São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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Acusações contra médico já chegam a 61

Número de denúncias cresceu após Roger Abdelmassih afirmar que anestésico pode ter provocado alucinação sexual

Especialista nega todas as acusações de assédio; médicos dizem desconhecer relatos de fantasias sexuais após uso de medicamento

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Agora são 61 as ex-pacientes que acusam de crimes sexuais Roger Abdelmassih, 65, considerado um dos maiores especialistas de fertilização in vitro no Brasil. Apenas ontem, dez mulheres procuraram o Ministério Público do Estado de São Paulo dizendo terem sido vítimas de investidas do médico.
Segundo o promotor José Reinaldo Carneiro, o número cresceu após o jornal "O Estado de S.Paulo" ter publicado anteontem uma entrevista com Abdelmassih, na qual ele diz que as mulheres podem ter sofrido alucinações provocadas por um anestésico usado durante o tratamento, o propofol.
Abdelmassih disse que pesquisas científicas mostram que o sedativo usado na clínica pode causar, em 3% a 4% das mulheres, um "comportamento amoroso" e "alucinações com conotação sexual". Segundo ele, as pacientes podem "acordar e imaginar coisas".
Médicos ouvidos pela Folha afirmam que nunca ouviram relatos de fantasias sexuais de pacientes que receberam o propofol. Luiz Antonio Vane, presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, afirma que o que existe de literatura sobre o produto mostra que esse possível comportamento amoroso é um "evento raríssimo", "que pode ocorrer em menos de 1% dos pacientes".
Para o anestesista do hospital Sírio-Libanês, Enis Donizetti, o paciente pode sonhar durante essa indução, mas não há nenhuma relação do produto com a ocorrência de sonhos eróticos que possam determinar o comportamento do paciente quando ele acordar.
O propofol é um anestésico venoso usado em procedimentos em que é necessária anestesia total. Pode durar minutos ou um tempo prolongado, dependendo da dose. Na bula brasileira do Diprivan (nome fantasia), comercializado pela Astra Zeneca, é descrita a "desinibição sexual" como um possível efeito desse anestésico.
"As mulheres nos procuraram dizendo que se sentiram revoltadas e ofendidas com a declaração do médico e resolveram contar o que havia acontecido com elas", afirmou o promotor Carneiro.
Das mulheres que acusam o médico, 30 disseram que as tentativas de abuso sexual teriam ocorrido quando não estavam sedadas -teriam sido agarradas por ele no consultório, quando estavam sozinhas.
O caso veio a público no dia 9 de janeiro, quando a Folha publicou que o Ministério Público e a polícia estavam investigando o especialista. Naquele momento, havia oito depoimentos contra o médico.
A estudante de moda Helena Leardini, 39, é uma das poucas denunciantes que aceita revelar sua identidade -quase todas exigem anonimato. Ela conta que procurou a clínica de Abdelmassih em 2003 e acertou um pagamento de R$ 30 mil por três tentativas de fertilização in vitro.
A primeira vez não deu certo, e ela começou a segunda tentativa. "Estava sozinha com o dr. Roger no consultório, sem sedação. Estava normal, ele tinha me chamado para uma conversa. Quando ele se levantou, me prensou contra a mesa.
Segurou o meu rosto com as duas mãos e tentou me beijar na boca. Cerrei os dentes. Ele babou em mim, deixou o meu rosto babado, um nojo", diz.
A ex-paciente afirma ter empurrado o médico. "Saí da clínica muito nervosa. Contei o que tinha acontecido para a minha irmã, que é advogada. Ela me disse que seria muito difícil eu provar o que dizia, que isso poderia ter ocorrido só comigo. À noite, contei para o meu marido. Como tínhamos pago R$ 30 mil e não queríamos deixar o dinheiro para trás, decidimos continuar o tratamento", disse.
Helena engravidou de gêmeas. "Fiquei muito feliz por ter engravidado, mas acho que ele deve pagar pelo que fez."
Ontem, a Folha telefonou 14 vezes para advogados de Abdelmassih, mas ninguém ligou de volta. Na clínica, informaram que apenas os advogados poderiam falar sobre o caso.
O médico tem negado todas as acusações, diz que vai levar "um caminhão" de testemunhas a seu favor e afirma que pode haver um complô contra ele. Sobre as pacientes que afirmam ter sido assediadas por ele e que continuaram o tratamento, Abdelmassih afirma que esse comportamento é "muito estranho".


Colaborou MÁRCIO PINHO, da Reportagem Local


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