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Prefeitura apura se cano danificado causou deslizamento
Técnicos dizem que vazamento em cano pode ter contribuído
para a queda das 4.000 t de terra que obstruíram o túnel Rebouças
Município e associação de
moradores afirmam que
Companhia Estadual de
Águas e Esgotos fez reparo
no local, mas empresa nega
ITALO NOGUEIRA
MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO
A Prefeitura do Rio afirmou
ter encontrado ontem na favela
Cerro Corá, no Cosme Velho
(zona sul), um cano danificado,
suposta fonte do vazamento
que seria uma das causas para o
deslizamento de 4.000 toneladas de terra que obstruiu o
acesso ao túnel Rebouças e paralisou anteontem a cidade.
O suposto furo na tubulação
causou uma disputa entre prefeitura e Cedae (Companhia
Estadual de Águas e Esgotos).
Técnicos do Geo-Rio (Instituto
Geotécnico do Rio), ligado à
prefeitura, e a associação de
moradores da favela disseram
que o cano, encontrado furado,
foi consertado por funcionários
da Cedae. A companhia nega
que tenha feito reparo no local.
"No interior, quando uma
menina faz uma saliência, costumam dizer que é culpa do boto. A Cedae não será o boto dessa história", disse o presidente
da empresa, Wagner Victer.
O presidente da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica de Solos e Engenharia Geotécnica), Alberto Sayão, visitou
o local e afirmou que a cratera
formada no ponto inicial do
deslizamento indica que um
vazamento "minava" a terra.
"Esse buraco indica que uma
água estava minando aquele local havia algum tempo. Essa cavidade côncava é bem característica deste tipo de causa [para
o deslizamento]. Com a chuva
de terça-feira, facilitou ainda
mais o deslizamento", afirmou.
Os técnicos disseram que o
volume de água que saía da terra era maior que o esperado para a chuva de ontem e anteontem. Suspeitam que há outra
fonte de água desestabilizando
o terreno, além da chuva.
Entre as 19h de terça-feira e
anteontem, choveu o equivalente a 48 vezes a média diária
nos nove primeiros meses do
ano. Os primeiros sinais de vulnerabilidade foram dados às
16h de terça-feira. A chuva forte começou às 22h30, quase simultaneamente ao primeiro
dos sete fortes deslizamentos.
A localização do suposto cano danificado não soluciona
uma das possíveis causas para o
acidente. O presidente do Geo-Rio, Mauro Baptista, afirmou
que, mesmo um vazamento
distante de água, pode tornar
instável a terra no local.
"A água pode vir de longe e
sair no local mais frágil. Isso é
possível. Mas os técnicos da
prefeitura vão localizar outros
possíveis problema", afirmou.
"Pode ser um vazamento, podem ser dois... Podem ser ligações clandestinas e, como são
clandestinas, ninguém sabe onde são", disse o secretário municipal de Obras, Eider Dantas.
72 horas
Três mil toneladas de terra
sobre o túnel apresentavam
instabilidade e eram contidos
pelo muro de impacto. Uma retroescavadeira abriu caminho
por um ginásio e uma praça da
favela para chegar até o local e
remover o material.
A chuva, que permaneceu
por todo o dia, prejudicou o trabalho de remoção da terra e jogou ainda mais mil toneladas
de barro sobre o asfalto. A estimativa de tempo para retirar as
7.000 toneladas de terra (3.000
sobre o túnel e 4.000 obstruindo o acesso a uma galeria) era
de 72 horas.
Baptista afirmou que a fiscalização das condições do terreno é "visual". "Quando percebemos um problema, verificamos." Para o engenheiro civil
Fábio Teodoro dos Santos, especialista em análise de dados,
este critério é "muito subjetivo". "Há formas de prever, a
partir do índice pluviométrico
e da ocupação do solo, se vai
acontecer um deslizamento."
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