|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Custo de combater violência exige apoio social e realismo
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Proíbe-se o porte de armas,
por decreto. Proíbe-se que menores de 18 anos saiam às ruas
desacompanhados após a
meia-noite. Aumentam-se impostos e criam-se taxas. Aprova-se legislação de exceção que
permite a demissão sumária de
policiais corruptos.
Essas foram medidas que
acompanharam, a partir dos
anos 1990, a tão falada redução
dos homicídios em Medellín e
Bogotá, cidades colombianas
que, como o Rio, tinham áreas
controladas por criminosos.
Elas exemplificam o custo financeiro e político de programas do tipo, que só podem ser
implantados com apoio da sociedade. Para que o apoio exista, é preciso transparência e um
plano de longo prazo, seguido
por sucessivas administrações,
diz Hugo Acero Velázquez, ex-secretário de Segurança de Bogotá e hoje assessor da Prefeitura de Medellín.
"Uma pergunta que o Rio deve fazer é de quanto dinheiro
precisa para resolver o problema da segurança com programas integrais, preventivos e repressivos. É preciso dizer de
quantos policiais precisa, de
quantas medidas de segurança
e Justiça. Deve dizer quanto isso vale e em quanto tempo vai
executar", aconselha.
Bogotá e Medellín são diferentes -o tráfico domina o crime apenas na segunda. Mas a
retomada de áreas antes proibidas seguiu roteiro que lembra
as UPPs (Unidades de Polícia
Pacificadora) no Rio, só que
com implantação intensiva.
As operações eram precedidas da identificação, com fotos,
dos membros das quadrilhas, e
da previsão de obras de infraestrutura e do policiamento a ser
implantados. O Exército participou de retomadas, mas retirou-se após a neutralização dos
criminosos, diz Acero.
Tanto o colombiano quanto
Mike Trace, ex-czar das drogas
do Reino Unido, presidente do
Consórcio Internacional para
Políticas de Drogas, alertam
para outro requisito: o foco da
política de segurança deve ser a
redução da violência, não o fim
do tráfico, impraticável se há
demanda por drogas.
"É o ponto que apresenta
questões políticas mais difíceis
para as autoridades, porque
não devem pensar em combater todos os aspectos do mercado de drogas, mas seguir conscientemente uma estratégia
que molda o mercado, para que
se torne menos violento", diz.
Velázquez é a favor da descriminação dos usuários, porque
não há lugar nas prisões. Apoia
um debate internacional sobre
a legalização das drogas.
Trace diz que o problema da
estratégia antidrogas americana, de detenções em massa, foi
aumentar dez vezes, para 500
mil, os presos por tráfico. A tendência nessa abordagem é capturar os criminosos menores,
mais expostos e facilmente
substituíveis. Com isso, não há
o efeito pretendido de reduzir o
mercado de drogas.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: PMs fazem protesto por reajuste salarial Índice
|