São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Membros da bateria rasparam cabelo

Ana C. Fernandes/Folha Imagem
O jogador de vôlei Tande (no centro) toca tamborim na bateria da Mocidade Independente; integrantes tiveram que raspar a cabeça


CRISTIAN KLEIN
SUCURSAL DO RIO

Dez integrantes da bateria da Mocidade Independente deixaram de desfilar no sambódromo por causa da exigência de raspar a cabeça. O enredo da escola era sobre a paz universal e, para ficarem parecidos com o pacifista indiano Mahatma Gandhi, todos os integrantes da bateria tiveram que passar máquina zero no cabelo. A obrigação causou polêmica e um grupo de dez ritmistas se recusou a cortar o cabelo.
"Alguns se negaram por vaidade e outros pelo medo de perder o emprego", disse Carlos de Souza Moreira, 50, pouco antes de entrar na avenida, às 4h de ontem.
"Eu não queria cortar. Sei que meu chefe vai me olhar estranho quando voltar ao trabalho. Mas pela Mocidade faço qualquer sacrifício. Já perdi dois empregos por causa da escola, quando decidi desfilar em vez de trabalhar", disse Moreira, que é motorista de ônibus e toca cuíca.
Os 255 homens da bateria da Mocidade rasparam a cabeça, na véspera do desfile, em Padre Miguel. O corte em massa, bancado pela escola, foi feito por dois barbeiros. Até mulheres entraram na fila. Algumas, porém, preferiram passar para o setor de chocalhos, onde puderam se vestir de Indira Gandhi, com um véu cobrindo a cabeça.
Mesmo contrariado, o médico infectologista Ricardo Schiavon, 46, dizia que a honra de tocar na bateria da Mocidade superava tudo. "Somos considerados a melhor bateria de escola de samba do Brasil. Temos que retribuir."
O mestre da bateria José Oliveira, o Coé, tentava amenizar a polêmica. "Ninguém ficou chateado. Isso foi tudo armação para dar ibope. Eu cortei primeiro para dar o exemplo", disse.
O jogador de vôlei Tande, que já tinha desfilado outras três vezes pela escola, mas nunca na bateria, também raspou o cabelo. "Ensaiei durante dez dias, fui a quatro ensaios. Acho que estou preparado. Difícil foi cortar o cabelo", disse, durante a concentração da escola.


Texto Anterior: Paulinho da Viola elogia sambas
Próximo Texto: Samba da Império empolga, e Caprichosos atrasa desfile
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.