São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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Prefeitura apura se cano danificado causou deslizamento

Técnicos dizem que vazamento em cano pode ter contribuído para a queda das 4.000 t de terra que obstruíram o túnel Rebouças

Município e associação de moradores afirmam que Companhia Estadual de Águas e Esgotos fez reparo no local, mas empresa nega

ITALO NOGUEIRA
MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO

A Prefeitura do Rio afirmou ter encontrado ontem na favela Cerro Corá, no Cosme Velho (zona sul), um cano danificado, suposta fonte do vazamento que seria uma das causas para o deslizamento de 4.000 toneladas de terra que obstruiu o acesso ao túnel Rebouças e paralisou anteontem a cidade.
O suposto furo na tubulação causou uma disputa entre prefeitura e Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos). Técnicos do Geo-Rio (Instituto Geotécnico do Rio), ligado à prefeitura, e a associação de moradores da favela disseram que o cano, encontrado furado, foi consertado por funcionários da Cedae. A companhia nega que tenha feito reparo no local.
"No interior, quando uma menina faz uma saliência, costumam dizer que é culpa do boto. A Cedae não será o boto dessa história", disse o presidente da empresa, Wagner Victer.
O presidente da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica de Solos e Engenharia Geotécnica), Alberto Sayão, visitou o local e afirmou que a cratera formada no ponto inicial do deslizamento indica que um vazamento "minava" a terra.
"Esse buraco indica que uma água estava minando aquele local havia algum tempo. Essa cavidade côncava é bem característica deste tipo de causa [para o deslizamento]. Com a chuva de terça-feira, facilitou ainda mais o deslizamento", afirmou.
Os técnicos disseram que o volume de água que saía da terra era maior que o esperado para a chuva de ontem e anteontem. Suspeitam que há outra fonte de água desestabilizando o terreno, além da chuva.
Entre as 19h de terça-feira e anteontem, choveu o equivalente a 48 vezes a média diária nos nove primeiros meses do ano. Os primeiros sinais de vulnerabilidade foram dados às 16h de terça-feira. A chuva forte começou às 22h30, quase simultaneamente ao primeiro dos sete fortes deslizamentos.
A localização do suposto cano danificado não soluciona uma das possíveis causas para o acidente. O presidente do Geo-Rio, Mauro Baptista, afirmou que, mesmo um vazamento distante de água, pode tornar instável a terra no local.
"A água pode vir de longe e sair no local mais frágil. Isso é possível. Mas os técnicos da prefeitura vão localizar outros possíveis problema", afirmou. "Pode ser um vazamento, podem ser dois... Podem ser ligações clandestinas e, como são clandestinas, ninguém sabe onde são", disse o secretário municipal de Obras, Eider Dantas.

72 horas
Três mil toneladas de terra sobre o túnel apresentavam instabilidade e eram contidos pelo muro de impacto. Uma retroescavadeira abriu caminho por um ginásio e uma praça da favela para chegar até o local e remover o material.
A chuva, que permaneceu por todo o dia, prejudicou o trabalho de remoção da terra e jogou ainda mais mil toneladas de barro sobre o asfalto. A estimativa de tempo para retirar as 7.000 toneladas de terra (3.000 sobre o túnel e 4.000 obstruindo o acesso a uma galeria) era de 72 horas.
Baptista afirmou que a fiscalização das condições do terreno é "visual". "Quando percebemos um problema, verificamos." Para o engenheiro civil Fábio Teodoro dos Santos, especialista em análise de dados, este critério é "muito subjetivo". "Há formas de prever, a partir do índice pluviométrico e da ocupação do solo, se vai acontecer um deslizamento."


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