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Soberania deve ser preservada, diz ex-diretor do FBI no Brasil
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Carlos Alberto Costa, 53, é
um homem de pensamento rápido, extremamente articulado
e que, às vezes, deixa escapar
uma ou outra mania reconhecida facilmente nos personagens
de romances e filmes policiais.
Às margens do lago Paranoá,
em Brasília, sentado à mesa de
um bar onde falou por quase oito horas ininterruptas, sempre
incomodado pelo gravador da
Folha ["repórteres devem anotar, e não gravar!"], Costa se posicionou sobre a atuação de policiais de diversos órgãos norte-americanos no Brasil.
Ele acredita que a maior
questão nos tratados de cooperação Brasil/EUA sempre será
a da soberania brasileira.
Nascido em Lisboa (Portugal), aos 13 anos, em meio à ditadura de Antonio de Oliveira
Salazar, Costa foi levado com o
pai à América do Norte para viver em Boston, no Estado de
Massachusetts.
Nos EUA, com a ajuda das
pessoas que o haviam salvado,
ao lado do pai, da ira de Salazar,
provavelmente agentes da CIA
(Central Intelligence Agency, a
agência de inteligência dos
EUA), Costa tornou-se cientista político, com especialização
em gestão de negócios internacionais, com MBA em gerenciamento de empresas.
Com cidadania americana,
virou um dos mais conceituados especialistas em assuntos
econômicos e sociais de países
latino-americanos.
Depois de servir em várias
missões do FBI (Federal Bureau of Investigation) mundo
afora, principalmente em ações
de espionagem, ele alcançou a
qualificação de nš 36 dentre os
"top 50" da polícia federal norte-americana e, em 1999, foi
destacado para agir no Brasil.
Por aqui, lotado no escritório
do FBI mantido na embaixada
norte-americana, em Brasília,
Costa ajudou o governo brasileiro em várias missões de inteligência, principalmente a rastrear os bens do ex-juiz Nicolau
dos Santos Neto, a quem chama, com um sotaque estranho
misturado entre o português e
o inglês, de "Laulau".
Para Costa, que deixou a chefia do FBI no Brasil em 2003 e
hoje também tem cidadania
brasileira e é pai de um menino
de cinco anos, a prisão do narcotraficante Juan Carlos Ramírez Abadía em São Paulo, no dia
7, deve ser tratada pelo governo
federal como algo estratégico.
"Ele [Abadía] cometeu um
crime no Brasil: lavagem de dinheiro. Então, antes de extraditá-lo, o vosso país deve fazer
com que ele cumpra pena aqui
e, durante esse período, aproveitar a grande fonte de informação que esse criminoso é. É
um jeito de os órgãos brasileiros demonstrarem isenção de
ação", diz Costa, que se declara
admirador do deputado federal
Fernando Gabeira (PV-RJ).
Segundo a análise de Costa,
quando o Brasil age de maneira
subserviente às grandes nações, como no caso das recentes ações policiais de agentes
norte-americanos em seu território, o país deixa de assumir a
postura de país líder na América do Sul. "Lá fora, o Brasil é a
potência que sempre será."
Ao ser questionado se acredita na fiscalização dos órgãos de
segurança brasileiros sobre o
que fazem os agentes policiais
estrangeiros aqui, Costa ri e diz
não poder emitir opinião. "Veja
o que [Hugo] Chávez fez com os
agentes do DEA: ele os pôs para
correr da Venezuela. Será que
os policiais brasileiros fazem
nos Estados Unidos o que fazem os americanos aqui?"
(AC)
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