São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Fuvest cria bônus, mas não atrai mais alunos carentes

Exame cuja 1ª fase ocorre hoje tem maior participação de estudantes da escola privada

Vestibular 2007 tem maior índice de candidatos que não trabalham desde 2000, apesar do benefício na nota para jovem da rede pública

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que a USP lançou um pacote para beneficiar alunos de escola pública (que incluiu até bônus de 3% na nota do vestibular), foram os formados da rede privada que avançaram em participação entre os inscritos no processo seletivo.
No exame, que tem a primeira fase hoje, 57,9% dos 142.656 candidatos são de colégio particular. No ano anterior foram 50,4%. A participação de escolas privadas é a maior desde 2000, quando a USP começou a adotar ações de inclusão social. A medida àquela época foi conceder 5.000 isenções da taxa de inscrição no exame para estudantes da rede pública -número que está em 65 mil hoje.
O vestibular 2007 também tem, desde 2000, a maior participação de candidatos que não trabalham e que fizeram ensino médio matutino. "Havia a expectativa de maior atração de alunos de escola pública", diz o vice-reitor da USP, Franco Lajolo, que preside o conselho curador da Fuvest (que aplica a prova). "Mas era difícil que ocorresse uma mudança impactante em apenas um ano."
Para Lajolo, uma possível explicação para a queda dos inscritos de escola pública (16,7% em relação a 2006) é o Prouni, programa do governo federal que concedeu neste ano 36.700 bolsas em São Paulo a alunos de baixa renda em universidades particulares. "Mas precisamos fazer estudos para explicar esse movimento com precisão."
Já para movimentos sociais, a queda mostra que o pacote de inclusão é insuficiente. "A USP quis apenas enrolar. E o povo cansou de ser enrolado", disse o coordenador da ONG Educafro, frei David Santos, que defende a reserva de vagas na USP a alunos "de escola pública, pobres, negros e indígenas".
"Os pobres viram o bônus como esmola e não algo que pode mudar a realidade", diz Sérgio Custódio, que coordena o MSU (Movimento dos Sem-Universidade). "A USP segue com medo de compartilhar a educação com as classes mais baixas."

Surpresa
"Quando um projeto assim começa, há uma demanda reprimida. É uma surpresa a queda na Fuvest", disse o coordenador-adjunto do exame da Unicamp, Renato Pedrosa.
Na Universidade Estadual de Campinas, que concede pontuação extra a alunos de escola pública desde o exame 2005, houve aumento de procura desse perfil de estudante no primeiro exame com o benefício (de 31,4% para 34,1%).
Nos vestibulares posteriores, entretanto, a participação vem caindo (recuou para 29% neste ano). "Há o fator Prouni, mas parece também que a demanda da escola pública chegou a um limite. O grupo de pessoas da rede pública que se sente preparada para o exame da USP ou da Unicamp não cresce", disse.
Já para o pró-reitor de graduação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Luiz Eugênio Mello, os alunos da rede pública vêem dificuldade em se manterem no ensino superior, mesmo que não haja mensalidade e o ingresso na universidade seja facilitado.
A Unifesp oferece cotas desde o vestibular 2005. Mesmo com o benefício, o número de inscritos da rede pública caiu de 26% em 2005 para 22% neste ano no campus central. "Ao que parece, os alunos da rede pública estão questionando se o curso vai trazer benefícios reais ou se é melhor já cair no mercado de trabalho", disse.


NA INTERNET - após a prova, veja a resolução das questões em www.folha.com.br/063251

PODCAST - ouça o comentário dos professores do Anglo, a partir das 19h30, em www.vestibucast.com.br

FOLHA INFORMAÇÕES - ouça, depois das 19h30, o comentário dos professores pelo 0/xx/11/3471-4000, digite 6 (só o custo da ligação)


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