São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

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ALEGORIAS

Leandro reedita o samba do crioulo doido

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

No Carnaval pode tudo. Até colocar no sambódromo grandes esculturas do governador Geraldo Alckmin e do prefeito José Serra, ambos pré-candidatos à presidência pelo PSDB, sorrindo lado a lado e acenando para o público -os dois têm travado uma disputa nada tranqüila nos bastidores do partido.
As imagens dos dois líderes tucanos estavam cercadas por gays musculosos trajando sunguinhas com as cores do arco-íris. Como batedores, tinham um batalhão de travestis liderados pela drag queen Salete Campari, que ganha a vida como clone de Marilyn Monroe.
No chão, desfilava a dublê de drag e apresentadora Mamma Bruschetta.
A cena nonsense estava no carro alegórico que tinha ainda uma águia, à qual foi acoplado um bicão (para ficar parecido com um tucano, a ave).
Como que observando toda a cena, os carnavalescos da agremiação colocaram uma escultura gigante de Mário Covas, não esquecendo de posicionar outro travesti emplumado na cabeça do governador (1930-2001), que também era tucano.
O que era para ser uma homenagem ao PSDB, partido ao qual é filiado o próprio presidente da escola, Leandro Alves Martins, mais parecia o samba do crioulo doido -expressão tirada do título de uma canção criada pelo humorista Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sergio Porto (1923-1968), para ridicularizar enredos carnavalescos sem sentido.

Nem aplauso nem vaia
O propósito alegado para o samba da Leandro de Itaquera era enaltecer o rio Tietê e as festas populares do Estado de São Paulo.
Para quem estava na arquibancada, no entanto, foi difícil entender o que isso tinha a ver com Serra, Alckmin, tucano e gays, todos juntos. Na platéia do Anhembi, ninguém aplaudiu, ninguém vaiou.
O governador Alckmin é confessadamente um católico conservador, que faz reuniões de catecismo com um padre ligado à Opus Dei, inimiga dessas coisas de liberdade sexual.
E o prefeito Serra chegou a pedir que a Leandro de Itaquera retirasse do desfile o boneco que o representava, alegando que a decisão havia sido tomada a sua revelia, mas, como se viu no desfile, não obteve sucesso.
Na primeira noite de desfile, Alckmin e Serra se encontraram no camarote oficial da prefeitura no Anhembi e mal se falaram. No sábado, os dois pré-candidatos à Presidência preferiram não dar as caras no sambódromo paulistano.


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