São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2008

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JOSÉ ALVES DE MIRA (1926-2008)

O folclore na cabeça, o bigode de açúcar

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim que terminava de encadear as palavras em frases, e as frases, em versos, José Alves de Mira ajeitava o chapéu, "temperava" a viola e puxava da memória a canção que acabara de fazer. Guardava tudo na cabeça.
De suas 25 músicas, nunca rabiscou um verso sequer -não sabia escrever. Mas se lembrava de cada palavra, cada frase, cada verso.
Atento observador, Zé Mira acumulou com o tempo um imenso repertório sobre a vida caipira, que retratou nas músicas. "Ele era a cultura popular viva", lembra Lídia Bernardes, autora de um livro sobre o compositor.
Chamado por muitos de o "último dos tropeiros", Zé Mira era também mestre de folia de reis e de folia divina e capitão de moçambique (dança de origem negra).
Nascido em Cristina (MG), fez jura ainda novo: se tivesse filhos, faria com que todos estudassem. Casado e com uma filha, mudou-se para um sítio em Jambeiro (SP), no Vale do Paraíba. Ultimamente, ia todos os dias de São José dos Campos (SP), onde participava de um grupo folclórico -e onde todos os filhos estudaram-, até o sítio.
Zé cultivava -além do fumo que enrolava para vender no mercado- um bigode que dizia ser "de açúcar", por considerá-lo atraente. Para Nair, ao menos, funcionou. Foram casados por 65 anos.
Morreu sábado, oito meses após a mulher, em São José, de parada cardiorrespiratória, aos 81 anos -que atribuía a um erro de registro. Dizia-se com 83. Deixa nove filhos, 23 netos e cinco bisnetos.

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