|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Proposta tramita no Senado com apoio do governo
Estados criticam federalização de crimes contra direitos humanos
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O dispositivo que transfere à
Justiça Federal competência para
julgar crimes contra os direitos
humanos tem apoio do governo
Luiz Inácio Lula da Silva, mas não
é consenso no meio jurídico.
A proposta, que já passou pela
Câmara e atualmente tramita no
Senado durante a convocação extraordinária do Congresso, prevê
que, nas hipóteses de "grave violação" de direitos humanos, o
procurador-geral da República
poderá, em qualquer fase do inquérito ou processo, pedir ao STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
que o crime seja julgado pela Justiça Federal. Se aprovada, caberá
ao STJ determinar ou não o deslocamento da competência.
O objetivo, expresso na PEC
(Proposta de Emenda à Constituição) conhecida como reforma do
Judiciário, é "assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes
de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte".
A medida enfrenta resistências,
principalmente no Judiciário e no
Ministério Público dos Estados.
Opositores alegam que a federalização seria uma espécie de "atestado prévio de incompetência"
dos Judiciários estaduais nas causas de direitos humanos.
"Não há dados científicos ou estatísticos que comprovem que a
Justiça Federal é mais eficaz nas
punições", diz o presidente da
Anamatra (Associação Nacional
dos Magistrados da Justiça do
Trabalho), Grijalbo Coutinho.
Para o juiz do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo Ivan
Sartori, trata-se de proposta "absurda", que fere a autonomia dos
Estados e o direito das pessoas de
saber onde serão julgadas.
Há ainda quem ache que a Justiça estadual está mais disseminada, o que facilita as denúncias. "A
federalização acarretará forte abalo no acesso à Justiça", diz o diretor de Cidadania e Direitos Humanos da Ajuris (associação de
juízes do Rio Grande no Sul), João
Ricardo Costa.
Na mesma linha, o coordenador
da Promotoria de Direitos Humanos e Conflitos Agrários do Ministério Público de Minas Gerais,
Afonso Teixeira, repudia a federalização. "Parece prestação de contas a organismos internacionais."
"Risco zero"
O ministro Nilmário Miranda
(Secretaria Especial dos Direitos
Humanos) rebate as críticas e afirma que a proposta traz "risco zero" para a autonomia dos Estados, pois apenas casos "bem debatidos e acompanhados pela
opinião pública" deverão ser submetidos à apreciação do STJ.
"O que coloca em xeque a autonomia dos Estados é o acobertamento de crimes graves praticados por agentes públicos", disse.
O advogado e vice-prefeito de
São Paulo, Hélio Bicudo (PT), militante na área de direitos humanos, também defende a proposta,
encampada por entidades como
as ONGs Human Rights Watch e
Justiça Global e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra). "As Justiças estaduais
são absolutamente corporativas."
Contudo, a proposta atual é
mais tímida do que a PEC sobre o
assunto de 1996, que foi modificada no Congresso. No texto original, o deslocamento de competência poderia ser suscitado ainda
por "órgão federal de defesa dos
direitos humanos", e não só pelo
procurador-geral da República.
"A legislação deveria ser ampliada para que outros órgãos
também pudessem suscitar a federalização", diz a professora de
Direitos Humanos da PUC-SP
Flávia Piovesan.
Texto Anterior: Preso morre durante uma tentativa de fuga Próximo Texto: Violência: Quadrilha rouba e mata dois no Guarujá Índice
|