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Acusações contra médico já chegam a 61
Número de denúncias cresceu após Roger Abdelmassih afirmar que anestésico pode ter provocado alucinação sexual
Especialista nega todas as acusações de assédio; médicos dizem desconhecer relatos de fantasias sexuais após uso de medicamento
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Agora são 61 as ex-pacientes
que acusam de crimes sexuais
Roger Abdelmassih, 65, considerado um dos maiores especialistas de fertilização in vitro
no Brasil. Apenas ontem, dez
mulheres procuraram o Ministério Público do Estado de São
Paulo dizendo terem sido vítimas de investidas do médico.
Segundo o promotor José
Reinaldo Carneiro, o número
cresceu após o jornal "O Estado
de S.Paulo" ter publicado anteontem uma entrevista com
Abdelmassih, na qual ele diz
que as mulheres podem ter sofrido alucinações provocadas
por um anestésico usado durante o tratamento, o propofol.
Abdelmassih disse que pesquisas científicas mostram que
o sedativo usado na clínica pode causar, em 3% a 4% das mulheres, um "comportamento
amoroso" e "alucinações com
conotação sexual". Segundo
ele, as pacientes podem "acordar e imaginar coisas".
Médicos ouvidos pela Folha
afirmam que nunca ouviram
relatos de fantasias sexuais de
pacientes que receberam o
propofol. Luiz Antonio Vane,
presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, afirma
que o que existe de literatura
sobre o produto mostra que esse possível comportamento
amoroso é um "evento raríssimo", "que pode ocorrer em
menos de 1% dos pacientes".
Para o anestesista do hospital Sírio-Libanês, Enis Donizetti, o paciente pode sonhar
durante essa indução, mas não
há nenhuma relação do produto com a ocorrência de sonhos
eróticos que possam determinar o comportamento do paciente quando ele acordar.
O propofol é um anestésico
venoso usado em procedimentos em que é necessária anestesia total. Pode durar minutos
ou um tempo prolongado, dependendo da dose. Na bula
brasileira do Diprivan (nome
fantasia), comercializado pela
Astra Zeneca, é descrita a
"desinibição sexual" como
um possível efeito desse
anestésico.
"As mulheres nos procuraram dizendo que se sentiram
revoltadas e ofendidas com a
declaração do médico e resolveram contar o que havia acontecido com elas", afirmou o
promotor Carneiro.
Das mulheres que acusam o
médico, 30 disseram que as
tentativas de abuso sexual teriam ocorrido quando não estavam sedadas -teriam sido
agarradas por ele no consultório, quando estavam sozinhas.
O caso veio a público no dia 9
de janeiro, quando a Folha publicou que o Ministério Público e a polícia estavam investigando o especialista. Naquele
momento, havia oito depoimentos contra o médico.
A estudante de moda Helena
Leardini, 39, é uma das poucas
denunciantes que aceita revelar sua identidade -quase todas exigem anonimato. Ela
conta que procurou a clínica de
Abdelmassih em 2003 e acertou um pagamento de R$ 30
mil por três tentativas de fertilização in vitro.
A primeira vez não deu certo, e ela começou a segunda
tentativa. "Estava sozinha com
o dr. Roger no consultório, sem
sedação. Estava normal, ele tinha me chamado para uma
conversa. Quando ele se levantou, me prensou contra a mesa.
Segurou o meu rosto com as
duas mãos e tentou me beijar
na boca. Cerrei os dentes. Ele
babou em mim, deixou o meu
rosto babado, um nojo", diz.
A ex-paciente afirma ter empurrado o médico. "Saí da clínica muito nervosa. Contei o que
tinha acontecido para a minha
irmã, que é advogada. Ela me
disse que seria muito difícil eu
provar o que dizia, que isso poderia ter ocorrido só comigo. À
noite, contei para o meu marido. Como tínhamos pago R$ 30
mil e não queríamos deixar o
dinheiro para trás, decidimos
continuar o tratamento", disse.
Helena engravidou de gêmeas. "Fiquei muito feliz por
ter engravidado, mas acho que
ele deve pagar pelo que fez."
Ontem, a Folha telefonou 14
vezes para advogados de Abdelmassih, mas ninguém ligou de
volta. Na clínica, informaram
que apenas os advogados poderiam falar sobre o caso.
O médico tem negado todas
as acusações, diz que vai levar
"um caminhão" de testemunhas a seu favor e afirma que
pode haver um complô contra
ele. Sobre as pacientes que afirmam ter sido assediadas por
ele e que continuaram o tratamento, Abdelmassih afirma
que esse comportamento é
"muito estranho".
Colaborou MÁRCIO PINHO, da Reportagem
Local
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