FELIPE CARUSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No início da década de 70, os médicos deram ao padre polonês Boleslaw Cisz cerca de dois anos de vida por causa de um problema cardíaco.
Sairia de Roma para dar aulas na Austrália. Como morrer em Roma, na Austrália ou no Brasil para ele era igual, partiu, aos 58, como missionário para o Rio Grande do Sul.
No início de 2010, quase 40 anos após o fatídico diagnóstico, foi reconhecido pela CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) como o padre mais velho em atividade no país.
A mãe fugia da Primeira Guerra Mundial quando deu à luz Boleslaw embaixo de uma carroça. Ela o ensinou a rezar, e ele queria fazer o mesmo pelos outros.
Antes de completar dois anos, o pai morreu. Ganhava as batatas do jantar ao catar os restos de linha que caiam dos teares das fábricas.
Aos 14, queria ser engenheiro, mas sem dinheiro para pagar a universidade, entrou para o seminário.
Formou-se em teologia e filosofia e foi ordenado sacerdote em Varsóvia na Segunda Guerra Mundial, da qual a marca de um tiro na mão não o deixava se esquecer.
Rodou pelo Sul do Brasil e, em 1988, estabeleceu-se em Paraná do Oeste, distrito de Moreira Sales (PR), onde foi o grande responsável pela construção da Igreja Matriz de São Pedro.
A cada aniversário a comunidade cantava a música da data em polonês, que deseja que você viva cem anos. Ele respondia: "Olha, que um dia eu chego lá."
Morreu na quinta, aos 94, de insuficiência cardíaca, em Paraná do Oeste.

coluna.obituario@uol.com.br


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: São Paulo tem o dia mais seco do ano
Índice