São Paulo, quinta, 26 de novembro de 1998

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CASO DINIZ
Canadense fala sobre seu reencontro com o companheiro após nove anos e se diz preocupada com amigos no Brasil
Sequestradora quer se casar e ter filhos

ALESSANDRA BLANCO
enviada especial ao Canadá

Em sua primeira entrevista desde que deixou a prisão no Brasil, Christine Lamont, 39, a canadense que participou do sequestro do empresário Abílio Diniz em 89 junto com seu companheiro, David Spencer, diz agora que só pensa em sair da prisão, casar com Spencer e ter filhos.
Ela se diz muito preocupada com seus "companheiros" que permanecem na prisão no Brasil.
Leia a seguir a entrevista concedida à Folha, por telefone, da prisão feminina Burnaby, em Abbotsford, a 150 km de Vancouver.

Folha - Como a sra. está se sentindo agora no Canadá?
Christine Lamont -
Desde que cheguei, tudo foi muito emocionante. Havia muitos anos não via minha família e só agora pude conhecer meus sobrinhos.
Folha - Como foi o reencontro com David Spencer?
Christine -
Foi uma situação muito delicada. Depois de nove anos, nos vimos pela primeira vez dentro do camburão. Conseguimos dar um beijo ao entrar, mas, depois, só pudemos falar com a parede do camburão entre nós. No avião, fomos sentados separados.
Folha - Como é a prisão em que a sra. está no Canadá?
Christine -
Estou sendo muito bem tratada. Primeiro Mundo é diferente, mas não quero fazer comparações com o Brasil.
Folha - Quais são as chances de vocês conseguirem liberdade condicional?
Christine -
Estamos entrando imediatamente com o processo. O governo canadense não tem nada contra e não há discriminação aqui conosco. Estou muito otimista e acho que em um ou dois meses poderemos sair.
Folha - A sra. poderá passar o Natal em casa?
Christine -
Não com a liberdade condicional, mas podemos ter uma licença temporária.
Folha - O que a sra. acha dos desembargadores que opinaram pela redução das penas a sentenças que variam de 18 a 23 anos?
Christine -
Se for isso, não é favorável. Depois de tanto tempo não vai resolver nada, e a greve de fome poderá continuar. Nós tínhamos esperança de que essa revisão resultasse na volta à decisão que tivemos na primeira instância, que era uma pena de 8 a 15 anos, e que então todos pudessem ficar com a pena mínima e sair livres, porque já teríamos cumprido.
Folha - A sra. acha que foi injustiçada?
Christine -
Sim. Porque a pena é muito longa, nós somos primários e não poderíamos ter a pena máxima, e o crime teve motivação política -o que é um atenuante. Há quatro anos tenho direito a regime semi-aberto e, agora, à liberdade condicional, mas tudo foi negado.
Folha - A sra. tem tido notícias de seus companheiros no Brasil?
Christine -
Estou muito preocupada com eles. Soube que a Maria Emília está doente no hospital e que o Sérgio já perdeu 10 kg por causa da greve de fome. Mas queria dizer a eles para terem força, porque tenho confiança de que o Brasil resolverá isso. Dez pessoas pagando por tanto tempo já é mais do que o suficiente.
Folha - A sra. se arrepende de ter participado do sequestro?
Christine -
(Silêncio)
Folha - Christine?
Christine -
Espere um pouco, eu preciso pensar...
Christine - (Cinco minutos depois da pergunta) É muito complicado, prefiro não responder.
Folha - Quais são os seus planos quando sair da prisão?
Christine -
Quero reconstruir minha vida com David e ter filhos. Quero voltar para a universidade (ela cursava belas artes). Passamos muito tempo fora, e o mundo aqui no Canadá também mudou.



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