São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2001

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RIO

Enredo da escola fala sobre Agotime, rainha do Daomé, que foi traída e vendida como escrava para o Brasil

Beija-Flor sai aclamada do sambódromo

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

A Beija-Flor confirmou seu favoritismo e saiu aclamada do sambódromo na primeira etapa do desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
A escola fez um desfile impecável, conseguindo conquistar o público, apesar de seu samba fazer referência a uma figura pouco conhecida da história nacional.
O enredo falava sobre Agotime, rainha do Daomé -atual Benin-, que foi traída e vendida como escrava para o Brasil.
Mesmo tendo saído já de manhã, a partir das 5h45, sem contar com o efeito da iluminação artificial sobre os carros e fantasias, a Beija-Flor, última escola a se apresentar, conseguiu fazer um desfile elegante, no qual o principal mérito da escola foi o seu conjunto.
O único susto aconteceu na concentração, quando o segundo carro alegórico bateu num poste e perdeu parte de sua lateral. O destaque do carro sofreu um ferimento na mão.
A Beija-Flor foi precedida pela Portela, que mais uma vez fez uma apresentação fraca, o que pode colocá-la na mesma situação de risco vivida no ano passado, quando ficou em décimo lugar e quase desceu para o Grupo de Acesso.
Os portelenses desfilaram sem entusiasmo e muitos espaços livres foram formados durante sua evolução, o que acabou provocando uma correria no final, para evitar que a escola perdesse pontos por atraso.
O samba da Portela, "Querer É Poder", tratou da possibilidade de um mundo melhor, idéia que também foi desenvolvida pela Mocidade Independente, só que de uma forma muito mais competitiva, o que a colocou como segunda preferida pelo público, ao lado do Salgueiro.
O carnavalesco da Mocidade, Renato Lage, usou de muitos efeitos de luz e materiais metálicos, com profusão de pratas e dourados, recursos que são sua marca registrada.
O Salgueiro teve a mesma falta de inovação, mas com grande competência na execução do trivial. Os carros mais impactantes, com cascatas de água caindo sobre o corpo seminu de mulheres bonitas, lembravam idéias de antigos Carnavais.
O samba salgueirense é uma homenagem ao Pantanal e tem estribilho fácil de ser decorado, e foi logo cantado pelo público do sambódromo. O mesmo artifício de um refrão de fácil assimilação foi usado pela Tradição, que escolheu homenagear Silvio Santos, apresentador e empresário de TV.
O grande trunfo da Tradição foi a presença do próprio apresentador, que logo no primeiro carro da escola agitava o público como se estivesse no seu auditório.
A única escola a propor algo de novo no desfile foi a Unidos da Tijuca, que trouxe um enredo sobre o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues.
Coerente com o espírito polêmico do homenageado, a escola apresentou uma provocante comissão de frente que simulou o ato sexual na avenida.
A performance do grupo fazia referência a "Vestido de Noiva" e "Bonitinha, Mas Ordinária", dois dos textos consagrados de Nelson. Durante o desfile da escola, houve vários momentos de nus femininos, mas sempre justificados por uma competente adaptação do universo rodrigueano.


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