São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Próximo Texto | Índice

CARNAVAL 2006

Carro alegórico entala em viaduto, atrasa alas e faz escola estourar tempo; Salgueiro aborda microcosmos e faz desfile morno

Rocinha quebra e perde o passo na Sapucaí

DA SUCURSAL DO RIO

Nem no Carnaval a Rocinha se livra de sua terrível fase. Se a favela sofre com a retomada da guerra pelo controle do tráfico de drogas, a escola de samba que a representa e desfila com metade de seus componentes vindos da comunidade corre grande risco de voltar à segunda divisão após o desfile de ontem, o segundo da noite inicial do Grupo Especial do Rio.
Aos 15 minutos de desfile, uma chuva forte prejudicou a Acadêmicos da Rocinha. Foi um contratempo pequeno perto dos problemas em duas alegorias -uma, entalada sob um viaduto, quase não entrou na avenida. A outra quebrou e teve de ser reparada. Surgiram enormes buracos entre as alas, o que resultou em um estouro de tempo de seis minutos.
No final do desfile, o som parou por dois minutos. O público, solidário, ajudou a cantar o samba. Mas o desastre já estava consumado. O enredo sobre dinheiro, "Felicidade Não Tem Preço", acabou em tremendo prejuízo.
O carnavalesco da Rocinha, Alex de Souza, lamentou o ocorrido, mas mantém a esperança. "Não sou vidente, o que está nos envelopes só saberemos na quarta. Espero que mereçamos as melhores notas nos outros quesitos para compensar os problemas."
A noite de ontem foi aberta pelo Salgueiro. A tradicional escola pensou grande apostando no pequeno, mas o resultado foi médio. O enredo "Microcosmos: o que os olhos não vêem, o coração sente", sobre elementos invisíveis (ou quase) da natureza e do corpo humano, destacou-se pela originalidade, mas dificilmente dará à agremiação um título -ela está há 13 anos sem vencer.
O Salgueiro enfrentou problemas na última alegoria, "Tudo vale a pena se a vida não é pequena". O engate que ligava as duas partes do carro quebrou pouco depois de ele entrar na avenida, deixando-o parado por alguns minutos e abrindo um buraco no desfile que custará pontos em evolução, conjunto e alegorias e adereços.
Até os destaques foram prejudicados. Vestidos com uma camisa com a palavra "disciplina", seguranças da escola tentaram impedir a aproximação de fotógrafos do casal de mestre-sala e porta-bandeira e da comissão de frente. Alguns profissionais furaram o bloqueio e foram contidos com truculência. Um fotógrafo chegou a ter sua credencial arrancada.
No final, outra confusão: Alcebíades Garcia, herdeiro do poder no Salgueiro depois das mortes de seu pai, Miro, e seu irmão, Maninho, ambos bicheiros, saiu no tapa com o diretor de harmonia da escola no final da apresentação, pois cabos estavam atrapalhando o fechamento dos portões.
O enredo marcou a volta do carnavalesco Renato Lage aos temas científicos e ao estilo arrojado. Conhecido pelos Carnavais futuristas na Mocidade Independente, Lage usou alegorias com representações de glóbulos brancos e vermelhos, tecidos do corpo, espermatozóides e óvulos.
"É o meu Carnaval mais futurista no Salgueiro", disse Lage, que voltou em 2003 à escola onde começou. O Salgueiro também inovou na bateria, uma das mais tradicionalistas. Ela dividiu-se em duas para a madrinha, a atriz Carol Castro, dançar entre as alas. Outra novidade foi a batida apenas com o surdo na hora do refrão "Na batida de um coração".
Terceira escola, a Imperatriz Leopoldinense reafirmou seu estilo: desfile frio e eficiente, com fantasias e alegorias impecáveis, porém repetitivas. A escola da carnavalesca Rosa Magalhães, que tenta ganhar após cinco anos, apresentou "Um por Todos e Todos por Um", sobre a vida do herói italiano Garibaldi, que viveu no Brasil. Um dos destaques foi a comissão de frente, com homens sobre cavalos que eram, na verdade, triciclos. (LUIZ FERNANDO VIANNA, PEDRO SOARES, SERGIO COSTA, SERGIO RANGEL E TALITA FIGUEIREDO)

Próximo Texto: Alckmin evita política no sambódromo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.