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CASO DINIZ
Canadense fala sobre seu reencontro com o companheiro após nove anos e se diz preocupada com amigos no Brasil
Sequestradora quer se casar e ter filhos
ALESSANDRA BLANCO
enviada especial ao Canadá
Em sua primeira entrevista desde que deixou a prisão no Brasil,
Christine Lamont, 39, a canadense
que participou do sequestro do
empresário Abílio Diniz em 89
junto com seu companheiro, David Spencer, diz agora que só pensa em sair da prisão, casar com
Spencer e ter filhos.
Ela se diz muito preocupada
com seus "companheiros" que
permanecem na prisão no Brasil.
Leia a seguir a entrevista concedida à Folha, por telefone, da prisão feminina Burnaby, em Abbotsford, a 150 km de Vancouver.
Folha - Como a sra. está se sentindo agora no Canadá?
Christine Lamont - Desde que
cheguei, tudo foi muito emocionante. Havia muitos anos não via
minha família e só agora pude conhecer meus sobrinhos.
Folha - Como foi o reencontro
com David Spencer?
Christine - Foi uma situação
muito delicada. Depois de nove
anos, nos vimos pela primeira vez
dentro do camburão. Conseguimos dar um beijo ao entrar, mas,
depois, só pudemos falar com a
parede do camburão entre nós. No
avião, fomos sentados separados.
Folha - Como é a prisão em que a
sra. está no Canadá?
Christine - Estou sendo muito
bem tratada. Primeiro Mundo é
diferente, mas não quero fazer
comparações com o Brasil.
Folha - Quais são as chances de
vocês conseguirem liberdade condicional?
Christine - Estamos entrando
imediatamente com o processo. O
governo canadense não tem nada
contra e não há discriminação
aqui conosco. Estou muito otimista e acho que em um ou dois meses
poderemos sair.
Folha - A sra. poderá passar o Natal em casa?
Christine - Não com a liberdade
condicional, mas podemos ter
uma licença temporária.
Folha - O que a sra. acha dos desembargadores que opinaram pela
redução das penas a sentenças
que variam de 18 a 23 anos?
Christine - Se for isso, não é favorável. Depois de tanto tempo
não vai resolver nada, e a greve de
fome poderá continuar. Nós tínhamos esperança de que essa revisão resultasse na volta à decisão
que tivemos na primeira instância,
que era uma pena de 8 a 15 anos, e
que então todos pudessem ficar
com a pena mínima e sair livres,
porque já teríamos cumprido.
Folha - A sra. acha que foi injustiçada?
Christine - Sim. Porque a pena é
muito longa, nós somos primários
e não poderíamos ter a pena máxima, e o crime teve motivação política -o que é um atenuante. Há
quatro anos tenho direito a regime
semi-aberto e, agora, à liberdade
condicional, mas tudo foi negado.
Folha - A sra. tem tido notícias de
seus companheiros no Brasil?
Christine - Estou muito preocupada com eles. Soube que a Maria Emília está doente no hospital e
que o Sérgio já perdeu 10 kg por
causa da greve de fome. Mas queria dizer a eles para terem força,
porque tenho confiança de que o
Brasil resolverá isso. Dez pessoas
pagando por tanto tempo já é mais
do que o suficiente.
Folha - A sra. se arrepende de ter
participado do sequestro?
Christine - (Silêncio)
Folha - Christine?
Christine - Espere um pouco,
eu preciso pensar...
Christine - (Cinco minutos depois da pergunta) É muito complicado, prefiro não responder.
Folha - Quais são os seus planos
quando sair da prisão?
Christine - Quero reconstruir
minha vida com David e ter filhos.
Quero voltar para a universidade
(ela cursava belas artes). Passamos
muito tempo fora, e o mundo aqui
no Canadá também mudou.
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