São Paulo, Quinta-feira, 26 de Agosto de 1999
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JUSTIÇA
Artigo insultava os judeus
Bancário é condenado por racismo

RONALDO SOARES
da Sucursal do Rio

O bancário Fernando Cezar Egypto Bezerra, 45, foi condenado a dois anos de prisão por crime de racismo contra judeus pela juíza Florentina Ferreira Porto, da 2ª Vara Criminal de Petrópolis (65 km do Rio de Janeiro).
A sentença, de 13 de agosto, se baseou em artigo publicado por Bezerra há dois anos num jornal da cidade, em que ele se refere aos judeus como "câncer do Oriente Médio". No artigo, intitulado "Analogia", o bancário cita "um amigo sírio do Rio de Janeiro" para dizer que "existem três pragas, três ervas daninhas em toda parte do mundo, que são baratas, ratos e judeus".
Em um trecho, diz: "Com o decorrer dos séculos, dos milênios, eles (os judeus) estão aí, infernizando como sempre. Roubam, torturam, matam, destroem, dominam, atacam e sempre são defendidos (...). Quando chegará o dia do castigo final para eles?".
Por ser réu primário e ter bons antecedentes, a juíza substituiu a prisão de Bezerra por uma pena alternativa, de prestação de serviços comunitários. Durante dois anos, ele terá que cumprir uma hora de serviços gratuitos por dia em um asilo. Ele tem direito a recorrer da sentença.
A sentença estabelece ainda multa de um salário mínimo, valor que também será revertido em favor de instituição de caridade.
O artigo causou indignação na comunidade judaica de Petrópolis. O procurador de Justiça aposentado David Borensztajn, 52, entregou cópia do jornal ao Ministério Público, que ofereceu denúncia contra o bancário.
A defesa de Bezerra atribuiu o conteúdo do artigo ao "espírito jocoso do brasileiro", mas a juíza considerou que "nenhum grupo humano se sentiria simplesmente vítima de uma brincadeira ao ser comparado a baratas, ratos e ervas daninhas".
Bezerra trabalha como caixa na agência da Caixa Econômica Federal e, em 97, fundou a Frente Brasil para a Libertação da Palestina, entidade sem fins lucrativos.
O bancário não foi localizado ontem pela Folha. Colegas de trabalho informaram que ele está "de licença há muito tempo". Seu telefone não consta da lista telefônica. O advogado de Bezerra, Arthur Bernardes de Paiva, também não foi localizado.
Para o ex-presidente da Federação Israelita do Rio, Ronaldo Gomlevzky, 50, a condenação por crime de racismo contra judeus no país serve "de exemplo para a sociedade". Os promotores do caso dizem que a decisão é inédita.


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