São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2000


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PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Para pesquisadores, a obra, achada durante a restauração de uma igreja em João Pessoa, está intacta
Fortaleza do século 16 é descoberta na PB

FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM JOÃO PESSOA

Um grupo de arqueólogos, historiadores e arquitetos descobriu esta semana, em João Pessoa, as muralhas de uma antiga fortaleza construída por espanhóis e portugueses durante a conquista da Paraíba, no século 16.
Eles acreditam que a obra, com cerca de 10 mil metros quadrados de área -conforme a primeira avaliação feita- está intacta e foi preservada porque está soterrada.
As muralhas em pedras calcárias foram identificadas durante o trabalho de restauração da igreja São Frei Pedro Gonçalves.
Segundo a arquiteta Sônia Maria Gonzales, algumas escavações no pátio da igreja apontaram os indícios das muralhas.
As ruínas localizadas no centro velho da capital paraibana são visíveis e, em alguns pontos, atingem entre 8 e 10 metros de altura.
Segundo os historiadores, a fortaleza era quase duas vezes maior que a de Santa Catarina, localizada na cidade de Cabedelo, no litoral norte do Estado.
A obra teria sido utilizada para proteger a população dos ataques de inimigos indígenas.

Alicerce
Hoje, a fortaleza está coberta por mato, lixo, casarões e prédios do início deste século, que foram construídos sobre as muralhas, utilizadas como alicerce.
Os arqueólogos asseguram que as ruínas datam de 1585 a 1634, quando a fortaleza teria sido construída.
O arqueólogo pernambucano Paulo Tadeu Albuquerque, ex-presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira, considera a descoberta muito importante e afirma que, desde 1938, nada tão grandioso foi descoberto no país.
Os arqueólogos e arquitetos asseguram que as muralhas são os vestígios das primeiras ocupações da então capitania da Paraíba.
Durante as escavações, foi descoberta a fonte que os arqueólogos acreditam ter abastecido a população da fortaleza.
Também foram encontrados túneis para drenagem de água, ossos humanos e material em cerâmica. A igreja de São Frei Pedro Gonçalves fazia parte do complexo, segundo os historiadores.

Financiamento
A restauração da igreja tem financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), por meio do Prodetur (Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste).
A recuperação está sob a responsabilidade da Comissão de Desenvolvimento do Centro Histórico, que também recebe financiamento do governo espanhol.
O coordenador da comissão, Cláudio Nogueira, disse que a descoberta das muralhas confirma o que foi relatado por historiadores do passado.
"Eles escreveram sobre a existência de um forte no local onde a cidade começou. Somente agora estamos comprovando o que os historiadores disseram."
O representante do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na Paraíba, Umbelino Peregrino de Albuquerque, disse que é preciso avaliar melhor a descoberta para ter exatidão se ela é mesmo a mais importantes dos últimos 60 anos no Brasil.
Ele afirmou que vai esperar os resultados dos estudos científicos para poder solicitar o tombamento. "Em todo caso, o achado é de valor extraordinário."
Segundo ele, a descoberta, apesar de surpreendente, está muito recente e precisa ser abalizada técnica e cientificamente para compará-la a outras descobertas e, só assim, fazer o tombamento.


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