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Projeto de praça de Niemeyer para Brasília é ilegal, diz Iphan
Órgão do patrimônio nacional considera que projeto fere tombamento da cidade
A praça e um obelisco foram pensados para o aniversário de 50 anos de Brasília; a arquiteta Maria Elisa, filha de Lucio Costa, também critica
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Começou a dar chabu a ideia
do arquiteto Oscar Niemeyer,
101, de presentear Brasília com
uma praça e um obelisco no
aniversário de 50 anos da cidade, a serem completados no
ano que vem. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional) do Distrito
Federal considerou o projeto
ilegal, por ferir, na avaliação do
órgão, um dos artigos do tombamento da cidade: o que proíbe edificação nos canteiros
centrais do Eixo Monumental.
Brasília foi tombada pelo governo distrital em 1987 e pelo
governo federal em 1994. Os
dois tombamentos vetam construções no canteiro central do
Eixo Monumental.
A praça e o obelisco, que pode
ter até cem metros de altura,
seriam a maior intervenção em
Brasília desde a sua inauguração em 1960, diz Niemeyer.
A praça ficaria a cerca de 400
metros da rodoviária de Brasília e seria o elo entre o complexo cultural norte, onde fica o
Teatro Nacional, e o complexo
cultural sul, cujo principal prédio é o da Biblioteca Nacional.
"Não se pode jogar no lixo o
projeto de Lucio Costa", diz Alfredo Gaspal, superintendente
do Iphan no Distrito Federal,
referindo-se ao plano urbanístico sobre o qual foram construídos os prédios e monumentos de Niemeyer. "Esse plano
tem um significado para a história do urbanismo que não pode ser alterada."
Para Gaspal, o projeto é ilegal
porque ocupa o canteiro central. A avaliação do Iphan pode
ser alterada porque é uma opinião de um superintendente,
não um julgamento definitivo.
Niemeyer diz que a praça não
tem nada de ilegal porque mudar é uma característica inerente às cidades. Ele cita o caso
de Paris no século 19, onde prédios históricos foram derrubados para dar lugar aos bulevares, e de Barcelona, cidade que
tem resquícios de edificações
romanas do século 2, prédios
góticos do século 13 e continua
a sofrer intervenções.
"A praça que eu proponho faz
falta a Brasília. Toda cidade
tem uma praça importante onde o povo chega e não esquece
mais. Essa é a praça que vou
continuar defendendo", disse
Niemeyer à Folha.
Não são só os especialistas
que são contra. Enquete feita
pelo jornal "Correio Braziliense" aponta que 73% dos moradores são contra a obra. É a primeira vez que há tamanha unanimidade contra uma obra de
Niemeyer em Brasília.
Vacilo aos 101 anos
A arquiteta Maria Elisa Costa, filha de Lucio, também critica o projeto. Em carta a Niemeyer, ela pondera que a praça altera a visão da rodoviária, um
dos pontos prediletos de Costa:
"nesse ponto, a meu ver, [a praça] interfere sim no projeto urbano do meu pai -ele tinha um
grande carinho pela rodoviária
e por essa fatia contínua onde o
céu encosta no chão".
Maria Elisa, porém, diz que a
sua crítica está sendo usada pelos que querem criar uma animosidade entre Niemeyer e seu
pai. "As pessoas estão usando a
praça para colocar o Oscar contra o Lucio, o que não faz o menor sentido, já que Brasília é
dos dois. Não é por causa de um
vacilo, aos 101 anos, que se vai
crucificar o Oscar."
A filha de Lucio propõe a
criação de uma praça subterrânea, de forma a não obstruir a
visão da rodoviária, e a construção do obelisco fora do Eixo
Monumental. O governo do
Distrito Federal já está construindo uma torre para TV digital, projetada por Niemeyer, fora da área tombada, no caminho para Sobradinho, uma das
cidades satélites.
"Oscar, me perdoa ficar dando palpite, mas creia que além
de proteger a rodoviária como
pensada pelo Lucio, penso em
proteger você das pessoas que
não gostam de Brasília, e que
vão te "alugar" como pretexto
para mexer na legislação do
tombamento, o que abre a cancela para as bobagens dos mal-intencionados", diz na carta.
O arquiteto Glauco Campello, que já presidiu o Iphan, toma o partido de Niemeyer por
uma razão simples: ela acha
que o projeto dele para a cidade
não está concluído.
"O trabalho do Oscar ainda
não acabou. Acho que o tombamento não deveria estabelecer
limitações para o projetista dos
prédios e monumentos do Plano Piloto. Não tem sentido engessar a cidade", defende.
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, já
não está tão certo que construirá a praça e o obelisco. Quando
ele viu o projeto de Niemeyer,
há duas semanas, foi taxativo:
"Maravilhoso! Genial! Vamos
fazer", disse na ocasião.
Ontem, sua assessoria informou que ele vai esperar a evolução da discussão para decidir
o que fazer. A obra, cujo custo
não foi calculado, não faz parte
do Orçamento deste ano.
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