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PATRIMÔNIO
Com restauração, prédio erguido nos anos 30 ganha nova estrutura que vai abrigar restaurantes e local para eventos
Mercado Municipal abre mezanino hoje
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Mercado Municipal de São
Paulo ganha hoje a maior intervenção arquitetônica na estrutura
desde a sua abertura em 1933: um
mezanino de 2.000 m2, construído
em estrutura de aço sobre as bancas de frutas e alimentos. O novo
espaço será ocupado por oito restaurantes e um espaço para eventos gastronômicos.
Também serão inaugurados a
restauração da fachada e dos vitrais, uma nova iluminação externa, docas para caminhões, um espaço de 1.000 2 para serviços no
subsolo e o sumiço de toda a fiação interna -foram enterrados
fios elétricos e de telefonia, além
de canos de água e gás.
O acesso ao mezanino será feito
por três elevadores, duas escadas
rolantes e duas escadas de aço.
Os oito restaurantes, escolhidos
por licitação, devem ser abertos
até novembro. Em dezembro está
prevista a abertura de outro restaurante, padaria e choperia
-vão ocupar as torres voltadas
para a avenida do Estado.
O custo das obras que serão
inauguradas amanhã foi de R$ 34
milhões, segundo a Secretaria
Municipal de Abastecimento.
Desse valor, R$ 19 milhões já foram pagos, e o restante será quitado entre setembro e outubro, de
acordo com a secretaria.
A obra faz parte do projeto da
prefeitura para a recuperação da
região central, que recebeu um financiamento de US$ 100 milhões
do BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento).
Varanda para os vitrais
O arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva, 71, o autor das mudanças, afirma que não se intimidou
com o fato de o mercado ter sido
projetado por Ramos de Azevedo
(1851-1928), um dos luminares da
arquitetura paulista. "A idéia é
criar um fato novo dentro do
mercado sem perturbar o patrimônio histórico. Fiz uma varanda
para se apreciar melhor o mercado e os murais".
Erguido a 4,8 m do chão, o mezanino não escureceu as alamedas
do mercado no térreo -o piso
nessas áreas foi construído com
vidro translúcido.
O secretário municipal de Abastecimento, Valdemir Garreta, diz
que a requalificação visa levar um
novo público para o mercado -o
plano é manter o espaço aberto 24
horas por dia e ressuscitar a sopa
da madrugada na região central.
"Vamos passar dos 10 mil visitantes por dia para 15 mil", prevê
Garreta.
Precursor dos shoppings
O mercado paulistano é uma espécie única na arquitetura brasileira, segundo a arquiteta Maria
Luiza Dutra, 48, responsável pela
pesquisa histórica da obra.
Não é por causa do estilo, uma
mescla de neoclássico e neobarroco, batizado pelos historiadores
de eclético. É pelo porte -não há
no país nenhum edifício com
12.600 m2 que tenha sido erguido
nos anos 30 para abrigar um mercado com a característica monumental do prédio de São Paulo. "É
um precursor dos hipermercados
e dos shoppings", diz a arquiteta.
O monumento, porém, estava
um caco até a prefeitura decidir
recuperá-lo -as obras começaram em agosto do ano passado.
Havia fiação exposta; frutas e alimentos entravam pela mesma
porta em que o lixo era retirado;
partes da laje no teto ameaçavam
desabar; havia infiltração nas paredes; não existia uma logística
para os 90 caminhões que entram
e saem de lá todos os dias.
"O mercado corria um risco
muito sério de ser interditado",
diz o arquiteto Pedro de Melo Saraiva, 34, que tocou o projeto junto com seu pai e Fernando Mendonça, 32.
Para dar uma ordem no caos, o
trio decidiu que seria necessário
construir uma área de 1.600 m2 no
subsolo para abrigar banheiros,
vestiários para os 1.600 funcionários do mercado e uma sala com
computadores para agronegócios. É pelo subsolo também que
as mercadorias chegam.
"O mercado estava tão caótico
que havia uma linha de esgoto
que passava no eixo do prédio",
narra Melo Saraiva, o pai. Agora, a
linha contorna o prédio. O cheiro
que exala bem na frente do prédio, na rua Cantareira, vem de um
velho ramal de esgoto que será
substituído.
O subsolo foi a parte mais complexa da obra, segundo ele, por
causa do tipo de terreno em que o
mercado foi edificado: a 1,5 m de
profundidade já se encontra água.
A ocupação sem critérios havia
soterrado preciosidades. A maior
delas era a sala de leilões, onde
ocorria o pregão de mercadorias
(ninguém sabe até quando eles
ocorreram). Os azulejos alemães e
belgas da sala haviam sido encobertos por barracas que vendiam
mercadorias a atacadistas durante a madrugada.
Nesse espaço pode-se ver como
era o mercado original, de acordo
com Maria Luiza Dutra. O teto
não é coberto com telhas de vidro,
como acontece na maior parte do
prédio, mas com placas de vidro.
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