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SEGURANÇA
Badalo integra conjunto tombado pelo patrimônio; para padre, grupo pensou que peça, feita de ferro e chumbo, era de ouro
Parte de sino histórico é roubada em SP
Marlene Bergamo/Folha Imagem
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Funcionário inspeciona sino histórico, que teve seu badalo roubado |
CHICO DE GOIS
FERNANDO BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma parte da história de São
Paulo foi roubada na madrugada
de ontem e deixou em silêncio
uma igreja e um bairro. O badalo
do "Sino da Independência", que
em 1822 anunciou a proclamação
da Independência do Brasil (daí o
nome), foi retirado da torre da
igreja de São Geraldo, no largo
Padre Péricles, Perdizes, zona
oeste de São Paulo.
O sino foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado
de São Paulo) em junho de 1972.
O conjunto, sino mais badalo,
pesa 2.550 kg e tem 1,70 m de diâmetro e 1,75 m de altura. Dezoito
quilos de ouro foram empregados
no fundição do campanário -o
que leva o padre José Augusto
Schramm Brasil, 52, pároco da
igreja, a desconfiar que o principal objetivo dos ladrões era o ouro, que não dá para ser retirado do
sino. O badalo pesa de 50 a 60 quilos e é feito de ferro e chumbo.
Como era impossível levar o
campanário inteiro, a menos que
dispusessem de um guindaste, os
bandidos acabaram fugindo apenas com o badalo.
Segundo o padre Brasil, os criminosos entraram na igreja de
madrugada, pelos fundos. Depois
de passar pelas duas primeiras
portas, os ladrões desligaram o
alarme e passaram por outras
três, a última das quais dá acesso à
torre. No chão, próximo a uma
delas, havia vestígios de sangue.
Depois disso, os ladrões tiveram
de subir mais 35 metros. A polícia
registrou o fato como furto e pediu uma perícia para o local.
Padre Brasil, que está nessa igreja há 22 anos, contou que os ladrões não levaram mais nada do
local. A igreja ocupa todo o quarteirão da praça, situada no início
da avenida Francisco Matarazzo e
da rua Cardoso de Almeida.
Para o sacerdote, a cobiça teria
sido despertada por uma reportagem, exibida em setembro passado, sobre as comemorações dos
450 anos do aniversário de São
Paulo, em janeiro de 2004. A reportagem fazia referência aos 18
kg de ouro, mas não esclarecia
que o metal estava dissolvido com
o bronze apenas no sino.
A assessoria de imprensa do
Condephaat afirmou que será
aberto um processo para acompanhar a investigação -praxe do
órgão quando há roubo de peças
com valor histórico.
De acordo com a assessoria, por
ser uma peça avulsa, e não um
prédio, a entidade (no caso a igreja) que o detém é responsável por
sua segurança.
O valor histórico do sino é atestado pelo Condephaat. Ele foi
fundido em 1820 pelo artesão
Francisco das Chagas Sampaio.
Sua origem é incerta, mas acredita-se que tenha sido confeccionado na Bahia, que se distinguia na
fabricação de campanários.
O "Sino da Independência" ficou durante muitos anos na catedral da Sé, ao lado de quatro outros campanários menores (sino
das Almas, Meão, Colégio e Vem-vem). Em 1913, com a demolição
da igreja, foi transferido para o
Mosteiro da Luz e, em junho de
1942, doado à igreja de São Geraldo, que construiu uma torre especialmente para recebê-lo. Para
içá-lo, foram necessários um
guindaste e vários homens.
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