|
Próximo Texto | Índice
Fuvest cria bônus, mas não atrai mais alunos carentes
Exame cuja 1ª fase ocorre hoje tem maior participação de estudantes da escola privada
Vestibular 2007 tem maior índice de candidatos que não trabalham desde 2000, apesar do benefício na nota para jovem da rede pública
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano em que a USP lançou
um pacote para beneficiar alunos de escola pública (que incluiu até bônus de 3% na nota
do vestibular), foram os formados da rede privada que avançaram em participação entre os
inscritos no processo seletivo.
No exame, que tem a primeira fase hoje, 57,9% dos 142.656
candidatos são de colégio particular. No ano anterior foram
50,4%. A participação de escolas privadas é a maior desde
2000, quando a USP começou a
adotar ações de inclusão social.
A medida àquela época foi conceder 5.000 isenções da taxa de
inscrição no exame para estudantes da rede pública -número que está em 65 mil hoje.
O vestibular 2007 também
tem, desde 2000, a maior participação de candidatos que não
trabalham e que fizeram ensino
médio matutino. "Havia a expectativa de maior atração de
alunos de escola pública", diz o
vice-reitor da USP, Franco Lajolo, que preside o conselho curador da Fuvest (que aplica a
prova). "Mas era difícil que
ocorresse uma mudança impactante em apenas um ano."
Para Lajolo, uma possível explicação para a queda dos inscritos de escola pública (16,7%
em relação a 2006) é o Prouni,
programa do governo federal
que concedeu neste ano 36.700
bolsas em São Paulo a alunos de
baixa renda em universidades
particulares. "Mas precisamos
fazer estudos para explicar esse
movimento com precisão."
Já para movimentos sociais,
a queda mostra que o pacote de
inclusão é insuficiente. "A USP
quis apenas enrolar. E o povo
cansou de ser enrolado", disse o
coordenador da ONG Educafro, frei David Santos, que defende a reserva de vagas na USP
a alunos "de escola pública, pobres, negros e indígenas".
"Os pobres viram o bônus como esmola e não algo que pode
mudar a realidade", diz Sérgio
Custódio, que coordena o MSU
(Movimento dos Sem-Universidade). "A USP segue com medo de compartilhar a educação
com as classes mais baixas."
Surpresa
"Quando um projeto assim
começa, há uma demanda reprimida. É uma surpresa a queda na Fuvest", disse o coordenador-adjunto do exame da
Unicamp, Renato Pedrosa.
Na Universidade Estadual de
Campinas, que concede pontuação extra a alunos de escola
pública desde o exame 2005,
houve aumento de procura
desse perfil de estudante no
primeiro exame com o benefício (de 31,4% para 34,1%).
Nos vestibulares posteriores,
entretanto, a participação vem
caindo (recuou para 29% neste
ano). "Há o fator Prouni, mas
parece também que a demanda
da escola pública chegou a um
limite. O grupo de pessoas da
rede pública que se sente preparada para o exame da USP ou
da Unicamp não cresce", disse.
Já para o pró-reitor de graduação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
Luiz Eugênio Mello, os alunos
da rede pública vêem dificuldade em se manterem no ensino
superior, mesmo que não haja
mensalidade e o ingresso na
universidade seja facilitado.
A Unifesp oferece cotas desde o vestibular 2005. Mesmo
com o benefício, o número de
inscritos da rede pública caiu
de 26% em 2005 para 22% neste ano no campus central. "Ao
que parece, os alunos da rede
pública estão questionando se
o curso vai trazer benefícios
reais ou se é melhor já cair no
mercado de trabalho", disse.
NA INTERNET - após a prova, veja a
resolução das questões em
www.folha.com.br/063251
PODCAST - ouça o comentário dos
professores do Anglo, a partir das
19h30, em
www.vestibucast.com.br
FOLHA INFORMAÇÕES - ouça, depois das 19h30, o comentário dos
professores pelo
0/xx/11/3471-4000, digite 6 (só o
custo da ligação)
Próximo Texto: Danuza Leão: Os vícios Índice
|