São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Soberania deve ser preservada, diz ex-diretor do FBI no Brasil

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Carlos Alberto Costa, 53, é um homem de pensamento rápido, extremamente articulado e que, às vezes, deixa escapar uma ou outra mania reconhecida facilmente nos personagens de romances e filmes policiais.
Às margens do lago Paranoá, em Brasília, sentado à mesa de um bar onde falou por quase oito horas ininterruptas, sempre incomodado pelo gravador da Folha ["repórteres devem anotar, e não gravar!"], Costa se posicionou sobre a atuação de policiais de diversos órgãos norte-americanos no Brasil.
Ele acredita que a maior questão nos tratados de cooperação Brasil/EUA sempre será a da soberania brasileira.
Nascido em Lisboa (Portugal), aos 13 anos, em meio à ditadura de Antonio de Oliveira Salazar, Costa foi levado com o pai à América do Norte para viver em Boston, no Estado de Massachusetts.
Nos EUA, com a ajuda das pessoas que o haviam salvado, ao lado do pai, da ira de Salazar, provavelmente agentes da CIA (Central Intelligence Agency, a agência de inteligência dos EUA), Costa tornou-se cientista político, com especialização em gestão de negócios internacionais, com MBA em gerenciamento de empresas.
Com cidadania americana, virou um dos mais conceituados especialistas em assuntos econômicos e sociais de países latino-americanos.
Depois de servir em várias missões do FBI (Federal Bureau of Investigation) mundo afora, principalmente em ações de espionagem, ele alcançou a qualificação de nš 36 dentre os "top 50" da polícia federal norte-americana e, em 1999, foi destacado para agir no Brasil.
Por aqui, lotado no escritório do FBI mantido na embaixada norte-americana, em Brasília, Costa ajudou o governo brasileiro em várias missões de inteligência, principalmente a rastrear os bens do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, a quem chama, com um sotaque estranho misturado entre o português e o inglês, de "Laulau".
Para Costa, que deixou a chefia do FBI no Brasil em 2003 e hoje também tem cidadania brasileira e é pai de um menino de cinco anos, a prisão do narcotraficante Juan Carlos Ramírez Abadía em São Paulo, no dia 7, deve ser tratada pelo governo federal como algo estratégico.
"Ele [Abadía] cometeu um crime no Brasil: lavagem de dinheiro. Então, antes de extraditá-lo, o vosso país deve fazer com que ele cumpra pena aqui e, durante esse período, aproveitar a grande fonte de informação que esse criminoso é. É um jeito de os órgãos brasileiros demonstrarem isenção de ação", diz Costa, que se declara admirador do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
Segundo a análise de Costa, quando o Brasil age de maneira subserviente às grandes nações, como no caso das recentes ações policiais de agentes norte-americanos em seu território, o país deixa de assumir a postura de país líder na América do Sul. "Lá fora, o Brasil é a potência que sempre será."
Ao ser questionado se acredita na fiscalização dos órgãos de segurança brasileiros sobre o que fazem os agentes policiais estrangeiros aqui, Costa ri e diz não poder emitir opinião. "Veja o que [Hugo] Chávez fez com os agentes do DEA: ele os pôs para correr da Venezuela. Será que os policiais brasileiros fazem nos Estados Unidos o que fazem os americanos aqui?" (AC)


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