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CARNAVAL 2006
Carro alegórico entala em viaduto, atrasa alas e faz escola estourar tempo; Salgueiro aborda microcosmos e faz desfile morno
Rocinha quebra e perde o passo na Sapucaí
DA SUCURSAL DO RIO
Nem no Carnaval a Rocinha se
livra de sua terrível fase. Se a favela sofre com a retomada da guerra
pelo controle do tráfico de drogas,
a escola de samba que a representa e desfila com metade de seus
componentes vindos da comunidade corre grande risco de voltar
à segunda divisão após o desfile
de ontem, o segundo da noite inicial do Grupo Especial do Rio.
Aos 15 minutos de desfile, uma
chuva forte prejudicou a Acadêmicos da Rocinha. Foi um contratempo pequeno perto dos problemas em duas alegorias -uma,
entalada sob um viaduto, quase
não entrou na avenida. A outra
quebrou e teve de ser reparada.
Surgiram enormes buracos entre
as alas, o que resultou em um estouro de tempo de seis minutos.
No final do desfile, o som parou
por dois minutos. O público, solidário, ajudou a cantar o samba.
Mas o desastre já estava consumado. O enredo sobre dinheiro,
"Felicidade Não Tem Preço", acabou em tremendo prejuízo.
O carnavalesco da Rocinha,
Alex de Souza, lamentou o ocorrido, mas mantém a esperança.
"Não sou vidente, o que está nos
envelopes só saberemos na quarta. Espero que mereçamos as melhores notas nos outros quesitos
para compensar os problemas."
A noite de ontem foi aberta pelo
Salgueiro. A tradicional escola
pensou grande apostando no pequeno, mas o resultado foi médio.
O enredo "Microcosmos: o que os
olhos não vêem, o coração sente",
sobre elementos invisíveis (ou
quase) da natureza e do corpo humano, destacou-se pela originalidade, mas dificilmente dará à
agremiação um título -ela está
há 13 anos sem vencer.
O Salgueiro enfrentou problemas na última alegoria, "Tudo vale a pena se a vida não é pequena".
O engate que ligava as duas partes
do carro quebrou pouco depois
de ele entrar na avenida, deixando-o parado por alguns minutos e
abrindo um buraco no desfile que
custará pontos em evolução, conjunto e alegorias e adereços.
Até os destaques foram prejudicados. Vestidos com uma camisa
com a palavra "disciplina", seguranças da escola tentaram impedir a aproximação de fotógrafos
do casal de mestre-sala e porta-bandeira e da comissão de frente.
Alguns profissionais furaram o
bloqueio e foram contidos com
truculência. Um fotógrafo chegou
a ter sua credencial arrancada.
No final, outra confusão: Alcebíades Garcia, herdeiro do poder
no Salgueiro depois das mortes de
seu pai, Miro, e seu irmão, Maninho, ambos bicheiros, saiu no tapa com o diretor de harmonia da
escola no final da apresentação,
pois cabos estavam atrapalhando
o fechamento dos portões.
O enredo marcou a volta do carnavalesco Renato Lage aos temas
científicos e ao estilo arrojado.
Conhecido pelos Carnavais futuristas na Mocidade Independente,
Lage usou alegorias com representações de glóbulos brancos e
vermelhos, tecidos do corpo, espermatozóides e óvulos.
"É o meu Carnaval mais futurista no Salgueiro", disse Lage, que
voltou em 2003 à escola onde começou. O Salgueiro também inovou na bateria, uma das mais tradicionalistas. Ela dividiu-se em
duas para a madrinha, a atriz Carol Castro, dançar entre as alas.
Outra novidade foi a batida apenas com o surdo na hora do refrão
"Na batida de um coração".
Terceira escola, a Imperatriz
Leopoldinense reafirmou seu estilo: desfile frio e eficiente, com
fantasias e alegorias impecáveis,
porém repetitivas. A escola da
carnavalesca Rosa Magalhães,
que tenta ganhar após cinco anos,
apresentou "Um por Todos e Todos por Um", sobre a vida do herói italiano Garibaldi, que viveu
no Brasil. Um dos destaques foi a
comissão de frente, com homens
sobre cavalos que eram, na verdade, triciclos.
(LUIZ FERNANDO VIANNA, PEDRO SOARES, SERGIO COSTA, SERGIO RANGEL E TALITA FIGUEIREDO)
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