São Paulo, sábado, 26 de dezembro de 2009

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Avó espera apoio do governo do Brasil para visitar Sean

Silvana Bianchi quer obter nos EUA os mesmos direitos dados pela Justiça brasileira ao pai

Tanto avó quanto senador americano veem ligação direta entre decisão do Supremo e ameaça de bloqueio comercial ao Brasil

DA SUCURSAL DO RIO
DE WASHINGTON

Silvana Bianchi, a avó materna de Sean Goldman, 9, afirmou ontem que espera apoio do governo brasileiro para obter nos EUA os mesmos direitos de visitação assegurados pelo Justiça brasileira a David Goldman, pai do garoto, no Brasil. O advogado dela, Sérgio Tostes, disse que irá procurar o governo brasileiro para garantir a ida da avó o quanto antes para os Estados Unidos.
"Se porventura eu não tiver o apoio do governo brasileiro, o que é absolutamente impensável, nós vamos contratar um advogado em Nova York."
Bianchi reclamou que não conseguiu falar com o neto desde que ele deixou o Brasil com o pai, o americano David Goldman, na manhã de anteontem. Segundo ela, o menino levou dois aparelhos celulares para os Estados Unidos, mas ambos permaneciam desligados.
Ela disse que a família passou a véspera do Natal em casa, sem nenhuma comemoração. Segundo ela, a irmã de Sean, Chiara, de um ano e cinco meses, perguntou várias vezes por ele.
A avó voltou a criticar a decisão do ministro Gilmar Mendes, que cassou a liminar que garantia a presença do menino no Brasil. "Essa sentença do Gilmar Mendes é desumana."
Para ela, o menino virou "moeda de troca" entre Brasil e Estados Unidos, já que a decisão de Mendes foi dada depois que o Senado americano suspendeu a votação de uma medida que estende por um ano programa de isenção tarifária que beneficia as exportações brasileiras. Depois que o retorno de Sean foi assegurado pela Justiça, o programa foi aprovado.
Do tom dos principais noticiários locais às primeiras declarações públicas desde a chegada de Sean Goldman aos EUA, o caso do menino ganha contorno de disputa de países.
Em entrevista à emissora Fox News anteontem, o senador democrata Frank Lautenberg sugeriu uma relação direta entre a decisão do Supremo e o bloqueio comercial do qual ele foi autor. "Isso [a devolução do menino ao pai] não aconteceu porque fomos bonzinhos", disse ele. "Aconteceu porque nós decidimos ser duros e bloquear uma medida que daria ao Brasil o equivalente a US$ 2,5 bilhões em oportunidades comerciais."
O Itamaraty nega qualquer relação entre os fatos.
Ontem, o avô paterno do menino disse que a família brasileira de Sean o havia exposto de propósito ao fazer a entrega do garoto ao Consulado dos EUA no Rio em público, num evento tumultuado. "Aquilo foi um circo de mídia criado por eles."
Já a avó materna afirmou que Sean chorou muito na chegada ao consulado americano, na manhã do dia 24. "Dói muito ver as mentiras que estão sendo faladas, as coisas que estão sendo inventadas. Escutei falarem que, quando o Sean entrou no consulado, ele estava muito feliz, comendo hambúrguer. O Sean entrou com febre, bebeu um gole de água e estava tão nervoso que vomitou tudo que tinha bebido", disse.
Ela afirmou, porém, que David Goldman foi "gentil e amável" no reencontro com o filho. "Você fica tranquila que são cinco anos que estou tentando essa guarda e vou tratá-lo muito bem", disse o americano, segundo Silvana.
O avô de Sean, Raimundo Ribeiro, ressaltou que o menino passou a receber tratamento psicológico no dia seguinte à morte da mãe, Bruna Bianchi, no parto da segunda filha. "Ele tinha duas sessões por semana. Essa preocupação temos quase certeza de que não vai existir."
Emocionado, Ribeiro não escondeu a decepção com a decisão da Justiça brasileira e a atuação da AGU (Advocacia-Geral da União) no caso. "Esse é um país onde um moleque de nove anos é condenado à prisão perpétua. Isso é a maior piada do mundo."
O avô afirmou também que a família aguarda ansiosa pelo reencontro com Sean. "A hora em que for autorizado a gente pega o avião e vai. A qualquer hora, a qualquer momento."

Destino desconhecido
Pai e filho chegaram ao aeroporto internacional de Orlando, na Flórida, às 18h11 (21h11 de Brasília) de anteontem. Viajaram num voo fretado pela emissora americana NBC.
A família não revelou o destino seguinte da dupla. Um amigo de David disse que era provável que os dois visitassem o parque temático Disneyworld, em Orlando.
À NBC David disse que permitirá que a avó materna visite o neto. "Levará um tempo, mas não vou negar a eles que se encontrem", disse ele. Sua advogada diz que as regras para visitação estão sendo discutidas.


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