São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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GUERRA À GORDURA

Seguindo as mulheres, eles cada vez mais se preocupam com o peso e adotam dietas para emagrecer

Homens correm atrás do corpo perdido

DEBORAH GIANNINI
DA REVISTA DA FOLHA

Sentado em frente a um copo de chope e uma porção de picanha, o engenheiro Juliano Oliveira, 29, explica: "Comecei a fazer dieta há uma semana, mas estou dando um tempo hoje porque encontrei amigos da época da faculdade. Pô, tantos dias comendo salada e você foi aparecer logo agora", diz ele à Revista, em plena happy hour num bar de São Paulo.
A história de Juliano é a de sempre (e de muitos). Depois do casamento, ele viu seu peso saltar de 73 kg para 90 kg. Dezessete quilos fazem estrago em qualquer silhueta -ainda mais na dele, que mede 1,69 m. "Essa história do metrossexual não é a minha, evidentemente. Mas, quando vejo um senhor gordão, penso: "Não quero ficar assim!"."
Há 30 anos, o problema de excesso de peso era praticamente inexistente na população masculina. De 1974 a 2003, porém, saltou de 18,6% para 41% o percentual de brasileiros com IMC (índice de massa corporal) acima de 25, segundo o IBGE. Hoje, na faixa dos 20 aos 44 anos, o sobrepeso já é mais freqüente entre eles do que entre elas.
O problema é que, se boa parte das mulheres vive de regime, a maioria dos homens mal diferencia alface de acelga. Com essa falta de familiaridade, colecionam equívocos e histórias divertidas.
O caso do representante comercial Kleber Bergamasco, 33, e do securitário Sidney Sizanoski, 40, é emblemático: a dupla transformou o regime em competição, com direito a planilha para acompanhar o desempenho dos contendores e prêmios ao vencedor. Havia até regulamento, determinando que se pesassem na mesma balança e com a mesma roupa.
O troféu era um atentado a qualquer dieta. Quem conseguisse emagrecer mais no primeiro mês ganharia uma caixa de cerveja; o vencedor do segundo levaria uma garrafa de uísque. Kleber, 1,76 m e 97,7 kg, levou a cerveja; Sidney, 1,70 m e 97,2 kg, emagreceu 10 kg a mais que o concorrente e ficou com o uísque. "Mas ele jogou sujo, tomou laxante", denuncia Kleber. Sidney admite o golpe. "Foi só para dar uma regulada no intestino, porque regime pesado tranca tudo", defende-se.
A vantagem dos homens é que perdem peso com mais facilidade que as mulheres. Isso ocorre pelo estrógeno, o hormônio feminino. "Por causa dele, a mulher tem mais tecido gorduroso, é curvilínea. E o homem, graças à testosterona, o hormônio masculino, tem mais massa muscular. Esse tecido gorduroso que ele perde é como se não lhe pertencesse. Já a gordura é algo que faz parte do organismo feminino", diz o endocrinologista Antônio Chacra.
Outro fator positivo na dieta masculina é o que Chacra chama de "objetividade do homem". "Eu digo: "Você vai perder 10% do peso". Ele faz as contas e encara como se estivesse no trabalho."
Com a mesma facilidade com que perdem, eles recuperam. A mulher, satisfeita com o resultado, mantém a dieta. Já o homem, após atingir o objetivo, relaxa. "É como se tivesse fechado um negócio", compara. Mas um negócio sem fim, como as mulheres estão cansadas de saber.


Colaborou PAULO SAMPAIO, da Revista da Folha

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