São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Pesquisa com 169.434 pessoas mostra que 40% dos atendidos por programas sociais têm imóvel e mais de 9 anos de estudo

"Novo excluído" tem casa e é alfabetizado

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ter casa e estudo não impede que alguém caia na condição de exclusão social. É o que diz um levantamento divulgado ontem pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo, que aponta que 4 em cada 10 dos atendidos pelos programas sociais da prefeitura têm perfil diferente do que é tradicionalmente identificado com a pobreza.
A pesquisa foi feita com base em fichas preenchidas, de novembro de 2001 a janeiro deste ano, por 169.434 pessoas beneficiadas pelos programas sociais de garantia de renda da Prefeitura de São Paulo. A cidade tem 96 distritos, sendo que 50 -a maioria nas regiões mais periféricas- já são atendidos pelos programas.
A idéia de que os pobres são somente negros, nordestinos e analfabetos, sempre com muitos filhos e sem moradia, não é verdadeira, mostra a pesquisa. A exclusão social já atinge quem tem mais de nove anos de estudo, casa própria e fez cursos de qualificação profissional. Nascidos no Estado, brancos e com poucos filhos fazem parte desse grupo.
"A exclusão ganhou caráter mais amplo, mais sofisticado. É a democratização da pobreza", disse o secretário Márcio Pochmann.
Dos 25,8 mil atendidos pelo programa Bolsa Trabalho, 20,4 mil nasceram no Estado de São Paulo. Nas cerca de 123 mil famílias atendidas pelo Renda Mínima, 39,3% dos chefes de família são paulistas, 18,2% são baianos e 11,8%, pernambucanos.
O levantamento revelou ainda o aumento da porcentagem de homens, a diminuição do número de dependentes com menos de 15 anos e o aumento da presença de pessoas com mais de 40 anos, se comparada a incidência do novo perfil da exclusão à incidência do perfil tradicional entre os atendidos pelos programas neste ano.
O número de pessoas solteiras, separadas ou viúvas também é muito mais representativo no novo perfil. Entre os "novos excluídos", 91,9% não têm cônjuge.
A pesquisa mostra que uma das principais características do perfil da nova exclusão é a dificuldade de conseguir o primeiro emprego.
Entre os considerados pela pesquisa como "novos excluídos" na categoria "posição no mercado de trabalho de 2002" -de modo geral, jovens com menos de 25 anos-, 77,2% disseram nunca ter trabalhado na vida. "Percebemos que, para quem não tem experiência, é muito mais importante um estágio do que um curso de capacitação", disse Pochmann.
Outra constatação é que os novos excluídos estão mais entre os demitidos do setor terciário (comércio e serviços), enquanto a exclusão tradicional está marcada por um maior número de demissões na indústria.
Segundo o secretário, os dados devem ajudar a redirecionar e integrar ações. "Não temos uma experiência nacional para enfrentar essa realidade. É importante identificar esse novo perfil para traçar políticas sociais adequadas."



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