São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2001

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NATUREZA

Região vive expectativa de receber investimentos no momento em que enfrenta a pior falta de chuva dos últimos 27 anos

Seca e fogo mudam paisagem do Pantanal

FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CORUMBÁ (MS)

O Pantanal está vivendo o momento mais importante de sua história. Na expectativa de receber um volume recorde de investimentos, a região atravessa a pior seca dos últimos 27 anos. Um agravante é que a região está registrando uma série de focos de incêndio, em sua maioria provocados por fazendeiros da região.
Desde o início do ano foram registrados cerca de 3.630 focos na área específica do Pantanal -conhecida como planície pantaneira. Boa parte deles no mês de agosto. Os focos ainda devem continuar até meados de setembro, quando deve voltar a chover.
Com o esvaziamento dos rios e das lagoas, áreas antes inundadas foram tomadas por vegetação, queimada para que o pasto volte a brotar, em geral poucos dias após a passagem do fogo. Medição feita pela Embrapa mostra que o rio Paraguai -o mais importante do Pantanal- atingiu o nível mais baixo dos últimos 27 anos.

Cultura
O maior incêndio registrado no ano ocorreu na semana passada na região de Forte Coimbra, 50 quilômetros ao sul de Corumbá (MS). Até quinta-feira, cem mil hectares haviam sido queimados.
Com o fogo fora de controle, um rebanho de 30 cabeças foi queimado e várias cercas, destruídas. O fogo está provocando ainda deslocamentos de milhares de cabeças de gado e da fauna local.
"A queimada faz parte da cultura do Pantanal, mas causa danos imediatos à fauna, ao processo de assoreamento dos rios, além de deixar a região impraticável para o turismo", diz Alcides Faria, presidente da ONG Ecoa.
Apesar do trabalho constante dos homens do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar Ambiental e do uso de um avião com capacidade para 2.500 litros de água, o controle do incêndio é quase impossível devido ao clima quente e seco e aos fortes ventos.
Na maioria das vezes, o incêndio só acaba quando atinge lagoas e rios. Por causa da grande seca, em muitos casos isso acontece depois de dezenas de quilômetros de destruição.
As queimadas são um exemplo da complexidade do Pantanal e dos vários interesses em conflito na região e fora dela.
Praticamente todos os rios do Pantanal nascem foram dele, na região de planalto da área denominada Bacia do Alto Paraguai.
"O grande risco ao Pantanal está fora daqui, na parte alta", garante Emiko de Resente, chefe geral da Embrapa Pantanal (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Segundo ela, o processo de assoreamento, responsável pelo maior desastre ecológico da região, que ocorreu no rio Taquari, é decorrência da devastação das cabeceiras, ocupadas por fazendas de gado e plantações de soja.
Essa área de planalto no entorno é duas vezes maior do que o Pantanal, dificultando ainda mais a preservação da área.
Os conflitos de interesse tendem a aumentar bastante num breve espaço de tempo, com a chegada de diversos investimentos à região, principalmente a criação de pólos industriais, a construção de uma usina termelétrica, a chegada de hotéis de luxo e a implantação da hidrovia do rio Paraguai (leia texto nesta página).
Para ter uma idéia da importância econômica que a região está ganhando, basta lembrar que o presidente Fernando Henrique Cardoso esteve seis vezes na região desde 1999. Ainda há mais uma visita prevista neste ano, quando ele vai inaugurar o ramal Bolívia-Cuiabá de gás natural.
Os megaempreendimentos chegam à região junto com o Programa Pantanal, o maior projeto ambiental da história do Brasil e que começa a ser implantado em setembro. Custará US$ 400 milhões, que serão gastos em oito anos.
O programa tem o ambicioso objetivo de implantar na Bacia do Alto Paraguai o tão sonhado desenvolvimento sustentável.



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