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Avó espera apoio do governo do Brasil para visitar Sean
Silvana Bianchi quer obter nos EUA os mesmos direitos dados pela Justiça brasileira ao pai
Tanto avó quanto senador americano veem ligação direta entre decisão do Supremo e ameaça de bloqueio comercial ao Brasil
DA SUCURSAL DO RIO
DE WASHINGTON
Silvana Bianchi, a avó materna de Sean Goldman, 9, afirmou ontem que espera apoio
do governo brasileiro para obter nos EUA os mesmos direitos de visitação assegurados pelo Justiça brasileira a David
Goldman, pai do garoto, no
Brasil. O advogado dela, Sérgio
Tostes, disse que irá procurar o
governo brasileiro para garantir a ida da avó o quanto antes
para os Estados Unidos.
"Se porventura eu não tiver o
apoio do governo brasileiro, o
que é absolutamente impensável, nós vamos contratar um
advogado em Nova York."
Bianchi reclamou que não
conseguiu falar com o neto desde que ele deixou o Brasil com o
pai, o americano David Goldman, na manhã de anteontem.
Segundo ela, o menino levou
dois aparelhos celulares para os
Estados Unidos, mas ambos
permaneciam desligados.
Ela disse que a família passou
a véspera do Natal em casa, sem
nenhuma comemoração. Segundo ela, a irmã de Sean, Chiara, de um ano e cinco meses,
perguntou várias vezes por ele.
A avó voltou a criticar a decisão do ministro Gilmar Mendes, que cassou a liminar que
garantia a presença do menino
no Brasil. "Essa sentença do
Gilmar Mendes é desumana."
Para ela, o menino virou
"moeda de troca" entre Brasil e
Estados Unidos, já que a decisão de Mendes foi dada depois
que o Senado americano suspendeu a votação de uma medida que estende por um ano programa de isenção tarifária que
beneficia as exportações brasileiras. Depois que o retorno de
Sean foi assegurado pela Justiça, o programa foi aprovado.
Do tom dos principais noticiários locais às primeiras declarações públicas desde a chegada de Sean Goldman aos
EUA, o caso do menino ganha
contorno de disputa de países.
Em entrevista à emissora
Fox News anteontem, o senador democrata Frank Lautenberg sugeriu uma relação direta
entre a decisão do Supremo e o
bloqueio comercial do qual ele
foi autor. "Isso [a devolução do
menino ao pai] não aconteceu
porque fomos bonzinhos", disse ele. "Aconteceu porque nós
decidimos ser duros e bloquear
uma medida que daria ao Brasil
o equivalente a US$ 2,5 bilhões
em oportunidades comerciais."
O Itamaraty nega qualquer
relação entre os fatos.
Ontem, o avô paterno do menino disse que a família brasileira de Sean o havia exposto de
propósito ao fazer a entrega do
garoto ao Consulado dos EUA
no Rio em público, num evento
tumultuado. "Aquilo foi um circo de mídia criado por eles."
Já a avó materna afirmou
que Sean chorou muito na chegada ao consulado americano,
na manhã do dia 24. "Dói muito
ver as mentiras que estão sendo
faladas, as coisas que estão sendo inventadas. Escutei falarem
que, quando o Sean entrou no
consulado, ele estava muito feliz, comendo hambúrguer. O
Sean entrou com febre, bebeu
um gole de água e estava tão
nervoso que vomitou tudo que
tinha bebido", disse.
Ela afirmou, porém, que David Goldman foi "gentil e amável" no reencontro com o filho.
"Você fica tranquila que são
cinco anos que estou tentando
essa guarda e vou tratá-lo muito bem", disse o americano, segundo Silvana.
O avô de Sean, Raimundo Ribeiro, ressaltou que o menino
passou a receber tratamento
psicológico no dia seguinte à
morte da mãe, Bruna Bianchi,
no parto da segunda filha. "Ele
tinha duas sessões por semana.
Essa preocupação temos quase
certeza de que não vai existir."
Emocionado, Ribeiro não escondeu a decepção com a decisão da Justiça brasileira e a
atuação da AGU (Advocacia-Geral da União) no caso. "Esse
é um país onde um moleque de
nove anos é condenado à prisão
perpétua. Isso é a maior piada
do mundo."
O avô afirmou também que a
família aguarda ansiosa pelo
reencontro com Sean. "A hora
em que for autorizado a gente
pega o avião e vai. A qualquer
hora, a qualquer momento."
Destino desconhecido
Pai e filho chegaram ao aeroporto internacional de Orlando, na Flórida, às 18h11 (21h11
de Brasília) de anteontem. Viajaram num voo fretado pela
emissora americana NBC.
A família não revelou o destino seguinte da dupla. Um amigo de David disse que era provável que os dois visitassem o
parque temático Disneyworld,
em Orlando.
À NBC David disse que permitirá que a avó materna visite
o neto. "Levará um tempo, mas
não vou negar a eles que se encontrem", disse ele. Sua advogada diz que as regras para visitação estão sendo discutidas.
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