diz Gakiya, que entrou para o Ministério Público com 24 anos e que, hoje, com 400 líderes da facção confinados na Penitenciária 2 de Venceslau, não descarta ser obrigado a tirar o quarto pedido de licença médica por estresse.
"Como sei quem são alguns dos líderes do PCC que querem a minha morte, ando com as fotos de alguns deles no meu carro o tempo todo. Um deles é Tim [Jailton Ferreira dos Santos, que fugiu da prisão de Valparaíso no mês passado e foi recapturado pela polícia do Paraná semana passada]", afirma Gakiya, defensor dos benefícios das videoconferências, que evitariam que presos de alta periculosidade fossem removidos das prisões para ir ao fórum para audiências.
"Eu ainda tenho a proteção do pessoal da PM. E os agentes que trabalham diretamente com esses presos, quem é que cuida deles e de suas famílias? Ninguém. Por isso a cidade vive esse clima de tensão hoje. Quando a turma vê alguém de fora, a suspeita é grande, não tem jeito", explica o promotor, que, desconfiado, só aceitou abrir a porta de sua sala para receber a Folha após constatar, com direito a consulta de antecedentes criminais do repórter, que não eram criminosos que o procuravam no fórum.
"Para evitar que mais pessoas sejam mortas como o doutor Machado, precisamos criar urgentemente as figuras dos juízes e promotores sem rosto, que não aparecem nas ações. A turma do PCC é covarde, nunca hesitaria em atentar contra a nossos familiares", afirma Gakiya, depois de relembrar o pânico vivido durante o jogo entre Brasil e Austrália. "Uma moto parou na porta da casa onde estávamos e anotou a placa do meu carro. Ali acabou a alegria, pois imagina o que se passou na minha cabeça?".


Texto Anterior: Há 50 anos: URSS pede coexistência pacífica
Próximo Texto: Hoje, criminoso com cargo de "sintonia" articula as ações do grupo em presídio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.