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ALEGORIAS
Leandro reedita o samba do crioulo doido
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
No Carnaval pode tudo.
Até colocar no sambódromo
grandes esculturas do governador Geraldo Alckmin e do
prefeito José Serra, ambos
pré-candidatos à presidência pelo PSDB, sorrindo lado
a lado e acenando para o público -os dois têm travado
uma disputa nada tranqüila
nos bastidores do partido.
As imagens dos dois líderes tucanos estavam cercadas por gays musculosos trajando sunguinhas com as
cores do arco-íris. Como batedores, tinham um batalhão de travestis liderados
pela drag queen Salete Campari, que ganha a vida como
clone de Marilyn Monroe.
No chão, desfilava a dublê
de drag e apresentadora
Mamma Bruschetta.
A cena nonsense estava no
carro alegórico que tinha
ainda uma águia, à qual foi
acoplado um bicão (para ficar parecido com um tucano, a ave).
Como que observando toda a cena, os carnavalescos
da agremiação colocaram
uma escultura gigante de
Mário Covas, não esquecendo de posicionar outro travesti emplumado na cabeça
do governador (1930-2001),
que também era tucano.
O que era para ser uma homenagem ao PSDB, partido
ao qual é filiado o próprio
presidente da escola, Leandro Alves Martins, mais parecia o samba do crioulo
doido -expressão tirada do
título de uma canção criada
pelo humorista Stanislaw
Ponte Preta, pseudônimo do
jornalista Sergio Porto
(1923-1968), para ridicularizar enredos carnavalescos
sem sentido.
Nem aplauso nem vaia
O propósito alegado para o
samba da Leandro de Itaquera era enaltecer o rio Tietê e as festas populares do
Estado de São Paulo.
Para quem estava na arquibancada, no entanto, foi
difícil entender o que isso tinha a ver com Serra, Alckmin, tucano e gays, todos
juntos. Na platéia do
Anhembi, ninguém aplaudiu, ninguém vaiou.
O governador Alckmin é
confessadamente um católico conservador, que faz reuniões de catecismo com um
padre ligado à Opus Dei, inimiga dessas coisas de liberdade sexual.
E o prefeito Serra chegou a
pedir que a Leandro de Itaquera retirasse do desfile o
boneco que o representava,
alegando que a decisão havia
sido tomada a sua revelia,
mas, como se viu no desfile,
não obteve sucesso.
Na primeira noite de desfile, Alckmin e Serra se encontraram no camarote oficial
da prefeitura no Anhembi e
mal se falaram. No sábado,
os dois pré-candidatos à
Presidência preferiram não
dar as caras no sambódromo paulistano.
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